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34 | DeLuca

Ao virar as costas pra única garota que me apaixonei em toda a minha vida, eu vi o mundo ficar cinza. Cinza como os olhos de Kendrick, como as tempestades no fim de ano de Middway, cinza como minha vida foi antes de conhecer Vanessa Winston, e agora como está no momento em que desisti. Desisti de qualquer esperança de confiar nela, de novo.

Como pude ser tão estúpido? Confiar em uma garota linda? Onde isso é uma decisão boa?

Jogo minha mochila no chão novamente quando me encontrei sozinho em uma das salas de aula, e não demoro muito para me juntar a ela, no chão frio, sentindo meu corpo inteiro tremer. Meus cotovelos se apoiam em meus joelhos enquanto pergunto a mim mesmo se estou prestes a ter um ataque de pânico, porque acho que estou prestes a surtar, mas não sinto nenhum sintoma familiar.

Normalmente vem como um soco no estômago, parece que meu corpo vai implodir e meu peito dói na expectativa, seguido pela falta de ar, mas nada vem, ainda estou respirando, eu ainda estou...com muita raiva. Com raiva de tudo dar errado na minha vida. Falta pouco para que as únicas pessoas que se importam comigo de verdade desistirem de mim, os Evans já acaram com certas resposabilidades que nem são deles, são dos meus pais. Um pai abusivo e bêbado e uma mãe dependente.

Quando estou prestes a chorar, ouço a voz de Vanessa pelo corredor, e não dispenso a oportunidade de sair pela janela da sala de aula antes que ela me visse ali. Vejo a camionete de Kendrick no estacionamento, mas não procuro por ele. Há uns dias, avisei a ele que voltaria pra casa, mas não passei nem perto do meu bairro. Não ficaria por mais tempo nos Evans porque eles começariam a desconfiar que tem algo errado — de novo — na minha casa. Por sorte, a escola tem uma cama na enfermagem até que bem confortável e vestiários que prestam.

A última vez que vi meus pais, foi na noite da Caça, quando Vanessa me viu levar umas porradas de Chucky no meio da minha sala de estar e me levar pra sua casa. Foi quando ele descobriu que destruí seu carro antes de me encontrar com Kendrick pra Corrida do espantalho. E é pra minha imensa infelicidade que, — após fazê-lo gastar uma grana na oficina com os reparos da sua picape e ter feito a filha do prefeito da cidade ameaçá-lo dentro da sua própria casa, Chucky Hale quer me matar. Me matar mesmo. Não umas porradas como já estou acostumado. Mortinho da Silva.

Ando tão rápido que já estou passando pelo balcão de recepção do restaurante tailandês em que trabalho, e onde tenho desconto no almoço e no jantar. Não dá pra viver muito desta forma, mas é o que vou encarar até pensar em algo que não seja no meu assassinato. Se bem que o céu é até uma opção muito melhor do que isso.

— Como se eu fosse pro céu, de qualquer jeito — penso alto, negando com a cabeça, voltando a esfregar a toalha nas mesas.

— Tá falando sozinha, DeLuca? — Anne faz careta parando de anotar alguma coisa no bloquinho de notas — Assim que eu tenho medo de ficar — resmungou, rasgando uma folha.

— Não enche, não durmo bem há dias.

— Não é da minha conta, — deu de ombros — mas trocar de roupas ajuda, as vezes.

Não estou a olhando, mas sei que ela me analisa de cima abaixo. Minhas opções de roupa estão acabando já que não estou lavando minhas peças, e trouxe pouca coisa quando saí de casa. Minha colega de trabalho tem uma mania muito besta de ser incoveniente, a maior parte do tempo.

— E eu vou te ignorar a partir de agora — me afasto, indo limpar o banheiro.

No outro cômodo, aproveito a falta de movimento para ligar para minha mãe. Estou a ignorando desde que saí de casa, mas provavlemente ela ligou para Dália Evans pra saber se estava por lá. A ligação é tão rápida que desligo antes mesmo dela, ao menos, se despedir. Apenas pergunto se chucky está em casa, hoje, e ela responde que ele viajou depois das duas e já deve estar na estrada.

Rei Do DesastreOnde as histórias ganham vida. Descobre agora