Bem Vindo.

172 9 6
                                    

Thiago Saether

Chegou o dia tão esperado de receber o meu mais ilustre paciente; Adib Jatene. Preparei um dos quartos mais frios da nossa ala masculina para seu conforto. Sei que os ratos o farão companhia durante a noite. Jatene chegou em meados da tarde preso em sua linda camisa de força. Um breve e delicioso sorriso de canto de boca surgiu em meus lábios ainda marcados pelos cacos de vidro de nosso último encontro a alguns meses. 

É uma das melhores cenas da minha vida. O ex-psiquiatra está com o cabelo desgrenhado e ainda grande, barba mal raspada e um olhar perfurante contra mim. 

– Filho da puta! – Jatene me xingou entre os dentes e seguiu em minha direção lentamente rumo a um de nossos banheiros.

Fiz questão de me aproximar enquanto o levavam, adorarei acompanhar de perto este caso. 

 Bem vindo ao Island Asylum, Adib. – O olhar feio do homem lembrou-me de quantas vezes me disse que odiava esse nome e, agora não precisamos chama-lo de doutor Jatene. Adib é um chamamento adequado ao verme que se tornou.

Forçou as suas amarras ao passar pelo meu lado, mas de nada funcionou. Os enfermeiros o empurraram até o banheiro para uma cadeira, onde o prenderam com fivelas. O cabelo de "Adib" aos poucos caía pelos próprios ombros enquanto a máquina de corte fazia seu trabalho. Não gostamos de pacientes cabeludos por causa dos piolhos, as condições de higiene dos loucos são precárias.

O ódio do homem é palpável e, seu pesadelo só está começando. Não falou sequer uma palavra mesmo durante o 'banho' frio. O inverno ainda maltrada o nosso hospital com seu vento gelado e, infelizmente não dispomos água quente aos pacientes. Os jatos de água deixavam difícil o trabalho de manter-se de pé, ainda mais de mãos atadas. Trata-se de um paciente hostil, preferimos não arriscar e fizemos o banho sem tirar a camisa de força. Claro que ficou encharcada, mas ver os dentes de Adib batendo de frio não é uma cena tão dispensável. 

Não demoramos para leva-lo até o quarto que preparei pessoalmente para recebe-lo. Contivemos o paciente na cama mesmo com a camisa de força, e logo pedi para que os enfermeiros chamassem o médico responsável pelos cuidados desse paciente tão ilustre. Ele não demorou para chegar. Ainda não está totalmente recuperado, mas estamos conseguindo uma boa evolução com Erick. Seria bom um caso tão grande para um médico problemático. 

Erick Griffin chegou com toda sua pompa, ansioso para ver Jatene tão vulnerável, e não conseguiu esconder o sorriso satisfeito.

– Então, Jatene... Veio ficar no lugar da minha bonequinha? – Griffin provoca descaradamente tocando na forma com que ele chama Sarah e tira Adib do sério de uma forma linda de ser vista. Ele urrava e xingava em ódio enquanto tentava soltar-se de suas amarras e víamos seu corpo tremendo ainda com o frio que o castigava. 

Em um pequeno instante de descuido de Griffin, Adib consegue cuspir no seu rosto, que limpa com raiva e acerta o rosto do ex-medico com seu punho. 

– Você é só mais um louco. Eu não tenho pena de machucar pessoas como você.

– PESSOAS COMO NÓS DOIS! VOCÊ É UM MERDA!! ESTUPRADOR!! A CULPA DA SARAH ESTAR MORTA É SUA!! – Adib berrava a ponto de ficar vermelho. Erick, por sua vez olhou para mim em tom de quem pede permissão, consenti com a cabeça e logo dei as costas e retirei do local, mas não sem antes ouvir as palavras de Griffin aos enfermeiros presentes.

– Amanhã faremos a primeira ECT. 

Tenho algo importante a fazer ainda no dia de hoje, acredito que já deve estar na hora. Sigo pelos corredores vazios lentamente até o final do corredor. Nossa solitária tem estado bastante ocupada nos últimos meses e, bom... Foi feita para uma, e não duas pessoas.

Ao abrir a porta, apenas minha presença a assustou o suficiente para terminar de expulsar aquela criança do ventre. Está claramente cansada, mas mesmo assim abraçou aquele pequeno ser recém-nascido com toda sua pouca força. Cortei o cordão umbilical com um tesoura que guardei em meu bolso especialmente para esta ocasião. Não foi difícil puxar a criança dos seus braços ao pisar em sua barriga dolorida. Essa criança, assim como o corpo de sua mãe são de propriedade do Island Asylum. 

Island AsylumWhere stories live. Discover now