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17|NAMORADOS FALSOS
Deluca Pov

Ter Vanessa Winston sorrindo para mim naquele terraço enquanto beijo os nós dos nossos mindinhos é a última possibilidade que imaginei de terminar aquele dia tortuoso no hospital Middway. Os cachos loiros bagunçavam com o vento e é estranhamente reconfortante estarmos vestindo o mesmo tom de azul em nossas roupas.

Não imaginei que ela pudesse aceitar tão bem tudo que fiz Riggs contar. Normalmente, quando alguém descobre sobre o déficit, começam a me encarar como se eu fosse um alienígena que não sabe falar, ouvir ou se movimentar. Qualquer reação minha é relacionada às minhas condições, se eu como de um jeito é porque tenho TDAH, se eu converso de um jeito é também porque eu tenho TDAH, se eu não converso e resolvo ficar quieto é pela porra do TDAH.

É um saco.
E isso me persegue.

Por isso tento esconder, por isso eu mascaro, porque não quero que me vejam como alguém que precisa de ajuda e atenção a mais, que não sabe se virar sozinho ou que precisa ser controlado. Eu escolhi, há muitos anos, ser o DeLuca que já trampou pela cidade inteira, que não entende as piadas e é um bobão infantil, porque foi sendo esse bobão que eu consegui que as pessoas me enxergassem como se eu não fosse um extraterrestre.

— Somos péssimos cupidos, sabia? — eu digo, após um momento de silêncio com nossa promessa. Por instantes, aproveitamos o vento gélido e as luzes brilhantes da cidade lá embaixo.

— Nós somos, não somos? — Vanessa sorri, encostando seu ombro com o meu enquanto apoiamos os cotovelos sobre o parapeito do terraço — Alessa vai pedir desculpas, não sei quando, mas ela vai.

— Você soube do jantar que os Jones e Evans irão fazer pra resolver o problema nos negócios da fazenda? — ela concorda — É a nossa chance. Se eles se acertarem, vamos oficializar o lance do namoro falso?

Seu sorriso vacilou, um pouco e eu soube que tinha algo errado.

— Sobre isso...

Eu bufo, a olhando nos olhos.

— Quem é o fodido?

— Como, quem é o fodido?

— Quem é o cara que você tá saindo? Eu conheço esse olhar de quem fez algo e está se culpando por isso. — explico, empurrando seu ombro de leve. A tensão no rosto dela suavizou e os olhos percorreram pela cidade.

— Não posso dizer ainda, estamos indo devagar. N-não é um namoro. — Afasto alguns fios do seu rosto, um gesto que já me acostumei a fazê-lo, e ela também. — Está zangado? Sei que falamos sobre não estarmos saindo com alguém, e...

Toco sua bochecha, a fazendo se calar. Ver que Vanessa Wisnton se importou com a minha reação ao dizer que está saindo com alguém me deixa um pouco — só um pouquinho — menos fodido que o fato de ter todas as borboletas do meu estômago destruídas ao imaginar outro cara nessa história.

— Está tudo bem, Nessa. — sei que prometi por sorrisos não falsos há uns quinze segundos atrás, mas não posso oferecer um sincero neste momento — Fico feliz que esteja tendo algo real com alguém. Ele é um sortudo do caralho.

— DeLuca?

— Hm?

— Por que está inclinando a cabeça pro lado desse jeito? — perguntou, em meio uma risada engasgada.

Rei Do DesastreOnde as histórias ganham vida. Descobre agora