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11|ROUPAS CARAS EM UM BRECHÓ
DeLuca pov

— Ainda posso te deixar em casa, se quiser. — encaro Vanessa voltar de uma contagiante conversa com a senhora Amelie, a dona do brechó, uma velhinha na casa dos setena anos que adora receber peças de roupas peculiares, dar nomes à elas e vender na pequena garagem reformada como se fosse sua própria lojinha.

— Está brincando? Se tem uma coisa que eu entendo são roupas, namorado falso. — ela se abaixa, carregando uma das caixas de peças doadas e a colocando em cima da escrivaninha onde Amelie desenhava seus próprios vestidos de gala — Parece que muita gente chique doou esse início de ano. Ela está animada. Tem roupas que nem foram usadas e ainda estão com etiquetas. Olha essa saia! — ergueu a peça branca com detalhes bordados no cós — Eu já vi essa saia na Zara, e custa o valor de umas cinquenta telas de pintura.

Pisquei umas quatro vezes, tentando entender o que porra é Zara e quanto custa uma tela de pintura.

— Eu entendi você até a palavra "saia".

Suas orbes rolaram para cima.

— Quer dizer, que é muito caro, DeLuca. Muito mesmo, e olha aonde foi parar...em um brechó, no centro de uma cidade pequena. — nega com a cabeça, começando a organizar as roupas dentro da caixa — Não entendo essas pessoas que compram coisas tão caras deliberadamente só por moda.

Observei Vanessa de costas. Cruzei os braços a frente do meu corpo e encostei minhas costas na estante mais próxima. Não que eu fosse confessar isso a qualquer um que estou a secando nesse momento, mas minha namorada falsa atrai mais minha atenção do que eu esperava que fosse atrair. Vanessa Winston é um poço de plenitude. Ela sorri com seu sorriso bonito, ela acena com educação, ela fala corretamente com aquela voz aveludada e nunca, mas nunca mesmo, se deixa rebaixar. Ela é inteligente, ela é surpreendentemente engraçada, e de um jeito surreal e bizarro, por uma questão que ainda estou desesperadamente me perguntando, eu não preciso usar o spinner quando estou com ela.

— Vai me dizer que a princesinha não faz compras e tem um closet igual ao da Barbie?

Ela estreitou os olhos quando me olhou por cima do ombro, reprimindo um sorrisinho teimoso na boca. Droga, ela é muito fofa, isso me quebra.

Sim, eu tenho um closet, mas não, não tenho tantas roupas assim e eu faço doações constantemente de roupas e sapatos que não uso mais e obrigo o próprio prefeito Winston a doar também, se quer saber.

Mas é claro que sim.
É fácil imaginá-la fazendo essas coisas. Doações, participar de coisas como ativismo, dar sopa aos moradores de rua...coisas que quem vai pro céu faz.

— Seria ruim se eu comprasse algumas coisas pra mim? — uma gargalhada me espacou com ela abraçando um vestido de festa contra si fazendo uma careta de quem está se sentindo mal por considerar essa ideia.

— Aposto que ninguém vai comprar uma roupa tão elegante, Winston. — a consolo — É Middway. Não há festas de gala ou coisa assim, talvez nas festas que você e seu pai vão...

Ela parece refletir.

— É. Você está certo — mordeu o lábio inferior, os olhos brilhando para o vestido da cor de um rosa bem claro, tão claro que parece quase branco com alguns detalhes mínimos de pérolas — Além do mais, comprar roupas em brechós é sustentável pra qualquer um. Sabia que na produção de roupas são gastos milhares litros de água? Sem contar com o desgaste do solo, contaminação de agrotóxicos para cultivo de matéria, descarte incorreto de resíduos...é, você está certo. Vou ficar com ele. — ela sorriu tanto que fez um chiado agudo e baixinho na garganta, tentando se conter em animação.

Rei Do DesastreWhere stories live. Discover now