Capítulo 34: O noivo

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Estávamos em julho, as férias de meio de ano tinham começado. Dia 02 de julho eu e Gian completamos dois meses de namoro e tudo ia muito bem, nos víamos com frequência e estávamos sempre conversando por mensagem ou ligação, eu adorava contar o meu dia para alguém, antes era Bibe quem me aguentava falar, agora era Gian, enquanto isso ele quase não falava de si mesmo, o que havia se tornado comum pra mim.


Ele morava sozinho, tinha carteira de motorista e estudava, tinha sei lá quantos bilhões em sua conta, mas não comprava nada, nem uma casa melhor, nem um carro, nem mesmo roupas, não investia seu dinheiro apenas deixava lá. O que ele me dizia é que ainda não estava pronto pra usar e não via necessidade além de pagar o aluguel e fazer compras do que comia todo mês. Sempre que saíamos era em algum restaurante e isso era o que ele pagava a mais, quando não íamos a qualquer parquinho de qualquer parque ou praça.


As vezes quando entrávamos no assunto passado ele me contava alguma história com sua mãe e isso me lembrava o quão enlutado e indignado ele ainda estava por sua morte.


Em meados de julho, completando uma semana que eu e Gian não nos víamos, meu pai fez um jantar em casa apenas para mim, minha mãe e ele, e nesse jantar a terrível conversa voltou à tona:


- Quis vocês duas aqui para avisar que o contrato está pronto e revisado, o casamento acontecerá. - meu pai iniciou olhando firme para mim. - E acho que eu deveria dizer que já encontramos quem fechou com nosso contrato, ou seja, você já tem um noivo, Amber.


Aquelas palavras aceleraram meu coração, a gente acaba se acostumando com a casa onde nascemos e crescemos e com aqueles a quem chamamos de pais mesmo que eles não sejam bons pais e ouvir aquilo tornava o casamento de interesses tão real e junto com ele minha ida era tão real quanto ser deserdada e tratada como nada após fazer isso. Os prejuízos eram incontáveis para mim, mas eu o faria.


- Quem é? - perguntei.


- Ah, ainda não devo dizer, mas estamos marcando um jantar com ele e você logo o conhecerá.


- Certo.


Eu precisava engolir meus sentimentos e fingir que tudo estava bem para mim. Precisava mesmo que meu pai acreditasse que eu tinha medo de ser deserdada, a verdade é que, sim, o dinheiro dele me faria falta, crescendo na mesma casa que eles era impossível que eu não tivesse apegos materiais vivendo sob tantos confortos, mas como uma boa cabeça dura meus princípios deveriam vir primeiro.


Eu não conhecia muito o mundo de negócios de meu pai, mas sabia me portar como a filha de um bilionário perfeitamente, por isso tinha facilidade de fazer amizades com pessoas como Clara, mas era como se eu não me encaixasse no mundo daquelas meninas da mesma forma como me sentia estranha ao conversar com meninas que não eram do meu nicho social, mas indo embora de casa eu teria que enfrentar a vida como é: desconfortável e nem sempre carinhosa.


Assim que a conversa terminou eu liguei para G. O. sozinha em meu quarto.


Com o tempo dedicado ao meu namoro eu havia pego menos trabalhos do que precisava, mas trabalhava todos os dias da semana e conseguia cumprir todos os contratos (de gaveta) que eu havia fechado. Continuando eu conseguiria juntar pelo menos mais alguns mil, o que ainda não era suficiente se eu quisesse desaparecer até os dezoito e construir uma vida após eles, mas eu tinha esperança quase utópica de que os próximos meses seriam melhor do que o esperado.

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