Moço Amigo.

149 22 5
                                    

Sarah Casten

Herói dormiu encostado na cama de Sarah. Dormiu e teve pesadelo. Acordou com um pulo e tomei susto. Ele passou a mão no rosto, cobriu Sarah e deixou eu sozinha no quarto. Fingi que estou dormindo. Não quer atrapalhar. Já está de dia. O moço disse que viria de noite. Agora não é de noite, então ele não vem. Herói protegeu a Sarah do homem torto.

Dão remédio de gotinha. Chamam eu para tomar banho. Tomou banho e foi para comer depois. Os azulejos são azuis. Refeitório grande. Grande e com muita gente. Vou andando devagarzinho. Tinha pão! Pãozinho com manteiga! Sarah gosta. Gosta muito! Lembra café da manhã. Tem Nescau. Nescau no copo de plástico que esquenta a mãozinha de eu. 

Sentei numa mesa menos cheia. Eles comem feio. Comem de boca aberta. Babam no chão. Babam no pãozinho. Sarah ficou olhando para um dos moços. Por que ele treme tanto? Ele derruba o café. Derrubou e está com fome. Lambendo a mesa. Por que não ajudam? Sarah pode ajudar! 

Fui até a moça que dava café. Por que ela ignora os pedidos da Sarah?! Não é pra mim! É para ele! Ela não dá. Diz que não pode. Diz que é um por pessoa, mas ainda tem muito!

Volto para a mesa e divido meu Nescau com ele. Dei na boca do moço. Ele ia ficar com fome! Dei o pãozinho dele e Nescau para o moço amigo. 

– Obrigado. – Ele agradece. Agradece eu. Sarah ri pra ele e ele estica a mão suja para eu. Sarah aperta.

– Sarah. – Falei meu nome. Será que ele entende que é para falar o dele? Ele parece entender menos que eu. O cabelo dele é pretinho igual do irmãozinho. Olho é grande e castanho, mas tem o corpo machucado. Tadinho! Ele se machuca muito! Agora Sarah ve! 

Éééééé... – Será que está tentando lembrar o nome? Eu arregala os olhinhos para ele. Ajuda a lembrar? – Tomaz Bellucci. 

Ele consegue falar o nome e eu faz carinho na cabeça dele. Carinho devagarinho. Sarah não sabe fazer carinho. Ele gosta assim mesmo. Gosta com a boca cheia de pão que eu deu. 

– Você mora aqui? Aqui no inferno? – Ele abre os olhos e deixa bem grandes. Grandes arregalados. Ele não sabe que aqui é inferno? 

 Não sou demônio não! Nem você. Você anjinho. Eu não sou ele. Eu sou eu. Você é você? – Sarah não sabe entender o que ele fala, mas fica feliz. Ele chamou eu de anjinho. Anjinho do céu. 

 Anjinho do céu? Tomaz também é anjinho! Não brigou com eu. – Ele ri, mas olha para frente. Ué! Eu tô do seu lado, moço amigo! 

 Eu anjo, ele demônio. – Ele fica sério e eu dá a mão pra ele. Dá a mão pra ele ficar feliz e ele fica mesmo! Ele olha para a mão e fica com as bochechinhas vermelhas. 

Sarah come o seu pãozinho e meio copo de Nescau. Não é ruim. Não é. Irmãozinho gostava de Nescau quentinho de manhã. Sarah dividia com ele. Sarah cuidava bem do irmãozinho. Ele ria e abraçava a Sarah. Abraçava e Sarah esquentava ele. Eu era quentinha, eu tinha mamãe e papai e Irmãozinho. Eles deixavam a Sarah quentinha e agora só sente frio. Será que ficar triste dá frio? 

Island AsylumWhere stories live. Discover now