42. [Final]

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Abri o os olhos e imediatamente reconheci o homem ao lado da minha cama. Ele rezava baixinho com os cotovelos apoiados no colchão onde eu me encontrava. Seu cabelo estava começando a ficar grisalho e ele definitivamente precisava de um corte, a sua blusa branca estava amassada, aberta nos quatro primeiros botões e os seus lábios se moviam numa prece silenciosa e rápida.

– Papai – sussurrei com a voz arranhada.

Os olhos azuis-escuros do Sr. Scott se abriram. Ele sorriu de alívio e se aproximou mais um pouco.

– Oh, minha princesa, você acordou. Eu estava tão preocupado... – papai sussurrou de volta e sorriu para mim, afagando o meu rosto da maneira mais cuidadosa possível.

Eu podia entender o porquê Scarlett se apaixonou por ele. Além de ser um homem exemplar, papai era bonito. Ele tinha o rosto de um galã dos anos noventa, sem falar do belo e incrível cabelo. Os olhos azuis-escuros e intensos ajudavam a completar o visual. Seu sorriso aliviado me fez sorrir também, apesar de eu me sentir um caco.

– Deixe-me adivinhar... Estou em um hospital. De novo. – grunhi e desisti de tentar me mexer na cama. O corpo ainda estava pesado e dolorido.

– Sim, meu amor. Você está no Hospital Monte Sinai. Levou um tiro, mas o médico retirou a bala, ela não atingiu nenhuma parte vital do seu corpo – o rosto do meu pai se franziu, o que era um péssimo sinal. – Nós precisamos conversar, Elizabeth.

Papai nunca, nunca, me chamava pelo meu nome inteiro, a menos que ele estivesse profundamente chateado. A minha mãe se chamava Elizabeth também, então ele evitava usar o nome da ex mulher que o deixou para seguir sua amada profissão.

– Eu sei, decepcionei você, menti e fiz coisas extremamente perigosas. Mas posso ser sincera? Não me arrependo, tudo o que eu fiz valeu a pena!

Papai me encarou, sem dizer nada por alguns segundos, depois riu.

– Na verdade, eu queria dizer que estou orgulhoso de você.

Aquilo sim me pegou de surpresa.

– O quê?! – engasguei. – Não está furioso, desapontado?

– Não, de maneira alguma! Quer dizer, eu estava, antes de ler a sua matéria e agora estou orgulhoso de ter uma filha tão obstinada e corajosa... Parece que no final das contas você puxou mesmo a sua mãe.

Eu estava estupefata. Talvez o remédio que o Dr. Johan me deu era realmente muito forte e eu estivesse sonhando ou alucinando. Só podia ser brincadeira.

– Mas eu menti para você!

– Isso é culpa minha, se eu fosse mais flexível você não teria precisado mentir.

Eu me recusei a acreditar.

– Eu me casei em Las Vegas!

– É, eu estou ciente disso. Fiquei surpreso, mas... Acho que posso viver com isso. Falo sério, Lizzie. Estou orgulhoso de você, meu amor, e não furioso.

– Eu comi comida de carrocinha e tive intoxicação alimentar!

Papai arregalou os olhos e fez uma carranca.

Agora eu estou um pouco chateado – ele admitiu.

Eu gargalhei, mesmo sentindo dores pelo corpo inteiro ao fazer isso. Papai me acompanhou na risada.

– Ah, papai, senti sua falta... – suspirei e alcancei sua mão. Ficamos um bom tempo assim, juntos, até eu me lembrar do que ele tinha falado. – Espera, você disse que leu a minha matéria? Como assim? Ela saiu, mas já? Por quanto tempo eu dormi?

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