Capítulo 60: Memórias numa confissão chuvosa

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O vento e a chuva não demoraram a chegar por aquelas terras.


Naquela mesma noite após o jantar improvisado na nova casa de Nathaniel enquanto eu estava deitada em minha cama podia ouvir o vento assobiar forte por minha janela e sacudi-la como se fosse estilhaçá-la, eu e Nathaniel como de costume não havíamos comentado sobre o que houve entre nós naquela tarde, apenas agíamos seguindo nossa vida.


A manhã daquele dia foi chuvosa tanto quanto a noite anterior, no dia seguinte Nathaniel voltaria para a casa de seus pais, ele ainda estava com negócios por lá e faria mais duas viagens até que eu completasse dezoito anos.


Eu ainda não podia trabalhar porque a casa estava sem internet e com a chuva não tinha como instalar, então me restou ficar deitada no enorme sofá da sala quase vazia e continuar a leitura do meu livro de romance.


- Que livro é esse? - Nathan perguntou depois de tomar seu café e vir me acompanhar na sala.


- Romance dos bons, eu juro, é clássico, mas você não deve gostar.


- Bem coisa de mulherzinha... - ele disse rindo.


- E você? Vai jogar palavras cruzadas? Bem, coisa de velho... - eu disse fazendo careta.


- Ei, esquentadinha! - ele disse divertido.


Eu o olhei por cima do livro e ri.


- Vou no celeiro arrumar uma bendita porta quebrada, mais tarde estou de volta. - ele me avisou depois de uns trinta minutos que estávamos na sala.


- Vai depois do almoço. Estou indo fazer algo. - eu disse.


Almoçamos ovos e bacon em uma grande quantidade porque era o que tinha na geladeira. Ele saiu para o celeiro enquanto eu fui tomar um banho e vestir um lindo vestido que havia ganhado de dona Edna antes de ir embora. Ele era estampado florido e de alcinha, eu nunca mais havia usado estampas tão vivas, mas aquele vestido realmente me caiu bem, soltei meus cabelos e os penteei de modo que caíram com seus cachinhos abertos por minhas costas e ombros, passei um hidratante nos lábios e coloquei o colar de âmbar que havia ganhado de Nathaniel. "Um colar de âmbar para Amber", sorri segurando seu pingente ao me lembrar daquela noite. Desci as escadas me sentindo muito feliz.


Notei que já faziam algumas horas desde que Nathaniel havia saído e ele ainda não tinha voltado, a chuva estava recomeçando e parecia que ficaria feia com raios e trovões como naquele noite.


Fui até a grande porta da frente da casa e gritei com toda a força que tinha seu nome. O celeiro era longe, mas eu supus que um grito forte conseguiria chegar até ele, porém o barulho da chuva com certeza não ajudava nisso.


Lembrei de ter visto um guarda-chuva em algum lugar do escritório que também ainda não tinha muita coisa além de prateleiras vazias, corri lá e achei o bendito, tinham uns dois furos, mas nada muito ruim em comparação com ficar encharcada.


- NATHAN! - o chamei mais uma vez quando já estava no gramado. Mas ainda estava distante do celeiro.

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