Um alvo.

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Jonas Bencke

Precisei de ajuda para sair desse lugar perturbador. Sequer conseguia lutar contra a fome. Minha barriga já se contorcia. Vinham me dar remédios e estômago mal suportava ele próprio. Meus gritos foram ignorados até a noite quando um de meus antigos conhecidos enfermeiros passa em frente a sala onde estou e resolve entrar. Ele tira a minha fucinheira e consigo sorrir com todos os dentes. Tirou a maldita camisa de força. Olhei minhas marcas. Lindas marcas. Passo a mão por elas e confiro a cicatriz do lado esquerdo de minha cabeça raspada. Ainda está ali. Conversamos sobre o ocorrido. Preciso fingir para ele. Que gosto do sangue em meus lábios. Ficarei solto e Adib vai pagar. Vai pagar por querer me dar choque, por me prender aqui.

– Eu preciso ir ao banheiro urgente. – Menti e foi o suficiente para que me acompanhasse ao banheiro. Ele é um pouco maior do que eu, talvez mais forte, mas a cabeça é um lugar frágil. Bati a nuca do meu amiguinho na parede e assim consegui o deixar tonto. Sei mais desse lugar do que qualquer funcionário. Corri pelos corredores em busca de uma sala específica que a essa hora da madrugada já estaria vazia. Arrombei a porta com um belo chute. Sou forte. Preciso ser rápido.

Adib Jatene. Caixa de requisições. Encontrei a minha. Eu não vou tomar choque. De novo não! Troquei os nomes. O encaminhamento em cima da mesa serviria de modelo. 

Não é difícil imitar a letra de um médico. Nem assinatura. O carimbo fica dentro da gaveta. Perfeito. Deixei os documentos em um lugar seguro e revirei a sala. Quebrei o abajur, o quadro na parede. Mijei na cadeira dele. Sem sangue no chão, sem sangue nas paredes, sem minha assinatura.

Saí as pressas, passei pela cozinha e busquei algumas carnes e frutas. Adrenalina é deliciosamente viciante. Voltei para a salinha branca tão feia. Meu amigo de dois metros de altura olhava para mim irritado e fiz questão de mandar um beijinho. Ele me conhece, sabe que é difícil manter os combinados.

Estava com fome. – Meto a maçã na boca e me sento no chão enquanto olhava para ele. – , tá, tá... Desculpe pela nuca. Quer um pedaço?

Ofereço um pedaço enquanto mastigava sorrindo. Ele nega. Que falta de educação! Ele volta a me trancar aqui dentro, mas não preciso mais me preocupar. Aquele maldito vai pagar em breve. A bagunça em sua sala foi apenas um aviso do que farei com sua vida.

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