Psicólogo.

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Sarah Casten

Os moços chegaram no meu quarto. São sempre bravos demais. Eles tem raiva de mim, eu sei que tem. Eu estava chorando pelo meu irmãozinho. Eles vieram. Machucam meus bracinhos puxando para fora da cama. Puxam com força e quase caio! O corredor é grande. Úmido. As paredes tem manchas pretas e cheiro de mofo, que fazem Sarah querer espirrar.

Chegamos numa sala. A sala tem um moço sentado atrás da mesa. Um moço esquisito e careca. Careca com nariz torto! Os moços que me puxavam colocaram eu na cadeira e puxaram aqueles negócios para me amarrar. Parecem buraquinhos de cinto, mas não são para calças, são para braços e pernas da Sarah. Tento mexer. Mexer os braços e as pernas. Não quero que amarrem! Não quero, isso dói!! Sarah não gosta de dor não.

Não amarra a Sarah!! Não amarra por favor! – Pedi e o moço feio e torto de barba mal feita concordou.

Sarah Casten, você vai ser uma boa menina se eu não te amarrar? – Voz aveludada. Lenta. Olhando para eu. Balanço a cabeça. Vou ser uma boa menina.

Os grandões brutos saem e Sarah não ficou presa. O moço voltou a falar.

– Ele é mau! – A voz não mente. Ele é mau. Mau e feio. 

– Sou Erick Griffin, seu psicólogo. Mas, Sarah... Estou aqui para falar de você. – Os olhos dele me incomodam. Incomodam muito. Não gosto! Cadê o herói? Desvio o olhar. Não olha no meu olho, moço! Não olha lá dentro! – Você ouve vozes na sua cabeça? Vozes que te pedem para dizer coisas, fazer coisas? Vozes que... talvez... disseram para fazer aquilo com o seu irmãozinho...

Irmãozinho. Irmãozinho. IRMÃOZINHO!! – Para de gritar, moço! Para! 
• ASSASSINA! • – Fecho os olhos apertando. Foi sem querer... Não foi de propósito, irmãozinho! Ele tinha parado de gritar! Estava perdoando! Estava! Agora ficou bravo de novo. Bravo por causa do esquisito!
— O moço mau mora na minha cabeça. Ele manda... Ele mandou fazer aquilo com a moça lá no pátio também. Falou coisas ruins.

• Assassina • – Pára, irmãozinho... Isso deixa a Sarah triste!

Diz que eu é assassina.... Não queria machucar, não queria. Era para Sarah morrer, não irmãozinho. – Ele mexe a cabeça pros lados. Não acredita? Não acredita em Sarah? 

Sarah, você sabe onde está? – Arregalo os olhos. Por que pergunta assim tão estranho? Não respondo e ele continua. –Você está num hospital de malucos. Isso que você ouviu não é verdade. É coisa da sua imaginação, mocinha. Agora, você vai viver aqui para sempre. 

– Inferno para sempre! – Não, não é imaginação! Não é! É verdade, ele mora aqui dentro. Ele não acredita, igual a papai. 

Doce Sarah, você precisa de aliados. Pessoas para ficar do seu lado e te ajudar a não fritar ainda mais sua cabecinha aqui dentro. – Ele fala devagar e vem para perto de Sarah. Veio para perto. Muito perto de Sarah. – Posso ser seu melhor amigo.

Mão quente! Que mão quente, moço! Por que está passando na minha perna? O short daqui é largo. Não aperta a Sarah, moço! Vai ficar vermelha. Sarah não consegue falar. Nem falar nem olhar. Olha para baixo.

 Eu posso ser seu amigo se você fizer alguns favores para mim. – As unhas entraram no meu rosto. Machuca! O moço também quer me machucar? Sarah não entende, mas tem medo. Tem medo e treme. O coração bate rápido. Muito rápido. – O que me diz, bonequinha?

– Diga não, retardada! – Ele manda e Sarah nega com a cabeça na mesma hora.

Não. – O moço esquisito não fica bravo. Não fica! Faz carinho na cabeça da Sarah. Carinho ruim. Carinho no pescoço. Carinho no corpo da Sarah. Não aperta aí moço! Nesse lugar não pode! Aí dói! – Sarah disse não! 

– Chute ele! – Agora ele ficou bravo! Chutei com o joelho! Chutei o lugar que ele estava passando a mão o tempo todo. Chutei entre as pernas dele. O moço não vai conseguir fazer xixi. Ele xinga! Xingou a Sarah! 

Ele quer bater na Sarah! Ele quer! Sarah levanta com pressa. Abre, porta! Abre! Sarah puxa a porta para abrir! Puxa! Abre! Vai, porta, abre! Ele está bravo. Bravo e já está vindo! Vindo para pegar a Sarah! Ele vai machucar a Sarah!! Porta não abre! Não abre! 

Solta eu moço! Sarah grita e ele segura eu. Segurou Sarah com força nos braços. Braços para trás e rosto na mesa. Ele atrás de eu.

 Você deveria ter escolhido o caminho mais fácil. – Ele fala no ouvido da Sarah. Bafo quente! Nojo. Nojo do moço. Apertou meu rosto na mesa. Apertou com força e não pode sair. Não pode! Beijo na nuca da Sarah. Não pode!! Papai briga, moço! Não pode! 

Deixa a Sarah! Deixa. Papai briga, moço!! Não pode beijar a Sarah!

– Seu papai não quer mais você. Você está sozinha comigo, Sarinha. – Está com o corpo grudado no corpo da Sarah, por cima. Não quer. Não! Eu não consegue sair. Não consegue e grita. Sarah grita. Grita muito. Grita e sente que ele puxou cabelo. – Te vejo de noite. 

A cabeça de Sarah bateu com força na mesa. Doeu. Doeu de verdade. Sarah viu o sangue dela. Viu! Viu sim! 

Enjoada. Enjoada e tonta. Tonta e o moço espetou o bumbum. Mais remédio? Remédio para a Sarah. Sarah não conseguiu ficar acordada não. Sarah dormiu rápido.

Island AsylumWhere stories live. Discover now