19.

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Fiquei encarando a tela do computador, pensando no que fazer com a minha vida. O meu pai estava vindo para Nova York. Chegaria, na melhor das hipóteses, amanhã ou hoje à noite, dependendo das conexões que ele faria. Papai odiava conexões, então escolheria o voo mais rápido.

O meu celular tocou.

- Alô? – atendi com a voz trêmula tentando imaginar porque papai não me contara. Será que o Sr. Ling havia entrado em contato, como ele ameaçara? Será que Homero Smith havia enviado por correio a minha ficha criminal e agora o meu pai sabia que eu não estava melhorando, me tornando uma pessoa melhor e continuava atraindo desastres?

- Oi, Lizzy? Eu liguei para saber... – Homero começou mas não lhe dei tempo.

- Você por acaso não seria tão baixo ao ponto de mandar a minha ficha criminal para o meu pai, não é? Nós tínhamos um acordo. Como pôde ser tão baixo?!

Homero engasgou.

- Eu não fiz isso. – ele parecia confuso. Do outro lado da linha percebi que se afastara do burburinho de vozes que estavam perto. – O que houve, Lizzy?

- Tem certeza? – eu insisti roendo as unhas e girando a minha cadeira de maneira nervosa. Ray, como um bom amigo, pegara sua revista da Vogue e começara a abanar o meu rosto, que por acaso estava suando frio. – Talvez tenha mandado sem querer, enviado por engano?

- Não, eu nunca faria isso. – ele me garantiu e não senti hesitação na sua voz. Estava sendo sincero.

- Ah, mas que droga. – gemi coçando a cabeça e fazendo uma careta de desespero para Ray. Ele abanou a revista mais rápido e me ofereceu seu melhor sorriso tranquilizador.

- O que aconteceu? Posso ajudar em alguma coisa?

Eu ri.

- Bom, se tiver oitocentos e quarenta dólares para que eu pague o aluguel, ajudaria. – ironizei. – O meu pai vai ficar uma fera, perguntar o porquê não paguei o Sr. Ling e serei obrigada a contar sobre a fiança da cadeia!

Bati meus pés no chão com impaciência, logo em seguida me levantando e andando pelos poucos metros cúbicos do meu reservado. Não conseguia ficar parada quando estava aflita.

- É só desse dinheiro que você precisa? – Homero perguntou levando-me a sério.

Eu parei de andar.

- Não. Eu estava brincando, estava sendo sarcástica. Não quero seu dinheiro, Homero.

Ele suspirou.

- Você pode me pagar depois. Apesar de eu achar que seria melhor contar a verdade para o seu pai de uma vez de todas, mas se você acha que não...

- Definitivamente não. – interrompi-o. – Você não conhece o meu pai. Eu o amo, é um pai maravilhoso, só que... super protetor.

Homero riu.

- Lizzy, quem pode culpá-lo? Sabe-se lá Deus o que esse pobre homem passou com você na adolescência...

Segurei o celular com força.

- Escuta aqui, só houve um incidente realmente grave, e não foi culpa minha, foi culpa do professor de Química. Ah, os bombeiros nem consideraram um incêndio de verdade... – eu fechei os olhos. – Mas isso não interessa.

Homero escondeu a gargalhada com um pigarro.

- Lizzy, deixe-me ajudá-la. Pegue o dinheiro emprestado e me pague quando puder, talvez depois que ganhar o seu Pulitizer. – ele brincou imitando o que eu sempre dizia. Era incrível como já me conhecia a esse ponto.

Tudo Pela ReportagemWhere stories live. Discover now