As palavras de Adler ecoaram por minha mente enquanto eu almoçava com minha família e a corte. Eu tinha certeza que o meu olhar estava mais perdido que nunca, já que Farian falava e falava com arrogância, aproveitando minha quietude. Ele sabia que metade do salão ou mais prestava atenção nele. Sabia que as pessoas almejavam sua atenção. Ele era o favorito do rei, o príncipe em idade para casar. Meninas de todas as idades naquele salão trocavam risos tímidos quando ele olhava para elas. Mal sabiam o tipo de desgraçado que meu irmão era.
Ignorei tudo aquela refeição. Ignorei meu pai, que falava animado sobre o baile gigante que planejava para meu irmão; ignorei meu irmão idiota; ignorei meus irmãos mais novos, que gargalhavam enquanto conversavam com as crianças da corte. Apenas comi. E era difícil engolir - tanto a comida quanto as palavras de Adler.
A imagem da minha mãe preencheu minha memória assim que ele falou sobre os escravos. O que ela diria sobre minha ação naquele reino? Eu duvidava que ela se orgulharia.
Adler estava certo. De que adiantava ser herdeira do trono e lutar por meu direito se eu não cumpria meus deveres?
Por isso, ergui a cabeça, olhei nos olhos de meu pai e perguntei, baixo o suficiente para que apenas ele ouvisse:
— Quando reunirá o Conselho novamente, Majestade?
Desviando o olhar do favorito, o rei respondeu, ríspido:
— Daqui a dois dias. Por quê? Pretende montar alguma apresentação sobre como deve assumir o trono?
Ignorei a provocação.
— Qual a pauta? — Levei a taça dourada aos meus lábios, sabendo que estava atraindo a atenção do resto da corte ao monopolizar a atenção do rei. Não que fosse algo raro que o rei conversasse com uma pessoa, mas era difícil que essa pessoa fosse eu.
— Discutiremos sobre o comércio com Vibrandt — Indiferença dominava sua voz. — Por que tanto interesse?
— Sou princesa de Tullin, não sou? — Pousei a taça na mesa e mantive o olhar sobre o rei.
Meu pai sorriu.
— Finalmente decidiu agir como tal, irmãzinha? — Farian se intrometeu.
Foi minha vez de sorrir em resposta. Meu pior sorriso, o sorriso fatal, como mamãe dizia, aquele que eu dava quando estava pronta para vencer.
— Então também estará lá?
— Com certeza. Esse reino precisa de vozes ativas — Provocou, fazendo os seus apoiadores na corte murmurarem em concordância.
— Concordo, príncipe — Deixei que ele visse meu ódio no olhar.
— Espero que esteja aberta aos debates desta vez.
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Como se tornar uma Rainha
Ficción GeneralComo assumir o trono de Tullin tendo meu próprio pai, o rei, e o meu irmão, o príncipe, como opositores? Tullin, meu amado reino tomado por escravidão e rodeado por guerras. Já não bastasse a boa dose de ansiedade e o fardo da impotência que me aco...