O que heróis fazem.

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Era ele. Ele sim! O médico dos olhos bonitos e nome esquisito. Ele ri um pouco do apelido, mas negou.

– Herói? Não, não... Não sou herói. Sou o seu médico. – Ele veio e me olhou fundo. Tão fundo que acho que ouviu o ruído da minha cabeça. – Ele te machucou?

Nego com a cabeça rápido. O herói dá atenção para mim. Eu gosto da atenção. A cama estava quentinha embaixo das cobertas.

– Quem era? Ele machucou alguém! Tinha sangue!! Sangue! – Meus olhos arregalaram, eu senti. Olhei para a porta, o moço mau ja foi embora.

Ele tenta explicar que não era de verdade. Sempre fui confusa, devo estar confundindo.

– Um paciente. Não era sangue, era ketchup. Só querem lhe pregar uma peça por ser novata. – Devagar se aproxima de mim. Gosto dele. Ele é herói, me salvou duas vezes!

O olhar dele me pediu permissão e eu concordei. Sentou na minha cama e dei quase um sorrisinho.

– Ketchup não tem cheiro de sangue. – Concordo com a voz e desconfio do médico apertando os olhos e cruzando os braços.

– Tinha cheiro de sangue. 

– Perdoe-os por isso. Eles não fazem por mal.

Decidi não discutir com o moço. Papai dizia que Sarah é confusa. Abaixei a cabeça e mexi nas minhas unhas quebradas para desviar o olhar. 

Minhas unhas eram bonitas... Porque quebraram elas? Agora estão com fiapos... Tento catucar a unha para deixar mais lisinha. Assim machuca! Machuca para coçar.

– Eu quero ir para casa. – Pedi baixinho. Em casa não cortavam as minhas unhas... Me tratavam bem. O herói podia me deixar voltar.

Ele estende a mão para mim, quer que eu seja amiga dele. Eu? Amiga de um herói de verdade?! Eu quero ser amiga dele.

– Eu sei que quer. Me desculpe, mas não pode. – Diz o herói.

Ele quer me prender aqui para sempre? Não vai me libertar? Ele é o herói! Ele salva as pessoas! Por que não me deixa ir embora? Sarah ficou tristinha e a voz voltou mandar.

– Bate na mão dele!! Ele quer te trancafiar aqui para sempre! – Dou um tapa na mão dele enquanto franzi o cenho irritada.

– PORQUE NÃO POSSO?! VOCÊS NÃO PODEM ME PRENDER!! – O cobertor estava no chão e fiquei irritada. Ele não pode prender eu!

Bravo! Ele ficou bravo! Me segurou pelos ombros com força, machucando meu corpo! Meu corpo! Ele é mau? Era para ser o herói. Meus olhos ficam ardendo, cheios. Não consigo ver com tudo embaçado de lágrimas!

– Ouse tocar em mim de forma ofensiva novamente, ou gritar comigo, e eu juro que você verá o que realmente é uma prisão. Entendeu? – Rosto de Sarah ficou vermelho e o xixi saiu de Sarah por causa do medo. Saiu e molhou a cama. Agora Sarah não tem mais onde dormir quentinha. Vergonha... Muita vergonha. Sempre fui muito medrosa. O herói machucou. Ele me solta e sai de perto, cruzando os braços já de costas para mim, indo para a porta. Fiz errado.

– Você está aqui porque você precisa de cuidados médicos. – Ele é o herói, o médico... Sarah machucou o irmãozinho. Por isso ele é mau comigo! Por isso. Fico encolhidinha na cama para ele não fazer mal a mim. Ele pode! Eu machuquei o irmãozinho. Me cobri na caminha molhada e já ficando fria. Tudo com cheiro ruim. Sarah é má, por isso está presa e com frio. Não queria ser má... Queria ser boa e salvar mamãe e papai... Mas não consegui. Sinto saudades do cheirinho deles.

– T-ta. Desculpa. – Falei baixinho, gaguejando. Com medo de deixar o herói bravo. Heróis bravos são maus com meninas que machucam as pessoas.

Island AsylumWhere stories live. Discover now