32.

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Era impossível uma pessoa ficar tão anormalmente calma numa situação como aquela. Homero estava recostado na parede, mexendo no celular. Ligou a lanterna do seu smartphone e o deixou de cabeça para baixo, iluminando precariamente o ambiente. Depois, cruzou as mãos e ficou parado, estático, respirando calmamente. E eu? Provavelmente estava agindo de maneira completamente oposta. 

- Isso não pode estar acontecendo. Qual é? É sério? - andei de um lado para o outro do cubículo de metal, ainda praguejando com a presença divina a qual eu jurava que tinha me prendido ali só por diversão. - Quero dizer, eu não ganho nem uma pausa? Ah, fala sério!

- Como está Deus? Como ele se sente hoje? Primeiro testamento ou segundo testamento? Uh, se for o humor do primeiro testamento estamos ferrados, Liz! Grande enchente, Noé...

Ignorei Homero.

- Eu acabei de voltar do deserto! - argumentei para o ser superior.

Homero engasgou numa risada.

- E Deus disse à Moisés... - ele entoou numa voz de narrador bíblico apocalíptico.

- Sério, até você? Essa piadinha não tem mais graça. - retruquei lançando-lhe um olhar enviesado.

- Desculpe, Liz. Por que não tenta parar de andar de um lado para o outro?

- Certo, vou fazer isso. Deve ajudar. - mas eu não me sentei. Encostei-me na parede oposta a de Homero e cruzei os braços. Ambos ficamos em silêncio.

Pouco tempo depois comecei a bater o pé no chão de mármore. Toc, toc, toc. Toc, toc, toc. Cinco minutos mais tarde o barulho ficou irritante demais aos ouvidos, então eu parei. Respirei fundo, tentando clarear a mente. Fiquei completamente parada, encarando o vazio à semi escuridão. Imaginei cenas horríveis, como ficar presa por horas, ou o elevador despencar de vez poço à baixo... Nós morreríamos, certo? CERTO?!

A pressão de desespero no meu peito só crescia. Eu olhava para paredes e tinha a impressão de que elas estavam diminuindo. Podia sentir o meu ar se esvaindo. Eu ia morrer ali. Aquele confinamento estava acabando com a minha sanidade. Encolhi-me em desespero. Quanto tempo faz que estamos aqui? Uma hora?

- Liz. – Homero murmurou. - Faz só vinte minutos que estamos aqui. - será que eu tinha feito a pergunta em voz alta ou ele lera os meus pensamentos?

- Eu sou claustrofóbica! – anunciei falando mais alto do que era necessário. - Não vou suportar. E se o elevador cair? E se der algo de errado e ficarmos horas aqui? Já faz... – chequei o relógio. – Vinte e dois minutos! O oxigênio vai acabar e vamos morrer asfixiados! – inconscientemente levei a mão ao pescoço. - Deve ser uma morte horrível, como se afogar ou morrer estrangulado. Sabe qual é sensação? Não conseguir respirar? É desesperador. – fiquei na ponta dos pés, como se pudesse escapar dali escalando as paredes.

A minha claustrofobia tinha um motivo, um incidente. Eu não gostava de pensar no ocorrido, mas as lembranças daquele dia fatídico voltaram com tudo, me fazendo estremecer.

A explosão no Hospital, o tremor, as paredes da enfermaria ruindo, um bloco de concreto caindo exatamente no lugar onde eu estava, mamãe gritando o meu nome. Poeira para todos os lados. Eu estava encolhida debaixo de uma maca. Os escombros da coluna da parede me soterraram, caindo em cima da maca, por todo ao meu redor. Por poucos centímetros, eu não fui atingida. Fiquei seis horas presa entre os escombros, mal respirando. Foi o pior dia da minha vida. Aquele também foi o último dia o qual vi a minha mãe.

Tudo Pela ReportagemWhere stories live. Discover now