"Oi, doutor."

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Adib Jatene

O filho da puta me medicou. Não consegui lutar, não pude bater ou correr atrás da Sarah. Tonto, fui levado sob escolta para o navio. O babaca ainda fez questão de acenar para mim a distância. A noção deturpada de crime aqui é foda. 

Mandei Saether para a puta que pariu e fui forçado a seguir meu rumo mesmo contra a minha vontade. Entrei no navio pelo final da tarde e levaram-me para o nível mais baixo, onde existiam as grades que me manteriam trancado. Malditas medicações, não pude resistir e entrei na minha cela. 

Novamente eu não cumpri com a minha promessa. Eu não protegi a Sarah, não consegui livra-la de tanto mal. Não consegui que ela fosse livre. Era minha promessa! Eu só queria que ela sorrisse. Ela não merece ficar trancada. CÉUS, ELA NÃO MERECE UM LUGAR DAQUELES!! É pior do que qualquer cadeia.

Sentei-me na cama e senti tudo rodar. Ainda estou grogue. Eu preciso me livrar da prisão para vir buscar minha princesa. Eu preciso voltar. Não sei como vou fazer isso... Não sei, mas preciso. Passei algumas horas deitado, acabei por dormir e tive alguns sonhos perturbadores, talvez efeito da medicação... 

Acordei de sopetão ao ouvir um barulho próximo e levantei a cabeça. A visão foi muito pior do que qualquer um de meus pesadelos. 

 Oi doutor. – Desejei apenas se tratar de um pesadelo. A figura a minha frente estava imunda de sangue. Roupas, rosto, mãos, dentes... Parece um demônio saído diretamente do inferno. Ele sorria para mim com alguns pedaços de carne grudados nos dentes.

As grades que nos separavam foram minha salvação. Ele veio em fúria contra mim, praticamente rosnava enquanto balançava a grade para me alcançar. 

– Foi você! Foi você quem me fez de idiota! – Ele tentava forçar o próprio corpo contra as grades para entrar. Levantei as pressas para ficar o mais longe dele possível. Está transtornado. Completamente louco. Bate nas grades fazendo o som ecoar pelo ambiente. 

– Jonas, o que você está fazendo aqui? 

O louco sorri novamente, mas logo volta a ficar sério. Às vezes eu me pergunto se ele ouve vozes.

– Indo embora, babaca. – Jonas Bencke passa as unhas nas grades com vontade fazendo um barulho totalmente irritante. Ele se diverte em me causar agonia. Esse é o pior tipo de louco. – Você tá com cara de dopado. Não aguenta as injeções que mandava me dar?! 

Bateu novamente nas grades. Temo se irão aguentar por muito tempo. Preciso acalma-lo ou de certo não conseguirei escapar com vida.

– Você veio sozinho? – Ele não me responde. Está andando de um lado para o outro. Está incomodado. Ele quer entrar, quer me matar! Pelo menos para isso, minhas antigas medicações faziam efeito. Ao menos medicado eu não sentia medo.

 Não gosto de companhia. – Ao menos me respondeu, mas seu olhar de ódio sobre mim faz meus pelos arrepiarem-se. – Demitido, Jatene? 

Soltei um pouco de ar dos meus pulmões e concordei com a cabeça.

– Eu vou voltar. – Disse eu determinado. Preciso voltar. Preciso buscar minha Sarah.

– Você não vai voltar. Você morre hoje, doutorzinho imbecil. – Ódio. Foi o que sua voz me passou e, puta merda, eu sei que ele pode me matar se bem quiser. Ele vai me matar, só precisa passar por uma grade, que para a força deste doente é como papel.

Eu estava trabalhando!! Não é pessoal! – Tento minimizar minhas ações, mas apenas o irrita mais. Bate na minha grade com força, usando as duas mãos. 

 FODA-SE! EU VOU TE MATAR. – Assim que me ameaça sai da sala onde estou muito determinado. Ele vai me matar! Merda! Definitivamente estou fudido... Não perco mais tempo, virei a cama e chutei um dos ferros até quebrar. Sorte minha que não é muito duro. 

Agora eu também quero sair desta prisão. Agora mais do que nunca. Tentei abrir o grande cadeado, mas não consegui.

Ouvi gritos. Ele está matando! Está matando de novo!! Merda! Joguei de volta o colchão fino por cima da cama quebrada e guardei meu bastão de ferro em um dos cantos mais escuros. Preciso usar isso contra Bencke.

Foram alguns longos minutos de agonia antes dos gritos cessarem. 

Eu preciso me proteger. Eu preciso voltar para buscar a Sarah... Eu preciso! Nem que para isso eu precise tirar o Jonas de uma vez por todas do meu caminho. O mundo não merece um perverso como ele.

Island AsylumWhere stories live. Discover now