35.

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DeLuca

Quando me imaginava morrendo muito novo, eu pensava em nuvens, estrelas, pessoas bonitas vestindo roupas brancas e voando com asas nas costas, e acho que quando acordei do que eu achava ser o cochilo mais longo da minha vida, vi algo muito próximo de nuvens e anjos, mas não imaginei que o anjo em questão estivesse me esperando no céu sentada em uma cadeira de metal, usando saltos. 

Percebi que não morri quando uma figura masculina logo atrás do anjo de saltos abriu um sorriso para mim. Reparo na jaqueta de couro marrom e na camisa com "La vida és Chicken Drumsticks" estampado nela. O maldito é um perito criminal adulto com mais de 30 anos e ainda se veste como um adolescente rebelde dos anos 80.

— Bem-vindo de volta aos vivos, garotão! — ele comemora alto, o que faz minha cabeça latejar.

— Não o assuste! — há outra voz na sala, o anjo de salto alto que, obviamente, só podia ser de Monalisa Greco. Os olhos mais azuis que já vi. Cabelos platinados. Roupas claras. — Já chamei a enfermeira, tá bom, coração? Você vai ficar legal.

Quando tento me mexer, meu corpo inteiro dói, e então consigo relembrar, aos poucos, de tudo o que aconteceu comigo nas últimas horas — ou dias, sabe se lá há quanto tempo estou nesta cama de hospital. Eu lembro dos gritos da minha mãe. De Chucky por alguma razão, não ter ido viajar. Dele me pegar de jeito e me encher de porrada, lembro de sentir meus ossos quebrando, da visão sumindo. O que não faz sentido é ter meus provavéis salvadores aqui, comigo.

— Mona, o que...—  encaro James, outra vez —  O que está acontecendo? O que fazem aqui?

— Sua mãe ligou para o James assim que soube que Chucky não havia viajado. Ele desconfiava que você fosse até a casa caso soubesse que ele não estava na cidade. Demorou um pouco para chegarmos em Middway, mas James já havia ligado pra uns amigos de cidade mais próximas, e chegaram há tempo de deter o seu pai —  os dedos macios dela afagam meu cabelo — Você está seguro, agora

—  Poderia estar seguro há muito tempo. —  James retruca em um tom mais baixo que disfarçava um pouco a mágoa e raiva sobre o assunto.

— James, isso não é hora...

—  Não, Mona, ele...ele está certo. Eu tive muitas chances de ter evitado.

Um  silêncio se seguiu até James voltar a falar.

—  Não importa mais, mesmo —  ele suspira, descruzando os braços e indo até o lado de Mona, ambos me observando com um sorriso gentil —  Você está seguro, Luca. Está com a gente, agora. 

E naquele momento, eu senti. Senti, que pela primeira vez em toda a minha vida miserável, que eu estava mesmo seguro disto. Os pesadelos acabaram, e sinto que posso respirar direito finalmente.

O mês de setembro foi o mais louco de todos. Depois que acordei, minha veio me visitar, ela confessou que foi ela que ligou para James quando soube que eu corria perigo com o Chucky, e que por mais que amasse incompreensívelmente ele, não suportaria viver sem mim,  se culpando por ter deixado que algo pior acontencesse. Ela ainda estava muito abalada em me ver naquele estado e por não ter tomado uma iniciativa antes.  Tentei consolá-la de alguma forma, mas nós dois sabemos que só vamos nos recuperar de todos esses anos sobrevivendo com Chucky Hale com o tempo. Em breve, em um dia próximo, essa parte terrível da nossa família vai ser apenas uma memória ruim, distante das nossas realidades.

Mando a décima mensagem para Kendrick. Ele é o único que pode me tirar do meu mais novo pesadelo: Cidade nova, escola nova, sem meu melhor amigo por perto. Eu não acredito que James teve essa nada brilhante idéia. Eu poderia ficar com os Evans até terminar o ensino médio, mas não, naninanão, ele quis fazer um test drive de paizão comigo e me matricular na escola em que ele estudou e teve muitas aventuras, e Monalisa que deveria ser meu anjo da guarda, concordou como o homem que ela chama de benzinho, já que seria bom pra mim ter um recomeço em um lugar diferente e longe dos ambientes que trouxeram más lembranças.

Rei Do DesastreWhere stories live. Discover now