Prólogo.

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Sabe aquele trágico momento da sua vida em que você pensa: "Ah, meu Deus! Como foi que eu cheguei a este ponto?"

O terrível momento onde todas as coisas pela qual você passou no último mês atravessam a sua mente numa tsunami de lembranças embaraçosas e você sente vergonha de si mesma por ter sido tão estúpida.

E quando você percebe isso, já é tarde demais para voltar atrás. Isso sempre acontece. Aconteceu comigo, aconteceu com você, e até mesmo com a Oprah, mesmo ela sendo, você sabe, a Oprah.

Todos nós erramos. Mas alguns – como eu –, nunca comentem erros pequenos, do tipo que dá pra consertar pedindo desculpa ou dizendo "Oops!".

Eu cometo erros catastróficos. Eu atraio confusão, problemas, tempestades, terremotos, malucos e homens-bomba. Tudo isso dando uma simples volta no quarteirão.

E para começo de conversa, foi um desses erros catastróficos que me fez questionar como eu havia chegado àquele ponto. Fazia seis meses e meio que eu finalmente havia decidido que precisava assumir o controle da minha vida e me mudar para Nova York. No entanto, para fazer isso, eu precisei de semanas convencendo o meu pai de que Nova York não era tão perigosa como ele via no CSI: NY, ou qualquer outra desculpa que ele inventasse para me dizer não.

Veja bem: eu tinha vinte anos e era uma recém-formada em Jornalismo (papai me considerava um prodígio por ter me formado tão cedo), sem trabalho ou apartamento próprio. Voltar para a minha antiga casa era a única opção. O meu pai adorava me ter de volta em casa e queria que assim continuasse pelo restante da vida. O Sr. Scott nunca disse as palavras que passavam pela sua mente – papai só queria que eu me mudasse depois de casar –, porque ele me conhecia bem e sabia que muito provavelmente isso nunca aconteceria.

Porém, depois de ter juntado um dinheiro considerável dos meus trabalhos pelos jornais locais – eu nunca durava em nenhum deles –, resolvi que era hora de realizar meu sonho e mudar para a cidade que nunca dorme, onde eu teria oportunidades sólidas de subir na minha carreira. Papai não é uma pessoa que muda de ideia fácil, mas sorte a minha ter puxado esse gênio, porque também não desisti da ideia de me mudar depois de quinze "nãos". Você deve estar se perguntando: Por que ela simplesmente não jogou tudo para o alto e se mudou sem a permissão do pai?!

Acredite, eu teria feito isso. Porém, meu pai era de longe a única pessoa que poderia opinar sobre a minha vida, e eu precisava do dinheiro dele. Então, é claro que o Sr. Scott teria que abençoar a minha ida para Nova York, se não, nada feito. Depois de diversos pedidos rejeitados, a minha família e eu fizemos uma intervenção. Papai sempre necessita de intervenções familiares quando precisa aceitar um fato muito importante, mas se recusa a fazê-lo.

Depois de nocautear dois dos quatro irmãos, transformando a intervenção na sala de estar da casa da vovó numa verdadeira bagunça, ele só aceitou que eu não era mais uma garotinha de seis anos e precisava ter que seguir a minha vida quando a própria matriarca da família, Vovó Scott, interferiu.

Então eu pude finalmente alugar um bom apartamento no Chelsea – bairro que papai sugeriu "inocentemente". Ele sabia que o Chelsea era famoso pela sua comunidade gay, isso para papai significavam várias chances a menos da sua sua filha por acaso encontrar um namorado. Considerei isso maldade da parte dele.

Imagine só a cara do Sr. Scott quando eu contei sobre o Brad, o meu vizinho e novo namorado. Ele definitivamente não era gay... Mas sim, eu fiz bons amigos gays no Chelsea. Na verdade, foi Ray quem me falou sobre a oferta de emprego para colunista no jornal em que ele trabalhava. Algumas semanas depois e eu tinha um emprego em um famoso jornal de Nova York. Ah! Se for um sonho, não me acorde...

Tudo estava indo muito bem e obrigada em meu novo trabalho no Daily Golden News, um jornal importante entre os grandes da cidade. Era adorada por todos, a preferida do chefe, tinha uma sala só minha...
Okay, é claro que se tratando de mim, nem tudo estava tão maravilhoso.

Eu pensei que quando chegasse a Nova York as portas se abririam para mim instantaneamente e logo eu seria editora chefe do meu próprio e famosíssimo jornal. Fui ingênua, é verdade. Mas sonhar não faz mal, na maioria das vezes.

Na verdade, eu era uma colunista com o salário de dar pena, escrevia conselhos para adolescentes na página 5 ( página 5!), algumas pessoas da redação nem sabiam que eu existia, e o meu "escritório" era uma divisória de metal onde eu conseguia tocar as extremidades enquanto me espreguiçava.

O meu editor chefe achou uma excelente ideia colocar a empregada mais jovem na Coluna Teen, afinal aos seus olhos eu era praticamente uma adolescente. E assim eu me vi presa a jovens das quais as maiorias de suas perguntas eu não fazia a mínima ideia de como responder - adolescência não foi a melhor fase da minha vida.

É claro que eu estava insatisfeita e fazia de tudo para que Joey, o meu chefe, me desse uma matéria de verdade com a qual eu pudesse finalmente provar meu verdadeiro valor. Infernizei tanto a vida do pobre homem que o dia tão esperado logo chegou.

Joey me dera uma matéria – caso pequeno – para colher informações e redigir uma breve notícia. Tudo que eu tinha fazer é ir até o local onde um assassinato havia ocorrido, tomar nota, tirar algumas fotos e voltar. Mas eu consegui estragar até mesmo uma tarefa simples como essa. Na verdade, não foi culpa minha. Foi tudo culpa daquele policial idiota que pareceu e... Esquece. Eu não gosto de lembrar do acontecimento. Um acontecimento que quase me custara o emprego. Eu já disse que atraio problemas, não é? E a maioria deles me deixam em situações realmente constrangedoras e humilhantes. Você deve achar que estou exagerando...

Se o seu chefe tivesse que ir até a delegacia para libertar você e pagar sua fiança, com toda certeza me entenderia. Porque o olhar de desaprovação do Joey deixaria qualquer um arrasado. Se o olhar de fúria do meu chefe já era preocupante, imagine o de desgosto?

Porém, às vezes, a vida sorri para mim.
Por incrível que pareça, eu não fui despedida. Pensando bem, agora, gostaria de ter sido demitida! As coisas teriam seguido um caminho bem mais simples...

Joey me ofereceu uma última chance. Fizemos uma aposta, a maldita aposta que aceitei sem nem titubear. Para simplificar, eu precisava de provas incriminadoras contra um influente empresário, que o Joe afirmava ser corrupto e sonegador de impostos.

Deu para perceber como a minha vida é movida pelas confusões em que me meto? Você acreditaria se eu te dissesse que umas dessas confusões havia me levado a ficar pendurada em um batente no 30º andar de um prédio, enquanto eu realmente – realmente – considerava a ideia de pular?

Bem, pode parecer inacreditável e eu também cairia na risada se você me contasse. Ah!, quem dera essa história fosse uma lorota que eu inventara para impressionar um cara em
um bar qualquer do Hell's Kitchen.
Mas ali estava eu, Elizabeth Scott, olhando para baixo e vendo todo o trânsito de Nova York sob os meus pés, a metros acima do chão, suando, tremendo e pensando:

Ah, Deus! Onde fui me meter?!

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