Pulseirinha.

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Tomaz Bellucci

Erick mandou não me soltarem. Não podem me soltar depois do que eu falei. Eu falei que ia machucar o médico. Não pode machucar o médico, mas ele é mau. Ele está junto do Thomas. Está junto? Era o Thomas? O Thomas vestido de Erick. Ele quer pegar minha anjinha do céu para ele. Quer que ela chore. Eu não gosta que ela chora. 

Vieram me dar comida. Comida e água com remédio. Não quero mais tomar remédio. Tenho que ficar forte para salvar minha anjinha. Salvar minha anjinha do Thomas. Fiquei quieto. Quieto o pensaram que dormi. Me soltaram. Me soltaram, mas ainda estava preso dentro do quarto. 

Anjinha está voltando. Está triste? Eu vi seu rosto de choro pela janelinha da porta. Fui para o cantinho que fiz o buraquinho para ajudar ela. Fiquei bem pertinho e falei no buraquinho da parede. 

– Ele machucou? – Perguntei para Sarah. Ela procurou minha voz e achou eu. Achou o furinho. Ela veio e sentou pertinho do furinho. Ela estava chorando. Chorando de dar soluços.

– O herói abandonou eu... Abandonou eu sozinha. – Quem é herói mesmo? Deve ser importante... Abraço com beijinho foi bom em mim ontem. Hoje ela precisa de abraço com beijinho, mas Tomaz não consegue ir lá. 

 Mas... Eu tô aqui. Eu não vou abandonar irmãzinha não. – Não pode abandonar não. Abandonar é triste igual quando falaram que eu era doente. Não sabiam que Thomas tinha roubado meu lugar.

– O-obrigada, Irmãozinho. M-mas... Foi culpa da Sarah. Eu tava com raiva por que ele mandou dar choque em eu... Raiva. Triste... Sarah não falou com ele. Ele abandonou eu, Tomaz... Abandonou e disse que não ia abandonar. Ele abandonou eu igual todo mundo. – Anjinha chora. Chora mais. Está triste. Triste demais... Queria ajudar. Ajudar para ficar feliz. Ver anjinha feliz é o que eu quero. Seu sorriso deve ser bonito. Eu não sabe direito o que fazer. Como deixar irmãzinha feliz? Pode dar um presente.

– Espera aí, anjinha. – Fui no colchão. Tem uns fiozinhos lá. Uns fiozinhos soltos que eu puxou e enrolou. Enrolou e deu nó na ponta. Coloquei os fiozinhos pelo furinho e dei presente para irmãzinha Sarah. – Anjinha... Você amarra no pulso para lembrar que eu não abandona você. 

Ela puxou e amarrou. Teve que segurar com a boca. Tava dificil de amarrar tremendo... Ela ainda ta chorando. Chorando e tremendo. Eu deixei Anjinha mais triste? Ela conseguiu. Demorou mas conseguiu. Amarrou no pulso e levantou. Onde ela vai? Foi na cama e puxou fiozinhos também e enrolou. Enrolou igualzinho eu e passou pelo buraquinho.

 Sarah também não abandona Irmãozinho. – O fiozinho da minha cama era azul com branco e o dela é vermelho desbotado. É bonito. Bonito e difícil amarrar. As mãos tremem em mim também. Ela treme mais. Choques fazem tremer. Eu não tomei choque, mas tomei remédio. 

Amarrei no pulso e fiquei ali perto do buraquinho esperando ela não ficar triste mais. Ela chora com as mãos no ouvido e Thomas seca suas lágrimas. Ela encosta nele para chorar. Ele é mau! Era para ser eu. Eu sou Irmãozinho. Sai de perto dela, Thomas! Ela é minha irmãzinha!

Fez barulho na porta do quarto dela. Fez barulho e ela correu para cama para não descobrirem nosso buraquinho. Fiquei ali quietinho olhando quando vi Thomas entrando no quarto dela.

Island AsylumWhere stories live. Discover now