Capítulo 10: Campainhas e Amassos

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Dois dias após meu acidente e era quinta-feira outraz vez, Nathaniel ia comigo para a casa de Bibe o que me deixava mais segura pelo caminho. Naquele dia fomos a pé para a casa dela, na ida conversávamos sobre estratégias de jogo e apostavamos em quem ganharia e nas boas companheiras de jogo que tínhamos. Eu não havia falado com ele ainda sobre o que havia acontecido e ainda não tinha pago o táxi de volta.


Meus pontos já estavam secos eu só esperava eles caírem, quando vesti a roupa esportiva dois dos pontos ficaram visíveis e conforme eu jogava Bete um deles caiu, eles coçavam muito e em toda pausa eu estava com as unhas ali no entorno do ferimento.


Eu havia inventado uma história de acidente doméstico para Bibe, e havia maquiado meu pescoço para que ela não visse, porém eu sabia que meu suor já havia revelado os roxos de meu pescoço eu sabia pelo modo como peguei Nathaniel focado nele duas vezes durante o jogo. Eu iria explicar a ele, ainda que por cima, por que justo ele teve que me encontrar naquela noite?Soltei meus cabelos na hora de ir embora para cobrir os roxos e fui me despedir de Bibe.


Eu e Nathaniel começamos o percurso lado a lado e em silêncio. Não podia começar falando sobre o que sofri acabaria com qualquer conversa depois.


Passávamos por uma quadra cheia de casas com campainhas e eu tive uma péssima ideia, mas muito divertida. Gradualmente saí da rua para a calçada, tinha acabado de escurecer então não seria tão ruim.


- Nathaniel. - o chamei.


Ele me olhou da rua curioso.


- Se prepara pra correr! - disse sorrindo marota.


- Como é?


Levantei meu braço e toquei a primeira campainha.


- O que você tá fazendo!? - ele perguntou abrindo um sorriso.


Apertei a segunda.


- Amber! - seu sorriso estava maior.


Apertei a terceira.


- Sua maluca! - ele disse rindo e começando a correr e eu corria junto apertando as campainhas.


Aquela quadra acabou e ele foi ágil em pegar minha mão e viramos a esquina, dessa vez ele apertava as campainhas e eu acompanhava a corrida, nós dois gargálhavamos e nossas mãos nunca pareceram se conhecer tão bem desde que ele havia voltado como naquela noite.Viramos outra rua e dessa vez eu puxei ele pela mão e saí tocando as campainhas, mas em uma das casas algo deu errado.


Eu toquei a campainha de uma casa no meio do quarteirão e quando estávamos perto do fim ouvimos o portão daquela casa ser aberto.


- Nathaniel, vão pegar a gente! - eu disse eufórica.


Nathaniel tapou minha boca e me puxou de forma rápida para dentro de um portão que era semi-inclinado fazendo uma quebra de visão das casas que ficaram para trás. Eu podia ouvir os gritos do que parecia ser um senhor de idade furioso nos xingando e praguejando. Nos olhamos e soltamos risinhos como se fossemos duas crianças.


Enquanto continuava ouvindo o senhor notei que o corpo de Nathaniel me prensava tão forte contra a parede que em outra situação aquilo podia ter sido um amasso, suas mãos estavam ao lado de minha cabeça, eu havia encostado minha cabeça em seu peito para poder ouvir melhor e ouvia além do velho o coração acelerado de Nathaniel, nós ainda ofegávamos pela corrida, e nossos corpos estavam suados e com certeza nosso cheiro não era dos melhores, mas os hormônios não nos permitiam pensar nisso.


Acontece que algo diferente aconteceu, o velho parou de xingar e praguejar e o portão dele se fechou, mas nós continuamos ali, por cinco segundos contados por mim, era a primeira vez que eu ficava tão perto de um garoto, mesmo dele, nosso namoro havia sido algo infantil e ingênuo, eu nunca havia tido nada tão intenso, nunca havia ficado tão nervosa e me sentido tão tentada a beijar alguém antes.


Quando findaram-se os cinco segundos nós dois parecemos despertar e nos afastamos rapidamente, ele saiu de dentro do portão e eu em seguida, o clima teria ficado muito ruim se o velho não tivesse fingido que tinha entrado, mas ele tinha fingido e estava na frente da casa dele com um cabo de vassoura nos esperando. Nos entreolhamos e demos as mãos outra vez virando a esquina correndo e rindo alto.


Quando nos distanciamos o suficiente para ele não nos pegar soltamos as mãos, as apoiamos nos joelhos e voltamos a ofegar.


- Isso foi... animador! - ele disse rindo.


- Acho que nunca corri tanto na vida... - eu disse prendendo meu cabelo num rabo de cavalo tentando controlar minha respiração. - Se bem que... enfrentei uma corrida assim há dois dias atrás também... Só um pouco pior...


Havia chego o momento das explicações.


- Não me diga que o que aconteceu com você tem a ver com cachorros quentes gostosos. - ele disse brincalhão.


Corei retomando minha postura.


- Eu estava sob efeito de analgésicos, tá?


- Foi muito aleatório. - ele disse rindo.


Voltamos a andar para nossa casa.Foi quando contei como tudo aconteceu, como foi estranho eles pararem ao lerem meu nome, como foi estranho um carro em alta velocidade ter parado e me socorrido e sumido com minha bolsa, eu estava sem carteira, sem celular, sem chaves de casa e sem material escolar. Contei como foram feitos os machucados e como fugi do hospital.Ele ouviu tudo com atenção.


- Bem, assim que eu recuperar minha carteira te devolvo o dinheiro do táxi.


- Não quero cinquenta reais seus. Fica de presente de aniversario pelos seus 16 anos apesar de eu ter chego dois meses atrasados pra ele.


Sorri com os lábios.


- Obrigada...


- E não ande por aí sozinha, ainda mais sem seu nome gravado em algum lugar. Provavelmente eles conhecem sua família e isso te salvou...


Assenti.O caminho seguiu silencioso por algum tempo, depois falamos sobre o tempo e logo chegamos ao nosso bairro. Aquela noite foi a primeira coisa diferente que tive com Nathaniel em dois meses de sua volta.

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