"Foi ele!"

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Tomaz Bellucci

Sarah gritou. Gritou e chorou. Eu não consegui fazer nada. Fiquei olhando. Thomas machucou ela! Agarrou ela e fez coisa feia! Ela chorou lá. Eu chorei aqui. Ela pediu socorro, pediu ajuda e eu não ajudei. Não sei ajudar. 

Mandei Thomas parar. Ele não parou. Ele não me escuta. Falou coisas feias para Sarah e depois foi embora. Foi embora e eu chamei pelo buraquinho. 

– Sarah! – Ela tá encolhida do lado da cama. Chorando. Chorando e suja de sangue. Está com o rosto vermelho. Ele bateu nela. – Irmãzinha?

Ela ouviu eu. Ouviu e virou de costas. Ela não quer falar com eu... Não quer falar agora. Não tem problema. Tomaz espera... Ela sabe que somos dois. Ela sabe que ele e eu somos diferentes. Tem que saber! Ela sabe, não sabe?

Ficou a noite toda quietinha chorando. Tomaz não dormiu. Não dormiu. Nem depois dos remédios. A minha porta ficou aberta de madrugada. Ficou, mas de Sarah ficou fechada, eu fui ver. Ele fechou ela lá dentro. Eu não consegui abrir a  porta. Só os enfermeiros sabem abrir. Voltei pro cantinho. Voltei e fiquei olhando a minha irmãzinha. Ele voltou. Thomas está lá. Abraçado nela. Abraçado! Fui para a porta e bati. Bati com força e escutei ela chorando mais. Ela está chorando por culpa dele. Ele a abraça. Ele a machucou!

– Deixa a Sarah em paz, deixa! – Olhei por baixo da porta. Ele está igual a eu! Igual! Eu preciso ficar diferente. Diferente. 

Achei uns fios. Uns fios que ligam alguma coisa. Eu puxei. Eles estavam no teto. Eu subi pela porta para pegar. Foi difícil. Eu puxei e não deu choque. Que bom! Dentro tem uns cabos, eu ja usei em casa. Tem uns cabos de cobre. Eu quebrei eles. Quebrei e peguei eles com força.

Eu não sou o Thomas! Irmãzinha pode achar que fui eu! Não fui eu! Eu queria ajudar, ajudar anjinha. Eu queria mas não dava!! Não consegui. Ela esta machucada. Machucada e triste com eu. Mas não somos iguais! Não somos! 

O cobre passa no meu braço. Abre devagar. Marca devagar. Esse é meu corpo. Meu corpo e não o corpo dele! Eu tenho um machucado no braço. Eu tenho dois machucados no braço. Eu tenho muitos machucados. Eu também estou sujo agora. Sujo de sangue igual minha Sarah. O Tomaz está marcado. Esse braço é do Tomaz. Esse corpo é do Tomaz. Meu corpo. Meu. Não é dele, é meu!!

Mais machucado. Dói! Dói pra fazer. Dói mas vai me deixar diferente. Eu quero ser diferente. 

Me viram. Me viram me cortando. Me machucando. Tiraram o fio de mim. Puxaram da minha mão. Tiraram e me prenderam na cama. Deram injeção. Eu não posso ficar preso!! Não posso dormir! Eu preciso proteger minha anjinha do céu. Preciso proteger ela do Thomas. Preciso abraçar ela! Ela estava triste. 

– Me solta!! Ela está triste! Ele fez ela chorar. Thomas machucou ela! – Eles não sabiam. Se olharam. Olharam e me deixaram preso. Preso na cama eles foram ver Irmãzinha. Eles foram. Ela gritou. Eu ouvi ela gritar. Levaram ela. Levaram ela. 

Olha anjinha!! Eu tenho machucado!! Eu não sou ele! Não sou não!! Eu vi. Eu vi puxando ela pelo corredor. Ela não queria ir. Eles puxaram. Ela não voltou.  Não voltou e eu com sono. Meu braço ainda está machucado. Estava quase dormindo quando eles voltaram falando.

 Quem diria, hein? Esse retardadinho fez um estrago na menina. 

Eu? Não foi eu!! Não foi! Foi o Thomas! Somos diferentes! Eu tenho machucado! Ele não. Ele machucou a Anjinha! Eu não machuco a anjinha. Eu queria ajudar.

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