Como assumir o trono de Tullin tendo meu próprio pai, o rei, e o meu irmão, o príncipe, como opositores?
Tullin, meu amado reino tomado por escravidão e rodeado por guerras.
Já não bastasse a boa dose de ansiedade e o fardo da impotência que me aco...
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Gama finalizou o penteado simples na hora certa. Dez minutos antes da hora combinada para o jantar, horário que marquei para encontrar Adler no corredor. Agradeci à criada e saí. Meus guardas me acompanharam. Kirnat tinha pedido dispensa para jantar com os pais, e claro que eu permiti. Se eu pudesse, eu mesma me livraria daquele jantar.
No fim do corredor, uma sombra bem-vestida - e agitada - me esperava. Adler estava com as mãos cruzadas às costas, como indiquei, mas andava de um lado para o outro. Segurei um suspiro enquanto me aproximava. Ele parou de se mexer quando viu que não estava mais sozinho. Grudou os olhos verdes, brilhantes graças às várias velas dos lustres, em mim. E não se deteve em uma análise discreta e breve. Levou vários segundos enquanto eu parava diante dele.
Eu nem tinha trabalhado tanto assim no visual. Aquela noite não era tão importante. Usava um vestido simples, sem armação, longo, sem alças - talvez isso escandalizasse os mais conservadores. Era azul claro, sem muitos detalhes além de algumas flores bordadas no corpete. Sem muitas joias, coloquei apenas um brinco longo de ouro e um anel com brilhantes.
Mesmo assim, seu olhar me percorreu duas vezes. Eu estava acostumada com atenção como aquela, mas não vou negar que meu ego ficou feliz em ser alimentado.
Adler fez uma reverência profunda.
— Alteza.
Inclinei a cabeça.
— Senhor Destower — Cumprimentei.
Aquele seria seu sobrenome falso. Mais um toque na história inventada para enganar a corte e meu pai.
Adler ergueu o corpo e ofereceu o braço para mim, como tínhamos combinado. Aceitei sem hesitar, apoiando a mão em seu antebraço coberto por um casaco de veludo preto.
— Se me permite — Começou, a voz menos ríspida que tinha se tornado durante nossa conversa à tarde —, está muito bonita, milady.
Aquilo não estava no roteiro. Abri um sorriso sincero.
— Obrigada. O senhor também está encantador. Tenho certeza de que impressionará muitas garotas hoje.
Eu não mentia. Com os cabelos penteados para trás, o queixo livre de qualquer pelo, uma camisa branca, um casaco de veludo preto e uma calça marrom, Adler estava mais que agradável aos olhos. Elegante, perigoso. Certamente atrairia muitos olhares aquela noite. Parecia uma nova pessoa. E essa era a ideia.
— Nervoso para seu primeiro jantar com a corte? — Uma pergunta sincera, casual.
— Um pouco.
— Não se preocupe, vai dar tudo certo — Dei dois tapinhas reconfortantes em seu braço forte.
Seguimos em silêncio até o salão de jantar, que já acomodava a corte curiosa. Adler respirou fundo ao meu lado e me guiou até a entrada. Com um puxão suave, indiquei que parasse à porta. Atraímos o olhar de todos que já estavam sentados. Adler enrijeceu. Silêncio se instalou. O rei voltou-se para nós. Não ousei prestar atenção em sua expressão. Reverenciamos no mesmo instante.
