Capítulo 16: Um consolador inesperado

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Quando cheguei na casa de Bibe todas as luzes estavam acesas, tinha muita gente festejando e então ouvi todos gritarem "FELIZ NATAL!", já era meia-noite. Olhando da rua a cena com minha cara toda borrada e lágrimas ainda escorrendo eu não podia estragar a festa, foi quando meu celular apitou uma mensagem.

"Feliz Natal, Lissa.", era Gian, não pensei muito apenas respondi: "Tá ocupado para dar uma volta?"

"Minha mãe dorme as 20h todos os dias então estou livre"

"Quer me encontrar no parque Urupá?"

"Chego em 10 minutos"

Montei em minha bicicleta e pedalei por mais quinze minutos até chegar no parque, a prendi em um poste e não precisei andar muito para encontrá-lo sentado no balanço do parquinho. Coloquei meus sapatos na cestinha da bicicleta e fui até ele. Seus olhos azuis me avistaram.

- Parece que a noite não tem sido boa para você. - ele disse sem se mexer.

Respirei fundo tentando conter as lágrimas que ameaçavam escorrer outra vez. Me sentei em um balanço de dois lugares perto do dele.

- Quer conversar? - sua voz soou doce e acolhedora. Abaixei a cabeça e assenti.

- Posso te contar uma triste história de amor? Ou pelo menos de amor de uma das partes?

Senti ele se sentar ao meu lado enconstando seu ombro no meu.

- Era um vez duas crianças que se conheceram ao nascerem pelo simples acaso de serem vizinhos. Essas crianças eram um menino e uma menina, eles viviam juntos pra lá e pra cá. Um dia quando essas crianças tinham onze anos surgiu um romance de infância, daqueles que você acha o outro bonito e vocês ficam se paquerando e quando muito até pegam na mão um do outro. Quando eles tinham doze anos e o romance ainda acontecia o menino beijou a menina e a partir desse dia a menina decidiu amá-lo, um dia ele pediu que ela prometesse algo: que eles amariam apenas um ao outro, que esperariam sempre um pelo o outro, que seriam os únicos namorados um do outro, ele fez ela prometer e prometeu, eles prometeram.

Nesse momento as lágrimas já estavam incontroláveis outra vez.

- Então inesperadamente esse menino foi embora, ele foi embora, mas deixou um bilhete, um bilhete onde declarava seu amor e lembrava a menina de cumprir a promessa deles. Quatro anos se passaram e eles cresceram, e por esses quatro anos a garota cumpriu fielmente sua promessa, ela afastou todos os garotos que tentaram mesmo uma amizade, ela deixou de ir a festas onde tudo terminava em amassos, ela se esforçou para ser leal, e nunca mais beijou ou tocou ninguém. E aí do mesmo modo inesperado que foi embora esse garoto voltou, bonito e charmoso como sempre, trazendo à tona o amor da garota, acelerando seu coração, frio na barriga e tudo o mais, mas ele estava diferente, afastado, culpado, gerou muita insegurança, mágoa e confusão na garota e então, um dia, depois de quatro meses de sua volta ela descobre o motivo: ele quebrou sua promessa!

Apoiei meu rosto nas mãos e chorei muito.

- Ele quebrou a promessa e namorou alguém, e namorou por mais de um ano, ele amou outra pessoa, ele beijou e tocou outra pessoa quem sabe até dormiu com outra pessoa. - meu rosto queimava de ciúmes, mágoa e raiva. - Como ele pôde me deixar aquele maldito bilhete se não ia cumprir sua parte da promessa!? Maldito o dia em que eu li e decidi ser leal a minha palavra!!

G. O. que até então apenas observava puxou minha cabeça para seu peito, eu não hesitei em abraçá-lo enquanto chorava minhas mágoas.

- Eu sou tola, fui ingênua de achar que um homem cumpriria uma palavra dessas, eu nunca mais serei a única em sua vida, nós nunca mais seremos os únicos namorados um do outro, e eu nem quero mais me casar com ele agora. Burra! Burra! Burra!

