Dois covardes.

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Jonas Bencke

Traído. Fui traído. Vou aprender que preciso ser sozinho. Eu preciso ser sozinho. Ele me entregou. Agora voltei para a sala branca. Sala branca que enlouquece. Não vejo meu amigo enfermeiro a alguns dias. Onde ele foi parar? Eu? Preso. Camisa de força, apertada demais. Fucinheira. 

– VOCÊS NÃO VÃO ME DOMAR PARA SEMPRE!! 

Fez eco. Ninguém vai ouvir. Não vão ouvir. Quero ser livre. Quero a rua. Todas elas são lindas. Lindas. Lindas com o cheiro do sangue mais doce. 

Sangue quente igual eu deixei o Traidor tomar. Tomou o sangue que era meu. Como eu ia saber que ele era traidor?! Eu devia saber. Devia saber!! Sempre são. Traidor.

Nunca são como Phelipe. Não existe outro. Não existe mais ninguém. Eu vou embora. Eu vou embora sozinho. Não preciso dele. Não preciso. Os barcos estão a leste. 

Ele me disse. Por que ele disse? Por que disse se não vai?! Ele disse. Eu vou sair. Vou sair daqui. 

Chutei a porta. Chutei. Chutei. Ela não abre. Chutei. Ela vai abrir. Chutei. Essa sala não fica na ala masculina. Chutei. Vou comer antes de ir. Chutei. Está abrindo. Chutei. Quebrei. Saí sem pressa. Estou preso mas mesmo assim eles tem medo de mim. Tinham dois. Dois enfermeiros. Não vieram. Eles não vieram, mas o Thiago apareceu. Ele e seu cachorrinho predileto: Erick.

Thiago sim. Veio me buscar pela camisa de força. Ele não tem medo. Ele também é forte. Ele me prende na coisinha da parede para que eu não saia. Prende e da um jeito de abrir parte da camisa de força. Abriu e me deixou ver minha tatuagem. Ao menos a do ombro. Sou eu. Pediu alguma coisa para o enfermeiro que eu não consegui ouvir. Fiquei olhando minhas marcas. Contando. São as minhas? Um, dois, tres, quatro... São minhas. Ele voltou. Chegou perto. Um ralador. Pra que um ralador? 

– Você voltou a atacar no meu hospital, Bencke?! Lembra o que eu te prometi antes que você fugisse? –  Ele chegou perto. Perto e sussurrou no meu ouvido. – Que eu ia tirar essas marcas nem se fosse com um ralador. 

Ele passa pela primeira vez e eu grito. Esse babaca está ralando o meu braço!! Minha tatuagem!! Minha tatuagem!! Está sangrando!! Esfregando. Esfregando com força para tirar minha pele, minha carne, minha marca!! Para de passar isso em mim!! Não adianta me mexer. Não consigo!! 

 SEU BABACA!! PARA COM ISSO!  É O MEU CORPO?! MEU CORPO!!! 

– É o meu hospital que você suja de sangue. Da outra vez eu estava chegando e fui um cara bacana. Agora eu juro. Você não vai sair do meu inferno. – Ainda esfregava o negócio em mim. Os pedaços de pele se soltavam. Isso dói. Dói! Meu sangue escorria, mas decidi não dar a ele meus gritos. Forcei meu maxilar ao máximo não vou gritar. Não vou. Ele olha feio quando parei de gritar e o encarei. 

– Eu sou louco. "Loucos não sentem." – Eu odeio aquele isqueiro. Um dia vou enfia-lo aceso no cu de Griffin. Ele entregou para Thiago.

Esquentou a merda do ralador. Esquentou e queimou meu braço. Esses merdas covardes... Só fazem porque não posso me defender. Mordi minha língua. Mordi para sentir o gosto. Um pouco do ferro. Um pouco do meu doce e quente. Gosto do Traidor. Merda de traidor que estragou meu sangue!

– Boa recuperação, Bencke. – Ele da um tapa no meu braço aberto e me tira da sala branca. Empurrando-me com raiva. Não conseguiu me causar tanta dor quanto tinha imaginado. Sou jogado na sala de contenção. 

Um cubículo. Preciso ficar encolhido para caber. Só abre por fora. Camisa de força. Fucinheira. Quero me esticar!! Empurro a parede. Está me esmagando! Diminui. Aaaaaa!! Me deixa respirar!! 

Estou suando. Meu braço dói. Sangra. Queima. Dor nas costas. Preciso sair. Quero respirar. Está quente. Estou preso. Me deixa sair dessa merda!! Nem me mexer eu consigo! Não consigo! 

Derrotado. Derrotado por hora. Eu vou sair um dia. Eu vou! Vou sair.

Island AsylumWhere stories live. Discover now