DeLuca

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1| O PRIMEIRO DIA DE AULA
Antes...

QUERO MORRER, é a primeira coisa que escuto quando a luz vinda da tela do telefone irrita meus olhos e me faz abrir as pálpebras pesadas pelo sono. Encaro a janela e o céu em um tom de azul escuro do lado de fora. Sinto cheiro estranhamente ainda atraente vindo do pedaço trianhular da pizza de brócolis deixado em um prato no chão, ao lado da cama. Estalo o pescoço e xingo mentalmente ao repassar todas as coisas que farei hoje. Tudinho. Em ordem. Em ordem.

Observo o horário.
São 4:00 da madrugada.
Hora de acordar.

Me levanto e tiro a roupa, caminhando até o banheiro. Arfo sentindo a água gelada me acordar totalmente e arrepiar meu corpo. Molho o cabelo, encolho os ombros e começo a me ensaboar.

Meus ouvidos ficam atentos aos passos no primeiro andar. Sala. Cozinha. Volta para a sala. O ranger da poltrona de couro marrom e o silêncio. Termino o banho e não conto quanto tempo demorei para vestir uma calça caqui — a única que encontrei limpa —, um provável presente da minha mãe que deve ter escondido no meu guarda-roupa sem que eu soubesse apenas para esse exato tipo de situação acontecer. Fico chocado que ela ainda tem esperanças de me fazer usar roupas estranhas como os filhos dos seus amigos da igreja, aquelas famílias tradicionais perfeitas que moram em casas azuis com jardim na frente, no subúrbio da cidade.

Calço os Vans pretos e deixo a camisa para vestir depois. Encaro o quarto ao meu redor. Encaro as roupas espalhadas em um canto, nas paredes azul marinho, nos cronogramas grudadas nelas, e no T-rex verde de pelúcia entre as almofadas. O jogo para longe, suspiro e o pego de volta.

4:25am, vejo no relógio do pulso.
Hora do cronograma.

Sento na cadeira da escrivaninha de frente para a janela quando o tom amarelado do sol substitua a iluminação vinda do abajur, no quarto. Ponho os pés cruzados em cima da mesa, ao lado dos cadernos e acomodo a agenda nas coxas, escrevendo nas linhas em branco com a mão direita enquanto a outra girava o hand spinner quase que protocoladamente.

Já vi que vou precisar dele, de novo. As aulas voltaram, é óbvio que vou precisar da porcaria do spinner de novo.

continua...

Rei Do DesastreWhere stories live. Discover now