22- USATO (Usado)

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Piero Martinelli

Entrei no escritório fulminante de raiva. Lucrézia não tinha o direito de querer me manipular. Que merda ela achava que ia conseguir com isso? Arrgh! Passei a mão em uma estatueta de metal que ficava sobre a mesa de centro e acertei contra a estante de livros. Em instantes, uma prateleira inteira foi em direção ao chão. Eu precisava extravasar. Me servi um bourbon duplo e ainda acrescentei uma generosa dose de vodka. Que se foda! Virei o copo de uma vez, a sensação do álcool queimado na garganta era revigorante.

Cazzo! Não podia negar o quanto aquela mulher me deixava louco, até agora estou com o pau latejando, na espera de meter com força nela. Aquelas malditas curvas, Dio mio! Lucrézia ainda vai ser a minha perdição. Porra, ela tinha que ser tão maquiavélica e ao mesmo tempo tão deliciosa? Agora que senti o gosto da sua boca e seu corpo prontinho para ser meu, vai ser difícil. Como vou resistir a essa ragazza?

- Tu só se fode mesmo, Piero. - Disse para mim mesmo em voz alta e me sentei na cadeira atrás da escrivaninha.

Poderia ter a mulher que quisesse, na hora que quisesse, mas a única que eu quero de verdade só quer me usar para conseguir algo em troca. Babucchione (tapado)! Suspirei fundo, na expectativa de driblar a frustração.

É inegável! Lucrézia desperta impulsos em mim, de um jeito diferente, único de tal forma, coisas que nunca senti antes. O que me deixava mais puto ainda. Eu me deixei enganar, só por causa de um rostinho bonito. Ela foi a única mulher que eu dividi a cama por uma noite inteira. Aliás na nossa noite de núpcias foi a primeira noite que consegui dormir até amanhecer e sem precisar desmaiar de bêbado ou ter pesadelos horríveis. Naquele dia, enquanto eu abraçava seu corpo senti que meus problemas podiam ser resolvidos, que ela me ajudaria. Todavia estava completamente enganado, afinal Lucrézia só queria me usar para atender seus caprichos.

Remontei o copo com mais vodka. E arremessei o peso de papel contra a parede. O objeto se desfez em vários pedaços. O que me deixou um pouco, bem pouco mesmo, mais calmo. Ou talvez seja o efeito do álcool. Me preparava para virar outra dose, quando a porta se abre de supetão e Matteo passa por ela com uma cara nada amigável. Lá vem...

- Que caralhos você fez com a Lucrézia? - Matteo perguntou com o tom alterado, e Matteo nunca levantava a voz.

- Eu não fiz nada. Sua priminha que tentou me levar para cama, para arrancar favores de mim. - Respondi no mesmo tom dele e me levantei para encará- lo.

Guero chegou correndo no escritório. E observou a cena com preocupação.

- O que aconteceu? - Matteo veio em minha direção.

- Não é da sua conta. - Vociferei.

- Ela é minha prima. - Rebateu e ficou a poucos passos de mim.

- Ela é minha esposa, caralho! E não quero que se meta no meu casamento. - Bradei.

- Lembre-se que você não estaria casado se não fosse por mim, seu cabinotto (mauricinho)! - Matteo levou o indicador até minha caixa torácica e cutucou com força. E eu o empurrei de volta.

Ambos cerramos o olhar. Indicando raiva. Ao perceber a tensão entre nós. Guero se colocou no meio.

- Ei...EI! Vocês estão ficando malucos? Camomillati senhores! Camomillati!

Matteo recuou e eu fiz o mesmo. Se meu primo não tivesse intervido, provavelmente estaria nesse momento trocando socos com meu consigliere.

- Você é um cuzão! - Matteo direcionou o insulto a mim antes de sair porta a fora.

- Cornuto! - Gritei para que ele pudesse ouvir mesmo já estando longe.

Voltei- me para Guero que possuía um olhar de reprovação e fazia um gesto de negação com a cabeça.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Where stories live. Discover now