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Uma coisa importante sobre mim: Eu não sou uma pessoa matinal. Não sou uma pessoa vespertina, tampouco. Ou até mesmo noturna. A verdade é que se pudesse escolher, permaneceria para sempre na minha confortável e quente cama.

Quem não gosta de passar a tarde toda em casa assistindo um bom filme ou uma série de TV?

De todos os sacrifícios diários que um ser humano tem que fazer, acordar cedo para mim é o pior deles. Principalmente se na noite anterior você estava tão ansiosa que mal conseguia pregar os olhos, esperando aquela tão sonhada ligação.

No meu caso, a ligação não era de um homem charmoso e decente para o qual dei meu número alguns dias atrás. Ah, a vida seria fácil e colorida se essa fosse minha única e maior preocupação.

Fácil e colorida não são bem as palavras que eu usaria pra descrever a minha atual situação no momento. Estava mais para trevas e preto, marrom e cinza.

Na verdade, eu esperava ansiosamente pela ligação de um homem ruivo de 1,50 metro de altura e uma protuberante barriga saliente, e que estava longe de ser considerado alguém charmoso ou decente — esse último, talvez, mas definitivamente não por um dos seus funcionários.

O homem nada charmoso, mas talvez decente, era também conhecido como o meu editor-chefe, Joey. Ou, como circulava pela Redação do jornal: O duende.

Não se deixe enganar pela altura, o duende tem mais inclinações diabólicas do que angelicais. Pelo menos quando estava de mau humor, o que se resumia a práticamente 24 horas do dia.

E enquanto esperava pela ligação, roí todas as minhas unhas de ansiedade. Não satisfeita, devorei uma caixa inteira de Froot Loops.

De pernas cruzadas no sofá, xinguei a mim mesma por sempre acabar numa situação delicada como aquela. Fazia tanto tempo que eu estava ali, encarando o telefone, que acreditei conseguir derretê-lo com o poder da minha mente, ou pelo menos fazê-lo tocar.

Então o telefone tocou, e eu pulei para agarrá-lo, quase caindo do sofá. Embolei-me entre o fio encaracolado da linha e atendi antes que o primeiro toque se quer completasse.

– Alô?!

– Scott. – resmungou Joey do outro lado, chamando-me pelo sobrenome, indícios de que estava de humor. Que surpresa.

– Sim, sou eu – balbuciei, saltando do sofá e começando a andar nervosamente pela casa com o meu cachorro, Seth, seguindo-me fielmente.

– Você volta para o trabalho amanhã. Passe na minha sala, teremos uma reunião bem cedo antes de você começar.

Afastei o telefone e comecei a comemorar fazendo uma dancinha ridícula, deixando sem querer uma tigela de cereal cair do balcão e esquecendo completamente de responder o meu chefe.

Era a última porção de Froot Loops que eu tinha!

– Scott, está muda!? – Joey perguntou impaciente. Fiquei na ponta dos pés para não encostar no leite que se espalhava pelo chão.

– Oi! Sim, Joey. Perfeitamente, te vejo amanhã. Obrigada, obrigada! Você não vai se arrepender.

– Hum. É bom mesmo – ele retrucou e desligou sem muitas delongas.

Continuei a comemoração, quase escorregando no leite, porém um pouco mais aliviada.

Depois do incidente com a polícia, Joey havia me afastado do Jornal até resolver o que faria comigo. Naquela noite de domingo ele finalmente ligou, aliviando metade da minha preocupação. Mas é claro que fiquei tão elétrica com a notícia que o sono demorou para vir, o que acabou me prejudicando no dia seguinte.

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