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23|CREPÚSCULO
Deluca pov

Você já agiu, alguma vez, feito um idiota por simples impulso de medo?

Tipo, você sente que está fodido e aquela pessoa está ali, sem propósito, apenas para lhe foder mais ainda — e não, não no bom sentido — e você precisa tirá-la dali antes que você vire um pedaço de carne humana totalmente fodido, então você age com grosseria, grita como um imbecil do caralho apenas para que ela se afaste o mais rápido possível?

Pois, então.

Eu fui um imbecil do caralho com Vanessa Winston.

E posso estar agindo, novamente, por impulsos nervosos, impulsos ansiosos que me impedem de pensar como uma pessoa civilizada. Impulsos que me fizeram vir até aqui, até esse muro alto coberto por uma grama verde — de segurança duvidosa por não ter nem uma cerca elétrica —, impulsos que não me fazem ser nada civilizado. Nada civilizado, eu digo, expulsar minha namorada falsa do meu quarto, passar pelo sistema de segurança da casa dela pra pedir desculpas, arruinar minha segunda impressão com meu sogro falso invadido a cada dele pra ver sua filha escondido...coisas assim.

— Se não tem cerca de segurança, tem cachorro? — me sento sobre o muro, passando a perna para o lado de dentro da propriedade. Por azar, minhas respostas são rapidamente respondidas quando uma coisa grande, marrom, de quatro patas vem correndo arranhando o muro rosnando e latindo alto — Espera, espera! Não! Não! Cachorrinho mal! Cachorrinho mal! — exclamo entre os latidos — Jesus Cristo! Socorro!

Meu coração quase sai pela boca quando a segurança zangada dobra a esquina da mansão, correndo. Seus olhos tem uma marcação ousada, destacando seu olhar de quem vai me jogar pelo muro pra fora e um rijab preto da cor da sua farda. Ela tem um cacetete? Ela tem um cacetete.

— Aí, garoto! — ela quase rosnou tão bem quanto o cachorro — Desça já daí antes que eu chame os outros seguranças, agora!

— Como eu vou descer com esse filhote de Cérbero querendo arrancar minhas entranhas?!

Cravo meus dedos sobre os tijolos coloniais, sentado ali feito uma estátua, uma perna de cada lado do muro alto, ficando tonto só de pensar em olhar pra baixo e ver o monstro que me aguardava, rosnando — Eu estou falando da carrancuda, é claro.

Ouço outros passos ofegantes se aproximarem, e penso ser mais seguranças quando me dou conta de alguém me chamando, totalmente alarmado.

— Senho Deluca? — É Gil, o motorista baixinho e bochechudo de Vanessa, que me arriscou nossa recém amizade ao me fazer perder três vezes seguidas no Uno — Senhor Deluca, o que está fazendo aí?

— Gil! Eu não consigo descer! — exclamo uma segunda vez, fechando os olhos fortemente.

— E-eu vou pegar uma escada!

Me desequilibro no muro quando Vanessa corre para fora da casa, encarando tudo aquilo — a segurança, o cachorro latindo e seu motorista correndo com uma escada sobre os ombros — com uma confusão que a deixa a adorável, eu até provocaria, mas não estou em uma posição de brincadeiras, no momento.

— Por Deus! O que está acontecendo aqu...— ela segue o olhar de todos ali, erguendo-o para o alto, bem onde estou, e eu poderia fazer qualquer coisa pra amenizar a situação, mas apenas sorri de orelha a orelha como se fosse uma criança travessa sendo descoberta com sua travessura — Deluca?!

Rei Do DesastreOnde as histórias ganham vida. Descobre agora