Olá, judeu.

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Jonas Bencke

Ninguém soube da minha escapadinha. Não souberam e o babaca pensou que tivesse sido a Sarah. Mas é muito animal mesmo! De qualquer forma, me fingir de dopado é a melhor forma de conseguir mordomias. O enfermeiro amigo meu veio me dar comidinha na boca. Ainda está com raiva de mim por causa da nuca, mas é a vida. Num dia batem na sua cabeça, no outro você bate na cabeça deles....

Que nojo! Salada! Eu não gosto dessa merda de salada! Não tem carne! Não tem sangue. Comi essa bosta assim mesmo. Preciso que me tirem daqui. Quem é que come inhame e batata por diversão? Alface tem gosto de nada! 

Não tardou. Tiraram a camisa de força e minha fucinheira. Tiraram e me levaram para o meu quarto. Um quarto aberto! Que delícia de lugar. Lamento que se trate de uma ala masculina. Prefiro sangue de mulheres. Prefiro cheiro das mulheres, o gosto delas. Me deixaram logo sozinho. 

Saí para explorar minha casinha. Homens fedem a merda e a mijo. Mulheres são lindas com cheiro de sangue. 

As salas de tratamento de contenção estão logo ali. Trocaram de lugar? Talvez. Vou lá olhar. Olho na janelinha. Tem um cara lá dentro. Todo torto pra caber no cubículo quente. Sorte dele que meu coração é bom.

Abro a porta ao quebrar o cadeado e o cara cai ofegante aos meus pés.

– Bem vindo a liberdade! – Ele é menor que eu. Fraquinho, sem tatuagens, sem músculos, sem cicatrizes. Que cara chato! Chato e ainda tenta respirar. Usei a ponta do meu sapato para vira-lo de barriga para cima. Medroso do cacete! Se encolheu todo para se proteger. – Não vou te chutar. Prazer, sou Jonas Bencke.

– Natan. Natan Kerby.

Sorri mas não causei tanto medo com o dente sujo de alface! Eu não sou herbívoro! Ele fica olhando para minha cara sem mexer um músculo. Bocejo entediado esperando o rapaz levantar do chão. Que lerdo! Puxo pelo braço, colocando-o de pé em minha frente.

– Você é novo aqui? – Perguntei simplesmentePreciso de um chiclete.

– Duas semanas. Os nazistas não me encontraram. – Só me faltava essa. Um judeu louco. Dei outro sorrisinho e acenei. É melhor ir embora daqui. Ele me segurou pelo braço. Ao menos o nanico é corajoso... Corajoso ou nunca ouviu falar de mim. – Me ajude a fugir deles!! Eles estão nos vendo! – O descacetado das ideias se vira para voltar para o cubículo, e o pior! O doido está me puxando pra dentro daquele forno com ele. Seguro pela gola e o puxo para longe dali.

– Que nazista?! Ta louco é? Vem. Eu vou te levar para um dos quartos. – Ele não queria vir, nas não ligo e puxo assim mesmo pela camisa do uniforme fedido. – Vou te apresentar o mundo dentro do inferno. 

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