O médico e o louco.

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Adib Jatene

Não consegui pregar o olho a madrugada toda... Acredito que o sol já tenha nascido a horas. O louco ainda não retornou. Estou exausto, o balanço das ondas me enjoa, com fome e com sede... Talvez seja assim que meus pacientes se sentiam. Finalmente me pus de pé e tentei procura-lo com meu olhar. Nenhum sinal por horas! Horas! Até eu ouvir um barulho alto. Um homem, ele correu até a sala onde eu estou e fechou a porta com tantos trincos quanto eram possíveis.

– Um louco!! Louco no nosso navio! – Dirigiu a palavra a mim num tom de voz baixo, como se fosse um segredo.

– Eu o vi. Preciso que me tire daqui, eu posso ajudar. Fui psiquiatra dele! Ele é o mais perigoso, ele vai matar muitas se não o capturarmos logo. – Precisei mostrar a urgência. Jonas é muito mais perigoso do que ele pode imaginar.

O homem olha já desconfiado, mas para minha sorte tira do próprio colar a chave que me daria a liberdade. Ele abre e eu saio com meu pedaço de metal. 

 O nome dele é Jonas. Ele mata mulheres para tomar o seu sangue. Precisamos protege-las. – Expliquei rapidamente um pouco do que sabemos do funcionamento de Jonas.

– Ele estava próximo ao alojamento feminino... – Peço para que o homem abra a porta. Precisamos fazer alguma coisa.

Seguimos pelos corredores com precaução. Se o louco tiver qualquer sinal de mim vai atacar e, temo que esse pedaço de metal não consiga me ajudar tanto. 

Os gritos recomeçaram e eu corri. Corri e fui seguido pelo homem de meia idade que me acompanhava. Jonas acabara de derrubar uma das portas e alcançava uma mulher. Eu vi a hora exata em que ela, em total desespero tentou fugir em nossa direção, mas foi brutalmente puxada pelos cabelos rumo ao chão. Imediatamente a boca de Bencke encheu-se do sangue dela. 

 Jonas! – Chamei na tentativa de desviar a atenção para mim, mas nada adiantou. Com gestos pedi para que o homem que me acompanhava ficasse longe. Eu preciso tentar. 

Claro que ainda estou tonto. Não deveria me expor a isso agora, não estou bem o suficiente. Não deveria, mas não podemos deixa-lo matar desenfreadamente. Está mais grave do que jamais vi. 

Em situações "normais" para o seu padrão, Jonas mata sua vontade com uma mulher, duas no máximo. Agora? Já parece ter matado quantas viu em seu caminho. Está perturbado. Insano. Perdido em seu delírio enquanto sujava-se com o sangue da mulher à minha frente não viu que me aproximei. 

Preparei meu bastão de metal. Eu posso crava-lo nas costas de Jonas, eu posso acabar com isso. Eu vou. 

Não percebi quando Jonas se deu conta que eu estava lá. Eu estava perto demais!! Merda! Ele praticamente voou para cima de mim e caí de costas no chão, segurando o metal que já torcia com a força dele. 

O sangue pingava de sua boca em meu rosto e isso só parecia piorar sua ira. Ele segurou também a estaca no intuito de me enforcar. Meus músculos pareciam de papel perto dos músculos do louco, em segundos o ar mal passava pela minha garganta. 

Puta merda!! Acertou seu punho uma vez em meu nariz e foi o suficiente para me deixar tonto. Agora meu corpo se contorce em busca de ar, socos vem em meu rosto e minha garganta dificultando ainda mais de respirar. ME SOLTA!! SEU FILHO DA PUTA! Eu tento lutar!! Tento chutar! Não sei como ele consegue ter tanta força! Respirar é impossível e, por mais vontade que eu tenha de voltar a ver minha princesa... Jonas consegue vencer meu corpo. 

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