Capítulo 25: A morte de uma abelha

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Acho que nunca expliquei o porquê apelidei Maria de Lourdes de Bibe e o porquê ela me chamava de Be, bem, é uma história divertida.


A primeira palavra que eu disse foi "Be", sempre ouvia dizerem meu nome "Amber", "Amber" e tudo o que eu ouvia era "Ber" o R eu não podia pronunciar ainda então eu dizia "Be", coincidiu com isso o fato de que o jardim de minha mãe sempre atraiu muitas abelhas e eu amava aqueles bichinhos amarelos e pretos que picavam tão doído como eu mesma experimentara sua picada uma vez, e todos os dias que eu e Bibe íamos para o jardim ela me ensinava a dizer "Abelhas" porque eu não parava de segui-las, e eu dizia "B-i.b-e".


Mas eu relacionei o nome de Maria de Lourdes com "Bibe" e não o de abelhas. Já maiorzinha eu bolei uma boa explicação para chamá-la por Bibe que agradou a todos que ouviram (ela, a mãe de Nathaniel e Nathaniel).


Bibe tinha tudo a ver com abelhas, por isso confundi o nome de abelhas com o dela, porque abelhas eram lindas por fora e tinham mel docinho por dentro (como eu acreditava na época), mas tinham um ferrão bem exposto e pronto para picar doído se ela precisasse, assim eu via Bibe: uma mulher charmosa por fora mesmo velha, e virtuosa por dentro, mas se precisasse me dar umas palmadas ou me dar um sermão doído ela não hesitava. Era fofa, doce e forte e doída como uma abelha.


Naquela mesma madrugada minha Bibe se foi, ela se foi dormindo, calma e serena em meu abraço, eu acordei com o barulho da máquina onde antes seu coração batia, e seus braços já estavam gelados sobre minhas costas.


Eu chorei muito, mas em silêncio, minha Bibe tinha ido feliz e em paz, me levantei e chamei a enfermeira.


- Ela se foi... - avisei com uma serenidade que não era típica minha, era típica dela.


Seu velório foi marcado para o dia seguinte de manhã, naquela noite dormi abraçada a meu travesseiro em minha cama espaçosa com uma saudade gigante no peito e uma tristeza imensa por saber que eu nunca mais a veria.


Estavam no velório meus pais, todos os Alencar, os vizinhos de Bibe, incluindo as crianças e todos seus amigos da igreja, da escola, da vida, era bastante gente que amava aquela mulher.


Eu olhava sua face tão serena dormindo naquele caixão toda enfeitada, estava linda, me lembrava de suas últimas palavras tão doce até em sua morte, e chorava muito. Todos os vizinhos vieram me cumprimentar e eles diziam: "Ela te amava muito, filha, era a filha dela", "Vocês foram como mãe e filha até o fim, meus consolos", "Com certeza você é a filha que ela perdeu, meus pêsames", "Todo meu apoio a você, sei o quanto é difícil perder uma mãe principalmente uma mãe do coração". Eu abracei a todos, até meus pais vieram me abraçar como se entendessem meu sofrimento e me avisaram que iam embora para que eu ligasse e avisasse ao motorista quando fosse para me buscar.


Os pais de Nathaniel também me cumprimentaram, e Joana disse em meu ouvido:

- Sei o quanto ela te amava, Amb, como se fosse a própria filha que ela perdeu, e sei que você a tinha por mãe, lembro-me de quando você a chamava de "mama" e ela te corrigia para que sua mãe não ficasse com ciúmes e te afastasse dela, mas ela sabia no coração dela que ela era sua mãe... Tivemos longas conversas e eu sei disso. Todo meu apoio a você, tente tirar um tempo e passar lá em casa para tormarmos um chá, vou adorar recebê-la.


Sorri e agradeci.


Por último Nathaniel veio ao meu encontro, eu estava ansiosa por aquele abraço consolador, eu não sabia o que era, mas ele sabia como me abraçar e sabia as palavras certas para me acalmar. E não foi diferente ali. Seus braços envolveram meu corpo, eu apoiei meu rosto em seu ombro cheiroso já derramando as lágrimas doídas que em seu ombro eu confiava derramar e ele me disse:


- Com toda certeza ela estava feliz nos braços da filha que ela tanto amou... E fico feliz de ter tido tempo de revê-la. Estou aqui por você, Amber, não pense nunca que está sozinha nesse mundo a não ser que queira estar sozinha eu estarei aqui.


O braço de Nathaniel ainda rodeava minha cintura quando vieram fechar o caixão, e andamos daquele jeito até o cemitério onde vimos seu caixão ser enterrado à sete palmos, ao lado do de seu marido e filhinha, eu havia feito questão de pagar por tudo e reformar seus túmulos, Maria de Lourdes merecia honra até mesmo em seu enterro. Foi a mulher mais honrada e virtuosa que conheci em toda minha vida.


Eu esperava chegar em minha velhice com tantas virtudes e honra quanto ela.

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