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São Paulo, Brasil 25 de fevereiro de 2021, 11:26:PM
Todos os músculos do meu corpo buscavam se manter de pé enquanto o relógio do árbitro do jogo parecia correr para trás. Depois de uma longa e exaustiva temporada, estávamos finalmente na última rodada, diferente do que queríamos, não estávamos no Maracanã lotado, não tínhamos a torcida gritando nossos nomes a todo instante, não fisicamente mas poderíamos sentir cada mensagem positiva mandada antes da partida. Não dava pra dimensionar o tanto que eu estava feliz por estar ali, por viver uma temporada tão difícil em campo e fora dela, superei dificuldades com o meu corpo, suportei críticas, suportei distâncias, na verdade, distância, distância dela, talvez esse fosse o meu maior desafio, jogar todas as partidas até à passada sem a mulher que eu amo ali no camarote foi o meu maior desafio, jogar sem o apoio dela fisicamente me doeu e me trouxe consequências dentro de campo, afinal, eu sou totalmente movido por ela e ver hoje na última rodada ela ali grávida de um filho meu em um camarote que não é familiar para ela mas com tudo que ela já conhecia me dava forças para continuar de pé quando eu só queria gelo nas pernas e relaxantes musculares. Sempre que eu a olhava ela estava olhando para mim, os quase 80 minutos já de partida.
Não só em mim, mas no celular que assistia o outro jogo que acontecia simultaneamente, um gol lá daria tudo errado aqui, já que estamos perdendo de dois a um. Quando o juiz levantou a placa de sete minutos de acréscimo eu respirei fundo e de novo olhei para ela.
— Vai, você consegue, vida!
E lá se foram mais sete minutos onde tudo passava em câmera lenta, onde tudo parecia que poderia dar errado, as reações dos meus companheiros que assistiam o outro jogo na beira do campo eram confusas e só quando o juiz apitou o final do jogo eu pude correr para a beira do campo para terminar de assistir o jogo que ainda rolava em Porto Alegre, o lance era um lance claro de impedimento mas eu mal conseguia prestar a atenção. O estádio tinha poucas pessoas e escutar o celular era fácil principalmente pela silêncio ensurdecedor que se tornou aquele lugar enorme.
— Tava impedido, Lívia? — ela só confirmou ainda olhando para a tela do celular — Muito, ou tem que traçar linha descalibrada?
— Muito, um corpo inteiro. — respirou fundo — Fiquem calmos... Mais um minuto.
Eu, o Giorgian e o Gabriel até iríamos reclamar mas ela não deixou já nos mandando calar a boca e prestar a atenção no jogo, Will chegou logo atrás dizendo que nós precisávamos sair daqui que já iriam arrumar para a entrega de medalhas, sem ao menos ter finalizado o outro jogo.
Trinta segundos.
Talvez os mais longos da minha vida, talvez os mais angustiantes e com certeza os mais decisivos. Sem eu saber como minha mulher já estava no campo mas eu mal conseguia ver ela, meus olhos estavam grudados na tela do celular da Lívia, tudo dependia de um apito.
