Prólogo

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Agora...

Deluca

Acho que vou morrer.

Sinto o terceiro golpe de seu punho, e acho que algo em meu rosto se quebrou. Sinto a dor se espalhar, sinto meu corpo fraquejar. Acho que vou morrer.

— Seu merdinha, filho da puta. — as mãos que seguram minha camisa, me empurram para trás, e minhas costas se chocam contra o piso gelado. E eu já não consigo enxergar ou ouvir mais nada.

Minha mente escurece, memórias de um garotinho agitado gritando no meio da sala me invadem, uma mãe preocupada confusa com o comportamento da criança, um pai zangado. Muito zangado. Ele sempre está zangado. Um pai que não gosta nada do que vê.

— Chucky!

É ela. É a minha mãe.

— Chucky, filho, Chucky...— dedos envolvem meu rosto, mãos quentes que tentam ser delicadas, mas só me machucam esquentam minhas bochechas, só consigo sentir dor. — Meu amor, fique comigo...fique comigo.

Ela está chorando. Odeio que ela chore. Ele não gosta quando ela chora, o barulho o irrita.

Não chora.

Minha garganta dói quando peço.

— Ele vai matar você se...se chorar. Não chora.

Encaro o teto da sala de estar, e penso nas míseras memórias que tenho da casa que deveria ser minha. Tenho mais lembranças nos lugares em que trabalhei do que nesta aqui, onde eu cresci.

Isso me faz lembrar do último verão, onde eu passei na fazenda dos Evans, onde eu sempre me senti realmente em casa. Onde ninguém bebia mais do que devia, onde ninguém socava os filhos, onde meu pai não era um tremendo de um desgraçado, filho de uma puta.

Então, para me desfazer desses pensamentos infelizes, onde a pessoa que eu mais odeio me traz os piores pesadelos da minha infância, eu penso nela. Penso nos riscos caramelos nos seus olhos, em cada cacho dourado que dificilmente conseguia se desfazer, em como o sorriso dela me traz uma sensação agradável de estar no lugar certo, no momento certo. Penso na sua risada. Eu adoro a risada de Vanessa Winston quase tanto quanto adoro fazê-la sorrir, e é nisso que eu me forço a lembrar naquele momento terrível, na sua risada.

Pense na risada dela, seu idiota.
Pense em como ela fica bonita quando ri.
Pense no frio no estômago que a melodia daquela risada causa em você.

E é assim que me deixo ser levado pelo caminho tortuoso dos hematomas, dos socos, da grosseria da voz daquele imbecil e no odor forte da bebida.

em breve...

Data de estreia
01 • 06 • 2022

Rei Do DesastreWhere stories live. Discover now