Capítulo 25 - Família de mulheres malucas

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Jacob

Não sei a quanto tempo eu estava correndo, mas sabia que faziam muitas e muitas horas. Meus músculos começaram a protestar mas eu não conseguia parar, simplesmente precisava continuar correndo e fazia isso de forma automática e instintiva.

Seth havia parado de me seguir a alguma horas, e logo sua voz deixou de habitar minha cabeça com a distância crescente entre nós - e eu agradeci internamente por isso. O garoto só queria ajudar, mas estava sendo um pé no saco ao me estapear com pensamentos que eu não queria ouvir.

Vagamente tinha noção de estar indo para o norte, e não duvidava que talvez estivesse próximo a fronteira, tampouco ligava para a direção que estivesse seguindo desde que ficasse longe de problemas por algum tempo. Era uma confusão: ao mesmo tempo que queria ficar sozinho, a ideia de ter que conviver com meus pensamentos me causava náuseas. Eu bem sabia como minha cabeça me auto sabotava com uma frequência muito maior do que eu gostaria. Meus pensamentos me lembravam constantemente do que aconteceu enquanto eu apenas queria me entregar aos meus instintos e deixar o lobo tomar conta de mim.

Essa sensação de dor e perda me fez lembrar de quando recebi o convite de casamento de Bella. O que acontecia com as mulheres dessa família? Tinham algum fetiche em me fazer sofrer? Alguma profecia que me colocava nesse sofrimento de novo e de novo. Se carma realmente existe, devo estar pagando por vidas passadas nas quais eu fui um grande de um filho da puta.

Bufei ao ser invadido por mais lembranças e não reparei que estava soltando ganidos dolorosos.

Dentro de mim estava tudo tão oco, vazio. Eu estava vazio, completamente vazio. Que merda. QUE MERDA, JACOB! Por que eu falei tanta merda pra ela? Por que eu duvidei daquilo que a gente tinha passado? Estúpido!

Ela estava certa em ir embora. Eu sou um babaca. Um puta de um babaca.

Ela nem olhou pra trás, nem parou de correr quando ouviu meu uivo, meus passos atrás dos seus. Isso foi pior do que qualquer tapa na cara. Eu preferia que ela esmurrasse meu rosto até cansar, mas não ignorasse meu esforço assim. Bufei. Grande merda de esforço. Correr atrás dela depois da burrada feita. Humpf.

Eu entendia a decisão dela, de querer ir embora, de fugir de todos os problemas que seguem sua família como uma sombra. Até um lobisomem esses sanguessugas tiveram que enfrentar, pelo amor de Deus!

E agora ela está tão diferente, tão... vampira. E eu sou tão idiota que em vez de me afastar, só consegui ficar mais apaixonado por esse novo jeito sexy e selvagem dela. Parecia que ela estava mais mortal. Parecia não, Jacob, é exatamente isso. Vê-la lutando na clareira provou isso de todas as formas. Foi a cena mais apavorante e sensual que eu já havia presenciado dela. Ao mesmo tempo que todo o meu corpo temia que ela se machucasse, eu estava embasbacado com ela, com ela toda. Tamanha ferocidade, agilidade. Aqueles cabelos pareciam fogo enquanto dançavam ao seu redor, seus dentes a mostra deixavam bem claro que sim, ela era a vampira mais poderosa do mundo - mesmo sem ser totalmente vampira. Que paradoxo ridículo.

Que merda, eu tinha que manter a mente limpa pra conseguir respeitar a decisão dela, não pensar no quão sexy ela havia se tornado. Ok, vamos deixar o instinto animal tomar conta agora e deixar o homem metido em problemas de lado.

O lobo inspirou o ar profundamente e captando cheiro de cervos próximos a um riacho. Para ser sincero nem estava com fome, mas acho que caçar seria algo bom para ocupar a mente. Persegui o bando silenciosamente e abati os dois maiores do grupo. Comi preguiçosamente enquanto observava os pequenos animais ao meu redor.

