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8|LISSANDRA ROBBS
Vanessa pov

Tomo o gole do café amargo e deixo a caneca grande na mesa, razoavelmente farta para duas pessoas, do café da manhã. Meu pai está focado nas manchetes do jornal da cidade, avaliando as notícias importantes do dia a procura de qualquer sinal de uma notícia falsa entre os textos de letras miúdas e os títulos em caixa alta. Normalmente, não temos muito tempo para tomar café juntos toda manhã com seus compromissos logo cedo, e quando meu pai cancela as primeiras tarefas do dia para conseguir passar esse tempinho comigo, é porque ele sente que está distante de mim, o que o deixa ainda mais brilhante.

— Soube que o ateliê novo da cidade irá inaugurar, hoje. — comentou, fazendo meus elogios mentais sobre ele se desfazerem em meus pensamentos — Lissandra me perguntou ontem se você realmente vai.

— É claro que vou. — digo assim que engulo o pedaço de bolo — Não perderia isso por nada. Ainda mais com a Lissandra solicitando minha presença.

— Bom, foi você que a incentivou a abrir o próprio ateliê de arte e me convenceu a fazer a reforma daquele casarão antigo para ajudá-la. Você tem uma parcela de crédito nisso tudo.

— Você não se cansa de me bajular, não é? — semicerro os olhos na sua direção, inclinando a cabeça de lado. Meu pai esconde o sorriso quando deixa o jornal de lado e finalmente me encara — É, tipo, uma energia ilimitada reservada apenas para nunca me deixar pra baixo.

— O que seria da sua autoestima sem seu paizão aqui, não é? — gargalhei baixinho enquanto o observo arrastar a cadeira para trás e se levantar, passando por trás de mim sem antes deixar um peteleco no topo da minha cabeça — Vou dar uma passada para a exposição assim que sair da reunião das três e meia.

Concordei terminando meu bolo. Foi no mesmo momento em que os saltos de  Amanda Harrison soaram batucando pelo piso de mármore branco, surgindo para nós na copa.

— Bom dia, sr. Winston. — a assistente do meu pai o cumprimentou como um robô, antes de sorrir gentilmente para mim — Bom dia, Nessa.

— Bom dia, Am. — a chamo pelo apelido, o que fez meu pai fazer um barulho discreto com a boca, parecendo resmungar algo incompreensível — Não vai cumprimentar a Amanda, pai?

— Bom dia, Harrison. — resmungou, estendendo a mão sem encará-la quando a mesma ergueu o portfólio que trouxe para ele com tudo o que deveria fazer durante este dia.

Acontece que o prefeito Winston não se dá muito bem com mulheres da sua faixa etária de idade desde que se divorciou da minha mãe, há três anos atrás. Após a esposa tomar grande parte das coisas que tinha direito — com exceção da minha guarda já que ela só lutaria pela guarda se trouxesse um filho para morar consigo. E como a ex-primeira-dama não tem um filho, eu fiquei com o meu pai —, Mason Winston se livrou da esposa e acabou tendo que lidar com a antiga assistente dela, agora atual secretária, Amanda Harrison, uma mulher bonita e esperta que guarda grande mágoa da sua antiga patroa e certa raiva do patrão rabugento.

Eu o aconselhei a contratar Amanda depois que minha mãe se mudou para Washington, a deixando sem emprego. Harrison é muito boa no que faz e está sempre adiantada nas suas obrigações. Ela, mais do que ninguém, conhece a família Wisnton, e consequentemente, o meu pai. Ela sabe que ele odeia atrasos, é alérgico a frutos do mar, precisa de sua moeda de 25 centavos da sorte antes de fazer um discurso e não conta isso a mais ninguém porque sabe que ele ficaria envergonhado se alguém soubesse. Eles se dariam bem se meu pai não fosse um mau humorado que a vê como uma sósia da ex-esposa.

— Quais são os planos pra hoje? — suspirou ao folhear as folhas bem organizadas da pasta.

Amanda juntou as mãos a frente o corpo, sendo o mais profissional possível.

Rei Do DesastreWhere stories live. Discover now