Olhos amarelos.

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Sarah Casten

Estava de noite. Sarah acordou com a cabeça doendo. Tem que tomar remédio. Enfermeira esperou. Esperou eu engolir, mas não engoliu. Ela saiu.

Tirei os remédios da boca. Vão quero tomar. Não vou! Fica dormindo! O moço disse que viria de noite. Ele vem de noite pra fazer coisa ruim com Sarah. Como vou me defender dormindo? 

Hora de deitar. Deitei na cama. Hoje está frio, o cobertor é bom quentinho. Lá fora faz barulho, barulho de trovão. Muito barulho e vento. A luz do relampago entra pela janelinha lá em cima do quarto de Sarah. A luz do quarto está acesa, mas é fraquinha. Fraquinha e amarela. 

Apagou! Por que a luz apagou? Está escuro. Sento na cama encolhidinha. Não gosta de escuro. Dá medo. Puxei a coberta com cheiro esquisito até meu rosto. Tudo escuro. Tem alguém no quarto. Eu sei que tem! Eu sinto. Estou tremendo. Não posso chamar ninguém ou ele vai ouvir. Ele vai ouvir e vir. 

– Está ali no canto. Olhe! – Ali! Ele está ali. No canto do quarto. Olhos brilhando. Olhos grandes brilhando em amarelo. Demônios tem olhos amarelos! Está me olhando. Sai moço! Moço? Moça! Sai moça! Tem cabelo grande! É moça! Não. Não tem. É sombra, é moço! Moço torto! Moço torto careca! Ele veio!   

Eu tenho medo. Medo. Não machuca, moço! Não passa a mão em mim de novo! Coração batendo forte. Ele vai me ver! Vai me ver. Encolhi os pezinhos. Ele está vindo. Vai me ver. Ele virou para mim. Por que virou para mim, moço?  Não me olha assim!! 

– Foge! Foge, covarde! – Corri. Corri e passei por ele. Está escuro! Ele me viu!  Puxa a porta! Puxa! Abre!? Não abre! Empurra! Abre?! Abre. A porta sempre esteve aberta? Saí do quarto. Ele veio atrás de mim. Sei que veio!!

Corri. Corredor escuro! Muito escuro! Empurrando as portas. Não vem atrás, por favor! Escuto seus passos. Sai!! Sai!! Ele está aqui! Está vindo! Eu vi! Ouvi! Ele está pertinho! Escuta os passos!

–  Ele vai pegar você e levar para o inferno. – Não! Não quero morrer!! Corri mais. Ele está chegando. Corre, Sarah. Corre! Escuro. Está escuro o chão! Escuro e mais frio.

Escada. Sarah sobe, o barulho estava ecoando! São os passos dele! Os passos!! Ele sobe as escadas atrás da Sarah. Ele sobe rápido! Quando eu olha para trás vê ele! Os olhos dele! As mãos dele! As mãos estão vindo, vindo me pegar!

– • Ele está chegando, assassina! • – Minhas pernas doem! Doem! Eu vi a sombra dele! Ainda está atrás de mim! Não respiro direito. Acabou a escada. Acabou! E agora? Agora acabou! Olha em volta. Olhou. Duas portas, duas! Uma não abre. Eu empurrou, tentou! Sarah ainda escuta a moça! Ela está chegando. Chegando para levar a Sarah para o inferno! Outra porta, puxa! Empurra! Sarah abriu rápido. 

É o telhado. Aqui está chovendo! Chovendo muito. Trovões! Aqui são altos!! Relâmpago! Raios caindo. O moço torto dos olhos amarelos não veio. Não veio atrás da Sarah. Ele deve ter medo de chuva. Está frio! Ventando! Na chuva Sarah molha o cabelo. 

Olha a pontinha do cabelo. Esta curtinho. Não era curtinho... Era tão bonito... Por que aqui tem que ficar feia? Sarah senta. Senta no chão. Não pode mais voltar. Não pode! Não pode voltar pro quentinho, não pode voltar pra casa. Não tem casa mais. Igual que o moço torto falou... Eles não querem mais a Sarah... Agora está sozinha. Sozinha para sempre na chuva.

– • Assassina! • – Não pode voltar porque matou irmãozinho... Irmãozinho morreu. Morreu por causa da Sarah... Por que Sarah tinha que ser tão má?

Frio. Está frio! Ventando. Mamãe não queria que Sarah ficasse na chuva. Ela dizia que pegava gripe. Sempre que tinha gripe mamãe cuidava de madrugada. Mamãe não vai vir cuidar dessa vez.

Susto! Outro trovão! É Deus falando comigo! Ele está bravo. Todo mundo está bravo. Ele está bravo comigo e chora. Chora porque irmãozinho não virou anjinho. Deus chora. O choro dele molha. Molha o cabelo curtinho da Sarah.

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