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4|PRIMEIRO DIA DE AULA
DeLuca pov

Desço as escadas quando já passa das 7:30 da manhã. Reparo na última porta do corredor do primeiro andar fechada impedindo que a única fonte de luz do corredor dos fundos ilumine aquela parte. O cheiro do bacon me atrai, mas não sinto a mínima vontade de ficar para o café da manhã, mesmo que ele seja recebido com o sorriso quase seguro da mulher que os prepara.

— Bom dia. — ela cumprimenta, despejando ovos fritos em um prato, no balcão. O sorriso não se apaga, mas suas mãos estão trêmulas.

— Bom dia. — aceno, deixando que meus pés se deixem levar para mais perto. Em consequência, meu estômago ronca, mas tenho mais o que fazer do que esperar que o homem trancado no escritório do corredor escuro apareça para acabar com o meu dia — O Chucky já chegou?

— Está no escritório.

— Ótimo. — ajeito as alças da mochila, chacoalhando o chaveiro entre os dedos da mão.

— Não chame ele assim, filho — ela pede. Os cabelos castanhos mal alcançando os ombros. Ele disse pra cortar. — É o seu pai.

— Ele não faz questão de ser meu pai, então...não, ele não é. — reprimo a boca, saindo logo do cômodo — Vou dormir nos Evans, hoje. Tchau.

Ignoro sua voz atrás de mim, fechando a porta e descendo a pequena escada da frente da casa.

— Vamos lá, Marthinha! — chacoalho, de novo o chaveiro antes de encaixar as chaves e acionar a ignição da lambreta recém restaurada.

A chuva depois das cinco da manhã durou no máximo uns dez minutos. Foi quando meus olhos pesaram teimosamente e eu tirei um cochilo na cadeira da escrivaninha e caí da mesma quando outro alarme soou, às seis. De qualquer forma, foi uma conquista. Trinta minutos de sono. A doutora Riggs vai me dar um sermão daqueles. Não é de se admirar já que sou o único dos quarenta pacientes dela que consegue fazê-la ter um colapso nervoso toda consulta do mês.

Sorrio ao perceber que já estou nas redondezas das terras rurais Evans-Jones. A porteira está aberta, e aceno para o senhor Jones quando passo por ele.

— Ela vai amar, DeLuca! — ele sorri animado, ao me ver na lambreta e se afastar até as máquinas rurais.

Paro em frente a casa dos Evans, apertando a buzina exageradamente alta de Martha. Continuo a buzinar até ouvir a voz impaciente de Kristian e de Dália Evans, só paro quando o cara de coturnos de couro surge na varanda com uma cara de quem vai xingar.

— Primeiro dia, irmãozão! — comeco a sorrir, adorando a careta que ele faz.

— Mas que porra é essa, DeLuca? — desce as escadas, encarando a lambreta como se fosse um alienígena. Para alguém que odeia mandar mensagens no telefone, coleciona coturnos e vive na cidade mais antiquada da região, Kendrick Evans é uma cara chato com coisas velhas, principalmente lambretas amarelas, o que será por pouco tempo já que a lambreta é de alguém que lhe interessa bastante.

— Ué, uma lambreta. Eu a chamo de Martha. — aliso o banco de couro como um pai orgulhoso, o que já é de se esperar, a tinta ficou perfeita como se estivesse acabado de sair da loja, em primeira mão.

— Martha?

— Sim. Martha. Combina com ela. Essa belezinha custou menos de quatrocentas pratas.

Rei Do DesastreWhere stories live. Discover now