2.

18.4K 1.4K 973
                                    


*

Bati duas vezes na porta do escritório de Joey e o meu chefe logo respondeu:

Entre.

Com um sorriso amarelo adentrei na sala endireitando a coluna e me dirigindo a cadeira em frente à mesa dele. O meu chefe estava com sua poltrona de couro virada de costas para mim, observando a parede de prêmios que o nosso Jornal já ganhara. Havia até mesmo o prêmio dos meus sonhos, o Pulitzer*.

– Sabe Eliza, eu me esforcei muito para transformar este jornal num dos mais lidos de Manhattan.

Concordei como a cabeça sem interrompê-lo; sabia que Joey adorava fazer esse tipo de discurso.

– Eu trouxe o Daily Golden News do nada, e estou no ramo há muito tempo. – Prosseguiu ele. – E sei reconhecer um bom jornalista quando vejo um. E reconheço o espírito do verdadeiro jornalista em você, Eliza.

Ergui as sobrancelhas em surpresa.
Jesus, será que Joey vai me dar uma promoção?! As chances de isso acontecer eram bem remotas, mas mesmo assim não posso negar que uma pequena chama de esperança se acendeu dentro de mim. Dei um sorriso e me inclinei para frente, interessada.

– E sim, você possivelmente tinha um futuro brilhante aqui no DGN.

Tinha?, meu sorriso desmanchou aos poucos.

Ele vai me demitir! É isso, eu terei que vestir uma daquelas fantasias ridículas de cachorro quente e entregar panfletos pela rua, ou talvez virar assistente de dentista, e segurar o aquele objeto que suga e faz um barulho horrível enquanto um doutor chamado Perkins tortura uma criança.

Senti uma vontade de começar a chorar copiosamente, pensando como aquele emprego era importante para mim. Olhei novamente para o Pulitzer; nunca ganharia aquele prêmio.

– Joey, diga de uma vez! – pedi interrompendo o discurso que havia deixado de ouvir há vários e desesperadores minutos. – Vai me demitir, não vai?

O meu chefe finalmente virou a cadeira e me encarou. Joey era um homem de um metro e cinquenta, irlandês de cabelos vermelhos ralos e oleosos. A maioria das pessoas dizia que se parecia com um duende, pela sua raiz irlandesa e seu tamanho. Para completar, o meu editor chefe estava usando uma camisa verde. Ele realmente não fazia ideia de como aquilo podia atiçar a minha perversa imaginação, e de toda a Redação, a qual secreta e carinhosamente o apelidara de duende. Subitamente ele começou a rir. Passou aos mãos pequeninas pela cabeça calva e olhou para mim, sua expressão suavizando diante do meu desespero.

– Querida, não vou demitir você, pelo menos não agora. Como estava dizendo, antes de me interromper, você tem potencial. Mas há um problema.

– Qual?

Joey suspirou e me olhou de maneira cansada.

– Eu nunca vi alguém com tanto talento para problemas como você, Elizabeth. Desde que chegou aqui, tivemos aquele acidente com a máquina de café...

– Ela explodiu do nada! – a defesa saiu involuntariamente. Ele prosseguiu:

– E o carrinho de correspondência...

– Eu juro que não o vi parado perto da minha mesa. Estava apertada para ir ao banheiro, sinto muito por ter derrubado ele em cima do Gary. E eu mandei flores quando ele foi para o hospital. - Na minha sincera opinião, aquele carrinho não deveria ser tão pesado, e nem estar estacionado na entrada do meu reservado.

– O óculos de Ray? Você quebrou os óculos do nosso funcionário dando um golpe de Jiu-jítsu nele.

– Em minha defesa, foi um golpe de krav maga. E estava escuro, eu não vi que era o Ray, simplesmente me defendi. Pensei que era alguém invadindo a Redação!

Tudo Pela ReportagemWhere stories live. Discover now