Os gritos

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Aos pouquinhos eu percebi que não estava tão fraca e me sentei na cama. Examinei os curativos dos pulsos que ainda doíam tanto e puxei com força. Machuca! Tirei a atadura com todas aquelas coisas de médico que colocaram dentro. Isso deve estar me fazendo mal... Meu pulso está feio, machucado aberto sem casquinha nem nada e dói, arde!
Passei meus olhos em volta daquela sala nova. Tão fria e úmida quanto a outra, mas agora a porta estava fechada. Tem a cama onde estou e a porta. Onde vou fazer xixi?
- No chão. - Ele voltou a falar comigo. O moço do nome esquisito disse que ele ia falar menos comigo! Ele mentiu?
O chão agora está sujo e com cheiro ruim. Tampei o nariz com a ponta dos dedos e bati na porta, ressoando aquele som metálico pelo ambiente. Tinha uma portinhola ali na porta que eu não tinha visto e abri, olhando lá fora com medo. Eram outras portas de metal e tinha gente gritando! Muita gente gritando. Meu coração ficou rápido, rápido! Tem gente sentindo dor. Não pode!
- Não mata eles, não mata!! - Gritei para salvar alguém. Alguém quem? Não sei, mas gritei. Grito de dor incomoda, é triste. Continuaram gritando e bati na porta em busca de alguém para ajudar. - Não machuca eles!!
Um rosto apareceu na portinhola, muito perto! Levei um susto e caí de bumbum no chão. Muito muito perto! Tinha olhos castanhos grandes, arregalados. Riu para mim, ou... De mim.
- Oi mocinha! É nova aqui? - Ele perguntou com maldade. Não estava de branco. Não é moço que trabalha aqui. Tentei entender, mas não sei entender muito bem. Voltei a levantar e fui até mais perto para olhar.
Fugi. Fugi quando ele tentou me pegar. A mão dele entrou pela portinha! Entrou suja! Suja de sangue. Corri pra cima da minha cama e sentei lá encolhidinha bem longe da porta. Me cobri. É assim que os pesadelos vão embora. Ele não foi. Não foi e queria morder. Quer morder a Sarah! A boca dele também está suja. Mas ele não me mordeu. Quem ele mordeu?
- Vai morrer. Você vai morrer. - Não, moço! Eu não quero morrer! Mamãe vai ficar preocupada e triste! Não quero que mamãe fique mais triste.
"CABUM!" fez um barulho alto e ele não estava mais ali. Não saí da cama. Meu corpo treme de medo, principalmente quando a porta se abre. Seguro com força o cobertor.
- Não machuca a Sarah! Não machuca! - Pedi apertando meus olhos fechados. O moço me deu medo. Estava sujo de sangue! Vai machucar a Sarah!
- Vai morrer!
- Ele já foi. Está tudo bem. - A voz era de outro moço. O médico que ajudou a me limpar, que tem nome que Sarah não sabe falar. Ele me salvou. - Se lembra de mim? - Ele pergunta baixo, sem gritar, sem me assustar. Estava entrando no quartinho devagar e preocupado. Preocupado com Sarah!?
Ainda tremendo abri os olhos e tirei o cobertor da cabeça. O moço mau não estava ali.
- Herói. - Ele me salvou. O moço do sangue ia me matar! Ia me morder! - Não me deixou morrer.

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