Minha Menininha.

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Thiago Saether

A louca fez exatamente o que eu queria. Claro que ia gritar e falar sozinha com as suas milhares de vozes. Está sem medicação já tem alguns dias e eu não podia perder a oportunidade de te-la aqui comigo para sempre. É divertido vê-la gritar, chorar, espernear. Não posso negar que seu pânico é completamente intrigante e desafiador e... Não posso negar que o dinheiro de seus pais me faz muito bem.

Conduzi os pais da menina para um lugar mais agradável; o pequeno jardim que alguns médicos faziam questão de cuidar para tentar manter um pingo de civilização neste lugar. Pela primeira vez os agradeci mentalmente. Os pais dela sentaram-se em minha frente em uma mesa branca de metal pesado. Apoiei na mesa meus braços aguardando que a Sra. Casten se recompusesse do choro que lhe tinha vindo em cascata ao sair de minha sala. O marido a abraçou e ficou próximo enquanto me olhava. Ele é forte. De certo vai decidir corretamente. 

– Doutor... Ela parece pior! – Disse o homem afagando sua esposa nos braços.

– Isso tem relação com a condição clínica da Sarah. Antigamente chamavam de Demência Precoce, agora de acordo com os estudos identificamos como hebefrenia. Não tem cura e a degradação é gradual. Já tentamos de tudo que é recomendado para estes casos, até mesmo eletroconvulsoterapia. Ela continua delirando sobre diversas situações. Pensa que todos a perseguem, que homens a fazem mal... Bom... Situações completamente inconcebíveis em nossa realidade de instituição. Avaliamos que ela não tem chances de sair daqui. Seria um risco para ela, para vocês e para a criança que está a caminho. Não sei como ela reagiria a outro irmão. As vozes são muito invasivas, dão ordens a ela! Se ordenar que venha a ferir a criança que vocês carregam... 

O casal imediatamente leva as mãos até a barriga da mulher e juntos realizam ali um breve carinho. Estão preocupados, eu vejo que estão. Tão preocupados que fariam de tudo para proteger o futuro do "monstro" chamado Sarah Casten.

– Eu sei que vocês estão cuidando bem dela, doutor... Mas... Estou com medo de perder minha menininha para sempre. – Disse a mãe ainda em prantos. Toquei sua mão com compreensão e abaixei meu olhar rapidamente.

 Sua menininha morreu ao abrir o primeiro surto. Agora ela é um risco. Uma criatura que escuta vozes e pode atacar a qualquer momento, como já fez com um de seus médicos. – Palavras duras, mas com um tom de cuidado costumam tocar a preocupação deles com o futuro. Quero os assustar, tocar em pontos traumáticos é a primeira e mais eficaz maneira de faze-los reféns de minhas vontades. Sarah será nossa. – Ela é perigosa e precisa ser cuidada aqui dentro. Não podemos arriscar a segurança de outra criança.

O homem balança a cabeça em positivo e limpa o rosto da mulher, sussurrando algo que não consegui ouvir. Ela concorda com a cabeça após pensar um pouco e ele dirige o olhar para mim.

– Onde assinamos? Não podemos correr este risco. – Pergunta o homem, que segurava firmemente as mãos da sua mulher.

– Trarei o termo quanto a Sarah e quanto a criança que ela carrega em seu ventre. Iremos prestar os cuidados necessários. Sobre a quantia, não se preocupem. Irei direcionar o pagamento até a residência de vocês. – Busquei em minha pasta o termo já preparado e deixei em cima da mesa para que pudessem assinar e logo entreguei uma de minhas belas canetas.

O homem assinou imediatamente, mas a mulher ainda me olhava. Olhava para o papel e para a caneta, como se não quisesse fazê-lo. Então, levanta o olhar até mim. Seus olhos inchados pelo choro incessante me examinavam.

– Jure cuidar bem da minha menininha.

Island AsylumWhere stories live. Discover now