Capítulo 07: Dia de chuva

1.1K 59 5
                                    

Minha mãe se ofereceu para me levar a escola naquele dia de chuva e eu aceitei, mas ela acabou derramando café em sua roupa e nos atrasamos para a aula. Entrei na sala com 10 minutos de aula e uma garota tinha descaradamente sentado em meu lugar ao lado de Nathaniel que me lançou um olhar de "Desculpa" quando passei por ele, abri um sorriso compassivo e me sentei na carteira de trás ao lado do dorminhoco mais observador que eu já tinha conhecido, a cara afundada na carteira me forçou a empurrar um pouco seu braço para o lado o que fez ele levantar a cabeça num ímpeto.


- O que você...? - ele perguntou sonolento se espreguiçando.


Fiz sinal de silêncio para ele enquanto abria meu caderno e apontava para a garota sentada em meu lugar. Amanda era o nome dela, e o ex dela não parava de olhá-la.


- Hum... - seu murmúrio foi de compreensão.


Ele não voltou a dormir durante o restante da aula, apenas ficou desenhando animes em um caderninho enquanto eu tentava focar na aula, meus impulsos queriam perguntar se ele sabia de algo a mais, mas consegui com muito esforço manter a boca fechada.Além disso eu gastei tempo observando também, Amanda a todo instante cochichar alguma pergunta para Nathaniel, ele não se demorava nas respostas, mas isso não tornava nada melhor para mim.


Ao final da aula guardando meus materiais eu me despedi:


- Obrigada pela compreensão, Grande Observador.


Olhei firme naqueles olhos azuis muito mais petulantes que antes e ele segurou firme o olhar.


- Disponha, senhorita Rosález.


Sorri divertida enquanto levantava da carteira e dava de cara com o olhar de Nathaniel fixo em mim, estremeci, era a primeira vez em quatro dias que ele me olhava com tamanha atenção, controlei a firmeza das minhas pernas para descer as escadas e chegar nele.


- Oi, é, vi que você não veio de bicicleta hoje e ainda está chovendo... Quer uma carona? Meu pai vem me buscar. - ele disse assim que me aproximei.


- Ah, tá, quero sim.


Senti o ombro do Grande Observador tocar minha bolsa enquanto ele se desviava de mim para sair da sala.


Quinta-feira chegou e eu fui para a casa de Bibe, eu tinha limpado a casa na terça então apenas fiz almoço e coloquei as roupas para lavar.


- Então Bibe, como tem se sentido?


- Se melhorar, estraga, filha. - ela disse me fazendo rir. - Ainda mais com uma cuidadora tão dedicada como a que tenho, você é meu anjo, minha Be. - ela disse depositando um beijo sobre minhas mãos recém lavadas.


Sorri.


- Amber! Amber! Amber! - os meninos da rua me gritavam do portão.


Apareci na porta da frente.


- Digam, garotos.


- Vem brincar com a gente, Amb!!!


- É, Amb!! A gente quer mais pessoas pra jogar!!!


- Não sei não meninos, tenho muita roupa pra lavar ainda. - respondi receosa.


- Ah, mas o que é isso minha filha!? Venha cá! - Bibe disse me puxando pelo short de linho que eu usava. Me virou de costas e enquanto desamarrava meu avental resmungava. - Ora essa, onde já se viu, trabalha duro todo esse ano que vem aqui e não vai jogar um pouco de bete com essas pobres crianças!? Sua roupa não é adequada, da próxima vez lembre-se de deixar pelo menos uma muda de roupas reserva aqui em casa, sabe que aquele quarto é seu, use-o como quiser.


- Agora sei onde aprendi a resmungar tanto! - eu disse rindo e beijando sua bochecha antes de correr portão a fora como uma moleca para brincar na rua.


Aquilo também era novidade para mim, o que não era novidade na vida de uma filha de bilionários passando um tempo num bairro médio-pobre?


As crianças me ensinaram as regras do jogo chamado Bete e eu peguei rápido.Rebate a bola, corre, bate os tacos, um, dois, três. Então os gritos "QUEBRA, QUEBRA, QUEBRA", voltávamos correndo, taco no círculo, não quebraram, mais uma vez. Eu ria a toa e gritava muito, provavelmente amanheceria sem voz, mas a euforia e diversão eram sem igual!As crianças da rua se juntavam para torcer e assistir, aquele horário da tarde a maioria das famílias tinha suas cadeiras na calçada e as crianças se juntavam para gastar suas energias. Eu amava aquilo, me sentir comum, embora também amasse o conforto e luxo da gigante mansão em que nasci e cresci, eu podia me encaixar ali também e isso me deixava contente.

Nos Enlaces da VidaWhere stories live. Discover now