As mãos de G. O. acariciavam meus cabelos, hesitantes inicialmente, mas reconfortantes depois.Então ele suspirou e disse algo:

- Aquele dia em que você matou aula no corredor... Eu te perguntei do amor, e quando você me respondeu daquela maneira eu não pude imaginar o que se passava entre você e ele, mas claro que já havia percebido que tinha algo de errado. Vocês pareciam querer tanto estar perto quando se obrigavam a ficar distantes um do outro... Agora entendo o porquê... E sei o quanto dói, Amber, mais uma vez eu sei, fui traído por minha primeira namorada, virei chacota, e no final ela se casou com ele, mas acredite, a gente supera. A dor acaba um dia, a ferida cicatriza, e você começa a pensar em outras pessoas do mesmo jeito, você encontra alguém tão brilhante e alto astral que deseja viver de novo e se abrir de novo e começa até mesmo a sonhar com o futuro outra vez. Mas por hoje afogue suas mágoas em suas lágrimas, e dê um tempo a seu coração.

- Não vou perdoá-lo, não...posso... Não quero!

- Não precisa se não quiser. E se precisar de algo pode contar comigo.

Eu fui embora pouco tempo depois com meu ego afagado pelas palavras de G. O., passei na Bibe outra vez e para minha surpresa ela se despedia do último casal de vizinhos que ainda estava em sua casa. Quando ela me viu parar a bicicleta arregalou os olhos assustada.

Depois de um banho quente, vestida o pijama e tirada a maquiagem me sentei no sofá da sala para contar a Bibe minhas mágoas.

- Eu não posso e não quero perdoá-lo, Bibe!- Seja razoável, Amber, você mesma disse que o amava! O ama realmente?

- Lógico! Isso não é algo que eu consiga fazer sumir de uma hora para outra! Mas ele me magoou e agora desejo não amá-lo mais!

- Be, minha filha, você não o ama de fato, é apaixonada por ele, mas a paixão é um amor egoísta, meninas não podem amar, apenas mulheres...

As palavras de Bibe eram duras ao mesmo tempo que seu tom de voz não deixava ser doce, como ela podia ser daquele modo?
Mas, como eu disse, naquela época eu era dominada por meus sentimentos e eu jamais admitiria o que Bibe dizia.

- Como pode dizer isso Bibe!!? Você realmente me ama!? Parece que está do lado dele.

- Amber, eu amo você e por isso preciso educá-la até que se torne uma mulher madura e é o que estou fazendo aqui. Se você o ama realmente irá perdoá-lo independente do que quer!

- Por quê está me dizendo isso, Bibe!? - eu estava irada com suas palavras. Irada por, em minha imaturidade, achar que ela estava defendendo Nathaniel.

- Porque o amor, o verdadeiro amor, é perdoador, ele não se ira, não guarda rancor e não vê os próprios interesses. Tudo o que você tem conseguido enxergar, minha filha, são seus próprios interesses de uma paixão cega que visa apenas seu próprio eu. O verdadeiro amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. - ela suspirou ao ver que eu estava incrédula com suas palavras. - Minha filha, está tarde, vá dormir, um dia, meu amor, você vai entender o que te digo, e se lembrará de mim, ainda que o Senhor já tenha me levado para junto dEle. Eu sei disso, Be, eu sei disso do fundo da minha alma. Apenas te aconselho que não viva fazendo apenas o que quer. Se ele se arrepende do que fez o perdoe e dê a ele uma nova chance para ser seu amigo.

Com essas palavras ela beijou minha testa e entrou em seu quarto.

Eu dormi emburrada, com raiva, me perguntando porque ela não entendia o meu lado. Eu era a vítima! EU! Ela devia estar com pena de MIM! Por que ela não podia ter me reconfortado como G. O. fez!? Era daquilo que eu precisava!

Quando se vive sob a tutela de seus próprios sentimentos é assim que a vida é: mais difícil do que deveria. Os problemas são sempre maiores do que são, a realidade é sempre distorcida do que é e você é sempre a protagonista principal.Eu era como um animal vivendo pelos próprios sentimentos e instintos e enxergando apenas a mim mesma e meus próprios interesses sem nunca perceber que, na verdade, eu não entendia nada de amor. E que ainda demoraria algum tempo para que entendesse.

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