25.

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Eu estava no chão da sala, mordendo a ponta do lápis enquanto encarava toda a papelada ao meu redor. Fazia exatamente três horas que eu estava ali, sozinha em casa, escrevendo o texto da Reportagem. Scarlett tinha saído para sua primeira festa em uma boate gay com Ray e Grant, o namorado dele.

Aproveitei a oportunidade da casa sozinha para redigir o meu texto. Escrever era uma atividade relaxante, e enquanto fazia isso, o meu próximo plano ia ganhando vida em minha mente. Era bem audacioso, mas a situação não me permitia ser cuidadosa. Eu teria de arriscar. E muito.

A minha matéria começava com uma retrospectiva da vida empresarial de Slender. Sua empresa ganhando terreno nacional e internacional, sua influência e riqueza no ramo... E, é claro, seu espírito filantropo. Tomei por base o título da matéria de uma revista que dizia: Marco Slender: Filantropo, Empresário ou Ascendente Político?

No meu texto, comecei dizendo o porquê Slender não podia ser um filantropo. Usando das provas que eu tinha, desmascarei todas as qualidades com as quais um dia nomearam aquele empresário. Depois, mostrei o que ele verdadeiramente era: ganancioso e assassino. Quanto a sua provável carreira política desbanquei com as provas que achei em sua pasta verde.

Na verdade, foi Homero quem achou. Ele estava vasculhando pelas fotos quando encontrou alguns papéis presos com clipe e começou a analisa-los. Era o que Slender tentara esconder de mais precioso, presumi eu.

Para mim aqueles papéis se resumiam a gráficos e números sem muito sentido, mas Homero tinha certeza absoluta que aquilo significava mais um crime de Slender: Sonegação de impostos.

- Levarei isso para Iuric, ele confirmará. – garantiu Homero.

- Tem certeza que Iuric é confiável?

- Ele é o meu melhor amigo. Confio plenamente nele.

Homero deu um sorriso torto para mim, e eu assenti. Scarlett estava bem ao meu lado, não queria que me visse trocando olhares furtivos com Homero, já bastava ela ter ficado a noite inteira tentando enfiar a palavra "Homeleth" em toda frase que saia de sua boca.

Homero chegou a discretamente me perguntar se isso era alguma indireta e indicava que Scarlett ainda estava com fome e se por acaso ela queria um omelete.

Eu só pude rir da sua inocência, contendo-me para não beijá-lo ali mesmo.

Parei de escrever por um momento e afastei notebook, trazendo o caderninho para perto. Mais ideias para o meu plano. Ia precisar de uma echarpe de animal onde uma câmera pudesse ser escondida... Anotei isso rapidamente enquanto pensava em um modo de conseguir a tal echarpe. Ela ia ser essencial e até combinaria com a personagem que eu estava montando.

Minutos depois meu estômago roncou tão alto que Seth, deitado e me observando trabalhar, ergueu as orelhas e latiu. Gosto de imaginar que ele dizia algo como: Humana, você precisa comer!

- É, eu sei. Estou morrendo de fome. – retruquei para ele deitando a cabeça em cima da papelada. Estava mentalmente cansada, não tinha forças para ir até a cozinha e preparar algo. Meus olhos sonolentos se fecharam... Hum, sim, eu também precisava de um cochilo. Sentia-me tão esgotada...

A campainha tocou e Seth foi correndo até a porta, farejando por baixo dela. Ele latiu e olhou para mim, expectativa em sua expressão. Quando continuei na mesma posição, Seth veio até a mim e lambeu meu rosto.

- Tudo bem. Tudo bem. Entendi, estou indo abrir a porta! – murmurei para o meu cachorro. Ele sentou-se sobre as rodinhas, esperando.

Eu me levantei e arrestei os pés preguiçosamente pela sala, abrindo a porta com um bocejo. Se fosse o Sr. Ling, diria a ele que estava trabalhando duro para conseguir seu dinheiro. Se fosse Helga, a vizinha do outro lado do corredor, eu diria que infelizmente não tinha sal em casa dessa vez. O que não seria mentira, o sal havia acabado. Estranhamente, Helga estava sempre desesperada por sal. Eu não queria pensar que ela precisava do sal para rituais satânicos, como o Sr. Ling tinha sugerido, não queria mesmo. Mas a possibilidade passou pela minha mente, não vou negar. Era mais fácil acreditar que ela adorava comidas salgadas, só. Afinal, onde sal se encaixaria em um ritual satânico?

Tudo Pela ReportagemWhere stories live. Discover now