Minha barriga havia ficado estufada a ponto de explodir depois de terminar minha refeição. Aproveitei que a noite estava caindo e procurei algum abrigo para descansar. Encontrei uma pequena caverna formada por pedras que rolaram do morro e me enfiei do espaço que me abrigava de forma confortável o suficiente.

Sonhei com ela, é claro. Ela corria para longe e eu a seguia. Corria, corria e ela ia desaparecendo, primeiro deixei de a enxergar, depois não sentia mais seus cheiro, e logo não sabia nem o que estava perseguindo. Acordei sobressaltado, sentindo o cheiro extremamente doce de vampiro no ar. Esse era inconfundível: Bella.

Saí da caverna arrastando meu corpo grande preguiçosamente e a encontrei sentada no seu topo, de pernas cruzadas em cima da pedra coberta de neve me olhando com olhos gentis.

- Bom dia. - Arremessou algumas roupas na minha direção e eu as peguei com a boca. - Por favor, não quero conversar com um lobo que só sabe bufar e revirar os olhos.

Suspirei profundamente e retornei a caverna para me transformar - a contragosto - e colocar as roupas que ela havia trazido. Antes que eu pudesse sair ela entrou e se encostou em um dos cantos.

- Como você está? - Perguntei com a voz mais rouca do que o habitual.

- Bem. - Deu uma pausa como se conversasse consigo mesma - Eu entendo a decisão dela de partir por um tempo, e confio nela. Vai ficar tudo bem. - Me espantei por perceber que ela acreditava em cada palavra que dizia. - E você?

Passei a mão pelos meus cabelos desgrenhados tentando não deixar o grito desesperado que estava preso dentro de mim sair. Ainda estava muito recente para ser tão compreensivo, mas Bella não precisava saber disso.

- Não vou atrás dela, se é o que quer saber. Não tenho outra opção a não ser aceitar que ela quis me deixar. - Respondi.

- Você está acreditando nas palavras que está dizendo, Jacob? Porque eu não estou. - Por que diabos ela precisava me conhecer tão bem? - Sabe que pode me falar a verdade, Jacob.

Se aproximou e pegou minhas mãos entre as suas carinhosamente. O contraste com sua pele fria e marmórea era extremamente desagradável, mas eu não seria capaz de afastar minha melhor amiga.

- Eu fui um babaca, Bella. Você sabe, você ouviu tudo. - Balancei a cabeça tentando me livrar da memória. - Não posso ir atrás dela, não tenho esse direito.

Seu rosto se transformou numa careta sem que ela percebesse, e se eu não estivesse tão na merda provavelmente teria achado engraçado.

- Eu entendo. Mas acredito que se isolar não seja a melhor opção, nem fingir que está tudo bem sem ela. - Minha vez de fazer careta para as palavras dela. - Sei que agora você não vai querer fazer isso, mas fala pra ela como você se sente, escreve uma mensagem ou e-mail se não quiser ligar. Deixa ela saber que você se importa, Jake.

Bufei.

- Ela sabe Bella. Eu uivei até minha garganta doer enquanto tentava ir atrás dela e mesmo assim ela se foi.

- Ela estava com raiva, você sabe. - Rebateu. Deu um suspiro e largou minhas mãos. - Hora de ir para casa, Jacob, já teve seu momento adolescente rebelde. Vá ver seu pai, seus amigos, cuidar do seu bando ou só ficar em casa jogando vídeo game, mas não vai ficar aqui.

- Bella... - Estava cansado demais para discutir.

- Como eu disse: vamos. Mexa esse seu traseiro peludo de volta para sua cabana. - Bateu o pé e colocou as mãos na cintura. Parecia Alice, só que menos fofa.

Suspirei e impulsionei meu corpo para frente, me transformando no animal com "traseiro peludo", já correndo na direção que havia sido ordenado, logo a vampira mandona estava ao meu lado brincando de apostar corrida. Família de mulheres malucas.

RenesmeeWhere stories live. Discover now