33- AL LIMITE (No limite)

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Piero Martinelli

Hoje permiti que a raiva me dominasse. Assim que vi Jacopo, Césare e outros merdas secando a minha mulher, meu sangue ferveu. Queria matá-los, mas me controlei a duras penas. Passei a noite lutando contra emoções impetuosas, e Lucrézia fez questão de não dar um minuto de trégua, ela sabia como me aborrecer, seu showzinho na frente do Conselho foi a gota d'água.

Lucrézia tem uma capacidade surreal de me tirar do sério. Como é possível alguém ser tão irritante, manipuladora, teimosa, linda, inteligente... Cazzo! Ainda conseguia sentir o cheiro dela nas minhas mãos, sua pele macia, seu sorriso avassalador, seu olhar doce e mortal. Cada pedacinho daquela mulher me deixava louco. Quando ela está perto, os limites se tornam obsoletos, a razão me abandona, meus piores instintos emergem.

Ela me leva ao extremo todos os dias.

Minha esposa é bonita demais, esperta demais, cruel demais, tudo nela é em excesso e eu estou completamente perdido na complexidade da ragazza. No entanto, não posso aceitar ser rendido pelos encantos de Lucrézia. Afinal, todos já acham que sou um fraco. Meu próprio pai achava isso também, e talvez ele estivesse certo. Não passo de um idiota fingindo ser chefe da máfia. Fazia o máximo dia após dia e parece nunca ser o bastante.

O cargo de Don é um fardo mais pesado do que eu suporto carregar. Não sei por quanto tempo vou aguentar antes de sucumbir. Pensei que esse casamento daria certo. Queria alimentar a ilusão de que um dia seria feliz. Quem quero enganar? A felicidade não é para mim.

Tomei mais uma dose de gin. Primeiro veio a sensação de queimação e em seguida a paz que só o álcool me fornecia, ele anestesiava tudo, minha cabeça parava de latejar, a inquietação do meu cerne cessava. A endorfina liberada me fazia sentir tão bem, o prazer efêmero e preponderante me atingia . Não importava se era passageiro. Eu só queria parar de ter pena de mim mesmo, experimentar, nem que fosse por um segundo, a alegria da vida.

Jogado na cama com a garrafa de vidro do lado, passei a mão entre os meus cabelos. As janelas estavam abertas, uma brisa fria percorreu o quarto. Depois de sei lá quantos copos de gin meus sentidos tardavam a responder, meu coração ficou gélido. A euforia sempre tem um preço, era a hora de pagar. Meu mundo desmoronava debaixo de mim e não podia fazer nada a respeito. Precisava de mais, mais um momento de bem-estar. Por que caralhos tenho que carregar essa cruz para todos os lados? Virei o conteúdo do copo e me preparava para remontá-lo de novo, foi nesse instante que a porta se abriu.

Apertei os olhos para ter certeza de que não era alucinação, conferir suas mãos para caso ela tivesse uma arma, não tinha. Na minha frente um anjo, podendo ser caído ou não. Lucrézia é a mulher mais bonita que já conheci, vê-la só de camisola no meu quarto me causou espanto e outras coisas que não fazia ideia do que era.

- O que faz aqui? - Perguntei.

- Vim terminar o que começamos. - Disse com um olhar instigante.

Ela abaixou as alças finas do vestido de cetim e deixou a peça escorregar devagar pelas suas curvas estonteantes. Fiquei boquiaberto com a visão. Não havia nada para esconder seu corpo. Ao descer, o tecido ia revelando os contornos que tanto gostava. Estava estático, não sei se foi por causa do álcool ou da presença da herdeira dos Caccinis. Passaria horas a olhando. Se existe mesmo a perfeição com certeza ela concernia a Lucrézia.

- Cuidado para não babar, amore mio. - A signora se aproximou com passos sutis, demorados e provadores.

Seus seios balançavam conforme ela andava, os cabelos negros e encaracolados seguiam o fluxo de ar, os olhos delas brilhavam de um jeito que eu nunca tinha visto antes, as coxas bem tornadas perpassavam-se uma na outra enquanto vinha ao meu encontro. Analisei cada parte daquela deusa, sedento para tocá-la. Mas, Lucrézia parecia mais imponente que o normal, exalava determinação.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Where stories live. Discover now