Moço de gravata e terno.

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Sarah Casten

Um monte de dias. Um monte de dias que Tomaz fala pouquinho. O tum-tum dele é fraquinho. Não fui mais ver herói. Irmãozinho precisa de eu. Eu aqui. Herói tem gente lá pra cuidar. Sarah não sai do quarto mais. Fica quietinha. Só toma banho ali fora. É quando vem os enfermeiros lavar irmãozinho. 

Eu voltou depois do banho e irmãozinho tava sentadinho. Feliz feliz! Ele tá sentadinho! Eu corre e abraça ele. Abraça forte. Ta acordado! 

– Irmãozinho! – Eu dá beijinho no rosto. 

– Anjinha do céu. – Ele faz carinho em eu. Ele tá magrinho. Come pouco. Fraquinho. Queria dar força pra ele, mas Sarah não sabe fazer... Só dá comida.

Chega o nosso pãozinho. Nosso café com leite. Café com leite esquisito. Cheiro ruim. Irmãozinho comeu. Eca! Eca! Enjoada! Eca! 

– Sarah, bebe um pouco. – enfermeiro manda. Manda e Sarah obedece. Obedece sim. Obedece horrível! Sarah enjoada! Enjoada e vomita no chão. Eca! Ruim ruim!  Eu limpa a língua! Eca! Enfermeiro fica olhando e eu limpa a boca. Sobe na cama de irmãozinho e encosta devagarzinho. Eu estica a mão pra pegar o remédio, mas o moço dá só de Tomaz. Por que não dá o meu?

– Eu, moço. – Eu pede o remédio esticando a mão pra ele e ele nega com a cabeça. Não tem remédio pra Sarah?

– O Dr. Griffin suspendeu seu remédio da manhã. – Ele explica e vai embora suspendeu? Suspendeu agora que Sarah  tá ouvindo pouquinho. Sarah curou? Moço torto vai devolver eu pra família?! Vai chamar mamãe e papai? 

Eu vai pedir pra levar irmãozinho. Ele é bonzinho, pode ficar no quarto com Sarah. Vai ficar lá no meu quartinho. Eu não vai machucar Irmãozinho dessa vez.

– Anjinha ta melhor? – Ele pergunta. O enfermeiro já foi embora. Foi embora sem dar remédio.

– Tá... hummm... Só enjoou. O braço de irmãozinho ta melhor? – Ele mostra. Ta menos feio, mas tá inchado. Será que um dia volta pro lugar? Ta vermelho... Tem um bucaco pretinho...

A porta abre de novo. Nunca abre de novo. É um moço arrumado. De gravata e de terno. Ele vem na Sarah e puxa eu pelo braço.

– Hora do tratamento, mocinha. – Ele fala rindo, fala mau! Sarah não gosta. Não gosta dele.

– Não machuca ela não!! – Irmãozinho até falou alto. O moço deixou meu braço vermelho de apertar e levou eu assim mesmo.

 Sarah volta, irmãozinho! – Eu gritou. Gritou pra irmãozinho ouvir. – Eu promete que volta!  

O moço arrumado levou eu pra uma salinha. Salinha sem nada. Jogou eu lá dentro. Tem uma janelinha lá em cima. Não tem cama. Sarah deita no chão. Não entende.

– • Assassina. Sozinha. • – Sozinha, sozinha. Ainda tá claro. Tá de dia. Por que prenderam eu aqui sozinha?! Por que?! Não pode. Não pode não! Sarah não gosta de ficar sozinha. Eu tem que ficar com irmãozinho... Eu tem que cuidar dele... Tem que dar comidinha e ver se tá quente. Ele fica quente e vermelhinho as vezes.

– Bonequinha doente sozinha. – Moço mau fala, grita no ouvido de Sarah. Eu bate na porta. Bate com força. Tira eu daqui!! Tira!! Eu aranha a porta! Tira eu!! Bate na porta. Não ouvem eu. Não ouvem...

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