Ferro, quente, doce.

234 27 3
                                    

Jonas Bencke

Eu disse que conseguiria sair. Quase de noite encontrei o piso solto e busquei minha chave. Ingênuos. Moro aqui a anos, claro que tenho as chaves! Abri a porta e guardei novamente. Os corredores largos e frios continuam os mesmos, mesmo alguns meses depois.

Não esqueci da médica. Qual era mesmo o nome? Não importa. Eu vi o rosto. Apenas preciso do rosto. Ainda estou sujo. Não tem problema. O cheiro é seco, preciso de mais. Mais fresco.

Segui o caminho de volta para a sala da médica bonita. Muito bonita. Oi, moça! Onde você pensa que vai? Não precisei procurar. Tinha saído da sala e ao ver meu sorriso correu. Pediu socorro. Mal sabe ela o quão bem pedidos de socorro são ignorados por aqui. Corri atrás. Estou com fome. Ela vai ser meu jantar.

Correu para a ala errada. Nunca tem alguém que não esteja dopado por lá. Estou quase alcançando. Quase! Não adianta correr, eu vou jantar.

Ela tentou entrar na primeira porta. Trancada. Perdeu tempo. Estou chegando. Chegando bem rápido. Minhas pernas são grandes.

Errou de novo. Estava fechada. Eu ainda corro. Corro pra que? Esse corredor é fechado. Caminhei mesmo com gritos, ela viu a parede no final do corredor. Aposto que nunca tinha vindo pra cá. 

Sou muito mais forte e seu gosto é realmente delicioso. O braço foi um bom lugar para começar. Tão quente, doce, ferro. Apertei o pescoço. Fique quieta!! Segurei contra o chão. Você não vai a lugar nenhum!

Alguém gritou?! Quem?? Mandou eu parar. Outra moça! Outra acordada. Onde está? Procurei mas não vi. Volto a morder. Está ficando tão linda a médica morena!

Mordi nas costas! Ela não para de gritar. Apertei demais! Merda! Eu apertei demais de novo. O estalo foi seco. Ela parou de gritar. Vai esfriar!! Merda! Pescoço tem mais sangue. Muito sangue ainda! 

"Doce, quente, ferro. Enche a boca. Gosto quente. Sempre cheira como o ferro. Puro. Lindo. Doce. Quente."

A outra não para de gritar! Grite mais. Vou te encontrar. Procurei o barulho. Uma porta. Olhos azuis assustados, sardas. Uma abertura na porta de metal.

– Oi mocinha. É nova aqui? – Ela caiu pra trás. Medo! Adoro o cheiro do medo. Gargalhei. Ela voltou! Curiosa! Gosto de curiosas. Tento pegar. Meu braço entra pelo buraco da porta. Quero a loirinha. A portinha não parece tão pequena. Talvez eu consiga entrar. Tentei pegar. Tentei entrar! Maldita portinha pequena! Não consigo passar. Tentei passar! 

Senti me puxarem pela gola. Vi o babaca do Adib. Ele sempre me atrapalha!! Quero o gosto da loirinha. Tem sardas! Sardas e olhos azuis. O médico azedo bateu com minha cabeça na parede. Ele não conhece o doce. Não conhece o gosto metálico tão quente. Não senti a dor mas apaguei. Sangue quente na minha cabeça.

Island AsylumOnde as histórias ganham vida. Descobre agora