22.

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A tela do meu celular continuou escura, se recusando a ligar. Dei três batidinhas nele, irritada, mas não adiantou muita coisa. Maravilha! Para completar o dia, quebrei o celular.

- Liga, liga, liga. – insisti apertando o botão vermelho cheia de expectativa. Ele continuou inativo, sem dar nenhum sinal que algum dia voltaria. Ás vezes eu acho que papai tem razão quando reclama dos produtos capitalistas: caros porém frágeis.

Conhecendo bem Homero, ele teria um treco quando a chamada não completasse. O que passaria pela sua cabeça?

Deixei que o ar saísse de meus pulmões lentamente, tentando assim acalmar o coração e a respiração. Saquei o meu caderninho na bolsa e despejei rapidamente toda a informação que ouvi no bar para páginas brancas antes que elas pudessem fugir da minha mente. Agora eu sabia quem era Z.T.

Zig Tretton. E o seu irmão, que estava fora do país servindo de mediador entre Slender e E.F. Seria esse o Ergor, talvez?

Escrevi como observação importante antes do táxi parar: Slender tem uma mercadoria complicada. Que tipo de mercadoria é tão complicada ao ponto de um homem poderoso ter problemas para exportá-la?

Bati o caderninho na minha testa. A resposta parecia óbvia, mas ainda sim eu não conseguia chegar a conclusão do que seria. Isso era frustrante. Quanto mais eu cavava, mas sujeira vinha à tona. Os crimes de Slender eram absurdos, isso deveria ser uma investigação policial e não jornalística.

- Chegamos, senhorita. É aqui, não é? – o taxista me arrastou para fora dos meus pensamentos. Eu me aprumei e inclinei o pescoço para a janela, o prédio escuro do jornal se fazendo vivo em meio às luzes reluzentes da rua. Nova York era sempre brilhante, mesmo com o frio chegando. O trânsito nunca parava, os letreitos nunca desligavam e as pessoas nunca abandonavam as ruas.

- Pode ficar com o troco! – eu disse ao motorista antes de saltar para fora do seu carro. Ele agradeceu e seu táxi se afastou.

Estava na porta do prédio do Golden News, naquele momento fechado. Quando eu ainda era uma colunista novata e obrigada a fazer hora extra, Joey me dera uma chave para ter acesso ao nosso andar depois do horário de trabalho. Acontece que eu nunca devolvi essa chave, muito menos a tirava da bolsa.

Sabia que precisaria dela em algum momento, um momento como aquele.

Os editores do jornal tinham em seus computadores um programa especial de pesquisa. Era muito caro, então os colunistas tinham de se contentar com o meu amado Google. Você, leitor, já me conhece muito bem para saber que eu não me contento ou aceito as coisas como elas são, não é mesmo?

Eu passei meses lendo fóruns da internet até aprender a rackear um computador e quebrar a senha do programa. Estava na hora de testar se aprendi da maneira certa.

Já no elevador, apertei o botão para o andar que queria, fazendo a caixa de metal chacoalhar para o lado e subir. As luzes piscaram, apagando por três segundos e voltando. O meu coração apertou; dei três passinhos para trás, colando meu corpo com a parede fria, como isso pudesse me ajudar.

Seria o meu azar tão grande ao ponto do elevador resolver quebrar justamente quando estava sozinha no prédio? Como a providência aparentemente se divertia às minhas custas, a possibilidade não era pequena.

Plinc!

As portas do elevador rangeram e se abriram ruidosamente. A redação estava completamente vazia e escura. O meu relógio marcava nove e quarenta da noite. Não ousei ligar as luzes, preferi ir tateando, guiando-me pela parede, até o corredor. Eu conhecia muito bem o meu local de trabalho. O corredor me levaria aos escritórios dos editores, a última porta era de Joey. Ela estava fechada, como sempre.

Tudo Pela ReportagemWhere stories live. Discover now