36.

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Vanessa


— Estou feliz que está aqui, sabia?

Alessa apoia a bochecha em meu ombro fazendo um esforço para se concentrar ali, no casamento, nas pessoas se cumprimentando e no ar frio apaixonado aquelas flores brancas, na neve e nos pares de olhos cinzas que não são do garoto que ela ama, mas sim, do tio dele. Killian está deslumbrante, muito parecido com o sobrinho que até agora não havia aparecido.

Acaricio os dedos de Alessa entrelaçados nos meus, lhe dando certa força para resistir a vergonha que minha melhor amiga sente por ter magoado aquela família e o vazio intenso em seu peito por todas as tragédias que haviam lhe acontecido nos últimos sete meses. Foi difícil trazê-la pra cá, mas não podemos perder a oportunidade de dar mais uma chance aquele casal, e talvez...dar mais uma chance a outro casal, os cupidos, dois adolescentes que queriam apenas juntar os melhores amigos, e acabaram se apaixonando.

— Espero que ele ainda queira falar comigo — ela resmunga, e antes que eu pudesse dizer o mesmo sobre o garoto por quem ainda penso muito, eu o vejo. Rapidamente coloco minha bolsa de mão bem em frente o meu rosto, escolhendo meus ombros ainda mais colada com Alessa.

— Por favor, não me veja. Maldição, ele está lindo. Por favor, não me veja.

Alessa se atenta ao meu desespero enquanto ainda estou atordoado com DeLuca tão bem arrumado, de smoking como os outros ali presentes, as mangas da camisa social arqueadas até os cotovelos, as ondulações do cabelo domadas e um sorriso tímido que me derrete inteira.

Há um casal atrás de DeLuca, o acompanhando. O homem mais velho tem cabelo castanho como o do garoto, porém mais bem aparados. A mulher tem o cabelo tão loiro e bem alinhado que me lembrou aquelas princesas do gelo magníficas, o que combinava perfeitamente com o vestido de seda azul com o caimento perfeito para o seu corpo magro e curvo.

— Quem são aqueles? — Alessa sussurrou para mim, apesar de estarmos um tanto longe.

— Provavelmente o primo Miller, de Greendale e a noiva dele. Uau! Eles são tão...

— Irresistíveis? Lindos? Divinos? Sinto que eles estão flutuando e não andando. — ela tenta adivinhar, parecendo se divertir pela primeira vez em dias com o meu nervosismo.

— Tudo isso e mais um pouco. A convivência com o primo está fazendo bem a ele. Nunca vi aquele cabelo tão bem penteado. Fala, sério! E ele está usando as argolas? Meu Deus, ele está usando as argolas.

— Ele sempre usou aqueles brincos, Nessa.

— Mas nunca com um smoking chique! — abanou o rosto com a mão — Eu vou tomar um ar e ir ao banheiro. Já volto. Tudo bem ficar sozinha por uns minutos? Vai ser rápido. — seguro sua mão, claramente preocupada em me distanciar, já que prometi não deixá-la por um segundo sequer.

— Estou bem. Vai lá. Aproveita e agarra o garoto dos porcos — me incentivou, o que só me faz andar em falso com os saltos. Só o Deluca mesmo pra me fazer tropeçar por conta de um salto pela primeira vez na minha vida.

Meu caminho até o banheiro social do primeiro andar da casa Evans é como um monte de borrões em movimento, cheiro de alfazema e risadas bonitas por toda parte. Driblo o grupo de crianças que corria pela varanda e apresso o passo ao passar perto de onde os novos convidados chegaram, torcendo ou não — não tenho certeza se quero que ele me veja — para que passasse despercebida.

Quero jogar água em meu rosto ao chegar no lavabo entre a cozinha e a sala, mas minha maquiagem iria para ralo. Me concentro no meu reflexo e no fato do meu cabelo estar mais bonito que o normal. Isso é bom. Muito bom. É o que me acalma no momento. Meu cablo bonito.

Rei Do DesastreOnde as histórias ganham vida. Descobre agora