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7|PLANOS
Deluca pov

04:00am, acorde, é o que vem da minha cabeça quando ouço o alarme soar pelo quarto.

Acontece que estou acordado desde ontem à noite, quando comprei o livro com capa rosada e pétalas de flores até às três da madrugada, ou seja, eu só tive uma hora de sono nesse cacete. Não faz muita diferença por conta da insônia, mas eu tinha esperanças de que o livro me desse sono e eu pudesse ter, ao menos uma vez durante esses cinco anos, uma noite bem dormida sem estar dopado de remédios.

Consigo enxergar, mesmo com a visão turva e olhos inchados, a marcação com um post-it azul na página em que parei, quase na metade do livro. Acho que acabei capotando após descobrir que o amor de infância da protagonista trabalha no mesmo restaurante em que o cirurgião gostosão que ela namora a levou para conhecer sua mãe. Percebi que minha primeira experiência com livros seria uma droga quando descobri que a porra do pai dela é um filho da puta.

Com tantos livros com porra de fadas e príncipes ou libertinos, Alessa tinha como preferido um sobre violência doméstica? O que salva são as cenas de sexo, o próprio Atlas e o cirurgião bonitão. Aliás, por que o cirurgião não está na lista de namorados da Alessa? Deixo minhas perguntas guardadas para mais tarde, tomando forças para levantar e começar o dia de acordo com o cronograma na parede.

Após o banho demorado, me livrei do sono e do peso dos músculos do meu corpo que parecia ter dobrado com mais uma noite sem dormir direito. Escolho uma bermuda jeans, camisa azul marinho e calço meus Vans pretos, reparando no skate jogado no canto do quarto por todo o processo. Eu nunca mais o usei...seria uma boa, mesmo pegando carona com Kendrick.

Quando me dei conta, já o arrastava comigo debaixo do braço enquanto descia as escadas e cumprimentava minha mãe, na cozinha. Tendo um pouco mais de sensibilidade e aproveitando que Chucky partiu em outra viagem desconhecida que julgava ser a trabalho, aceitei tomar café com ela, sem objeções. As manhãs sem a presença sombria do seu marido tornava aquela casa um pouco suportável de se viver, mesmo que estes dias sejam raros. Muito raros.

— Como está na escola? — pergunta, enquanto me observava devorar uma panqueca — Problemas com as aulas novas?

— Não, as coisas estão indo bem. Estou conseguindo entender...a maioria das aulas. — dou de ombros, sentindo o olhar penetrante dos castanhos de quem herdei os meus.

— E as consultas? Tem certeza que não quer que eu vá com você? Posso pedir um horário de saída no hospital. — me encolho quando sua mão acaricia o cabelo ondulado que começava a cair  sobre a minha testa.

— Você não vai sair do seu plantão de 72 horas, ou sei lá o quê, no hospital da cidade vizinha apenas para ir até outro hospital me acompanhar em uma consulta. — rebato, com firmeza, finalmente a encarando quando engulo o último pedaço de panqueca — Já tenho 17 anos. Os únicos pacientes da doutora Riggs são crianças de nove, doze anos. Já é vergonhoso demais ser um adolescente no meio de pirralhos, não me faça levar você.

Ela fica em silêncio, a mão afastando um pouco da minha cabeça, e os lábios entreabertos. Parece pensativa, então dá de ombros, reprimindo a boca.

— Se você diz...

— Como assim "se você diz"? — descanso minhas costas no encosto da cadeira, ao seu lado. Ela deu de ombros, uma segunda vez e sorriu. Eu conheço aquele sorriso.

— Você já é um homem crescido, não posso te acompanhar nas consultas, nem nas terapias, nem nas agulhas...

Arregalo os olhos, sentindo meu coração palpitar na garganta. Minha reação faz seu sorriso abrir mais, e uma risada divertida sai de seus lábios.

Rei Do DesastreWhere stories live. Discover now