"Minha anjinha."

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Tomaz Bellucci

Eu não gosto de ficar preso. O Thomas me machuca quando me amarram. Machuca e fica rindo. Ele me mostra que ainda está solto. Ele deveria ficar preso, não eu. Foi ele quem colocou fogo no enfermeiro. Foi ele e não eu! Ele colocou fogo só por falarem o nome dele.

Eu tentei explicar. Gritei. Não ouviram! Nunca me escutam. Nunca entendem que não somos iguais. Ele é terrível. Eu não. Estão me prendendo. Ele já está ali. Ele quer me mostrar que, diferente de mim, não está preso. Ele é sádico. Ajudou o enfermeiro a apertar o nó. O nó me machuca os pulsos.

 ESTÁ MACHUCANDO!! – Nunca me ouvem. Nunca!! Gritei puxando os braços. Eu lutei, lutei mas perdi. Eu perdi. Thomas venceu. Eles conseguiram prender meus braços e agora iam para as pernas. Olho para a porta, para o cantinho. É a anjinha. A anjinha do céu. Ela me deu oi. Veio me salvar. Oi, anjinha! Você veio mesmo! 

Eles foram embora. Ela estava atrás da porta. Não viram. Trancaram a porta com ela aqui dentro. Nós três. 

– A culpa foi da Sarah... Eu enganou ele. – Ela veio me soltar engatinhando. Por que ela não levanta? Está tremendo. Sobe na cama fazendo força! Muita força mesmo! Sentou do meu lado para soltar meus braços. Ela tenta, tenta mas treme muito. Treme mais que eu. Suas mãozinhas não tem força. Não conseguiu mas ficou tentando. Ela não sabe soltar... Não sabe igual eu.

– Machucaram? – Perguntei e ela concordou. Apontou para cabeça. Cabecinha dela machucada. Queimada. Machucaram minha anjinha do céu!! Não pode machucar! Ela veio me salvar! Por que machucam quem é boa?

 Doeu... – Não chora, anjinha. Não chora. Eu choro também. Dói ver chorando. Ela deitou do lado. Desistiu de tentar soltar meu braço. Sinto que treme. Todo seu corpo geladinho treme. Deitou com a cabeça no meu ombro.

Ela não sabe... Não sabe que isso não deixa o Thomas vir me machucar amarrado. Ele não vai vir. Mesmo machucada, anjinha veio me salvar. Ela me salvou do outro eu. Não podiam ter machucado ela.

 Anjinha não é pra sentir dor! É boa para mim. Ajudou a comer, deu a mão. 

– Sarah ajuda... Ajuda Tomaz. Tomaz é bonzinho e não brigou com eu... Parece irmãozinho... Sarah tem saudades. – Ela não tem irmãozinho. Não tem não. Eu também não. O Thomas tem. Ele tem. Ele é ele. Eu não sou ele. Eu sou eu. Eu não tenho irmão. 

– Eu pode ser irmãozinho de anjinha. – Ela levantou a cabeça. Olhou pra mim com os olhinhos vermelhos de chorar e deu beijinho no rosto. Beijinho que deixou minhas bochechas vermelhas. 

– Papai brigava quando tinha beijinho, mas Sarah gosta. É errado? – Achavam que eu sou doente. Não pode encostar no doente... Só encostavam nele. Ele é saudável, ele tem família, eu não. Mas Sarah quis encostar no Tomaz. Em mim!

– Errado? Não sei. É bom. – Olhinhos de choro voltam a molhar o meu ombro. Ela é tão triste... Eu queria ajudar a não deixar anjinha triste. Chora tanto... 

 Pode dormir aqui? – Voz de choro da Sarah. Essa voz engasgasinha. Não queria que ela ficasse triste, nem que tremesse.  – No escuro ele falou que ia voltar. 

– Ele? – O Thomas fala com ela? – Ele fala com você? – Mas ninguém vê, só eu. Talvez anjinha tenha dom de ver ele também!! Por isso é minha anjinha. – Se esconde dele comigo.

Junto podemos deixar o Thomas longe. Ele não vai ser mau se eu estiver com ela. Ele não vai chegar perto. Thomas queimou ela? Não vai queimar ela. Eu não deixo! Eu to aqui, anjinha, vou ser seu irmãozinho.

– Ele é mau. Tomaz é bonzinho. – Ela sabe. Sabe sim. Sabe e fica quietinha para dormir. Dormir no ombro meu. Dormiu. Dormiu mesmo. Dormiu abracando eu. Thomas não me machucou. Ele não abraçou ela. Ela tava abraçada em mim. Ela me protegeu. Eu protegi ela também. 

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