Capítulo 41 - Despedida

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     Escutei a buzina do lado de fora do SPA e já sabia que era Alice. Saí da recepção em direção ao carro e me esparramei no banco do carona.
     - Como foi hoje, noivinha? - Perguntou já acelerando em direção a casa.
     - Usaram aquelas pedras quentes maravilhosas que eu amo, me deixaram super relaxada. - Contei.
     - Ótimo, continue assim até amanhã, nada de estresse.
     - Senhora, sim senhora. - Bati continência arrancando uma pequena risada de sino dela. Olhei a paisagem pela janela do carro tentando focar em qualquer coisa que não fosse o casamento, mas era algo muito difícil.
     - Alice, já fizeram a entrega das flores? - Perguntei enquanto pensava em tudo que não deveria estar pensando.
     - Sim, estão lindas. O buffet deixará tudo de manhã mas eu já vou estar lá. - Me deu uma olhadela - Está tudo dando certo, não precisa se preocupar com isso.
      Concordei com um aceno tentando imaginar como ficaria tudo. Estaríamos correndo alguns riscos devido nossas ideias e tudo tinha que dar certo nos mínimos detalhes.
      Chegamos em casa e fomos recebidas já na garagem por Violet e Carmen, que me arrancaram do carro e me colocaram uma venda sobre os olhos. Desde que tinham chegado estavam super entusiasmadas com a ideia da despedida de solteira, então estavam levando isso muito a sério.
       - É mesmo necessário? - Perguntei enquanto era quase carregada pelas duas.
       - Absolutamente. Se reclamar será pior. - Violet avisou como se eu não fosse capaz de mudar a opinião dela em menos de dois segundos com meu dom.
       Depois de irmos para - o que eu imaginava ser - a sala, elas tiraram minha venda enquanto uma garrafa de champanhe era estourada em algum lugar do ambiente acompanhada de alguns gritinhos.
       A sala estava lotada de vampiras. Mamãe, Rose, Esme, Kate, Zafrina, Senna, Zachiri, Tia, - parceira de Benjamim -, Charlotte e Mary - amigas do Jasper -, a brasileira Theodora e a chilena Margarida, Maggie e Shioban -  do clã irlandês, que eram extremamente tímidas, fora Alice, Violet e Carmen  que estavam me acompanhando.
     Toda a casa estava lotada de decorações vermelhas, nas paredes, nas mesas, pétalas de rosas, cada detalhe era vermelho vivo - inclusive as comidas. Comidas que eu comeria sozinha por motivos óbvios.
      - Meu Deus, vocês realmente se empolgaram. - Comentei olhando para Violet e Alice que estavam felizes com a minha cara de aprovação e surpresa.
      - Querida, você não viu nada! Senta ai. - Alice já foi me empurrando para o sofá. - Que tal começarmos com os presentes?
       - Eu primeiro! - Violet se prontificou, me entregando um embrulho preto fosco e outro vermelho.
        Abri primeiro a caixa preta,  apoiei nas minhas pernas, retirei o enorme laço e levantei a tampa. Continha um espartilho preto com direito a cinta liga e meias. Era inegavelmente deslumbrante. E devo confessar que estava ansiosa para ver a reação de Jacob ao me encontrar vestida nele.
        - Agora abre a outra, abre. - Violet quase quicava no sofá ao meu lado e mal me deixou ver os detalhes do espartilho.
        Fiz o mesmo com a outra caixa que, para minha surpresa, continha um chicote de ponta triangular, algemas e uma venda.
       - E-eu não sabia que itens de sex shop estavam inclusos na lista de presentes. - Gaguejei claramente desajeitada e tímida. Minha mãe e minha avó estavam ali do lado, pelo amor de Deus.
       - Oh, essa foi uma ideia minha. - Tia Rose me deu uma piscadela e um sorriso, se deliciando com a minha falta de jeito. Antes que eu pudesse me manifestar ela empurrou a caixa que estava no meu colo para o sofá e colocou um dos seus presentes para que eu pudesse abrir.
      Era uma enorme quantidade de óleos e géis, peguei alguns frascos e suas descrições eram variadas. Alguns a prova d'água, alguns esfriavam, outros esquentavam e tinha até um que fazia os dois. Tinha também uma vela. Rose percebeu minha confusão ao vê-la.
      - Os humanos dizem que a sensação da vela derretendo na pele é... Diferente. Os óleos são comestíveis, então depois da massagem vocês podem aproveitar mais.
       Fiquei vermelha como um pimentão arrancando risada de todas na sala.
      - Sem timidez, criança. Sexo é uma parte importantíssima na imortalidade, seja aberta às descobertas. - Carmem disse enquanto me entregava uma taça de champanhe.
      - Vou testar. - Disse quase em um sussurro, aquilo estava sendo extremamente vergonhoso. Dei uma bebericada no champanhe antes de continuar.
       Para tentar resumir, Alice me deu uma camisola branca com meias e liga dizendo que era para usar na primeira noite, seu acessório de sex shop era - apenas - um vibrador que estimulava o clitóris e o ponto G ao mesmo tempo e o parceiro poderia fazer penetração enquanto eu estivesse com ele. Foi ali que eu decidi acabar com isso de abrir presentes e disse que ia conferir todos quando estivesse no quarto, escutei  reclamações da maioria delas. Tirando mamãe, que estava tão constrangida quanto eu.
      Eu pensei que a pior parte tinha acabado quando elas concordaram em passar para a próxima brincadeira, engano meu.
       Alguém ligou o som em uma música sensual e eis que Victor - sim, o inglês que agora era parceiro de Violet - entra na sala fantasiado com roupas de vampiro estilo Conde Drácula e simplismente começa a fazer Streep tease pra mim.
     - Mas o que... - A frase foi interrompida quando ele pousou seu dedo indicador nos meus lábios, me calando.
     - Relaxa gatinha, entra na brincadeira - Disse enquanto tirava a capa e a passava por meu pescoço com uma expressão sexy. Olhei em desespero para Violet que estava tendo uma crise de riso a poucos metros de mim. Não acredito que isso foi ideia dela. Traíra.
      E ele continuou. Ia tirando peça por peça, jogando por último a calça no meu colo, revelando que ele estava com uma cueca tipo tanga com desenho de presas. Foi impossível não cair na gargalhada, era ridiculamente engraçado mesmo que realmente ele soubesse dançar e fizesse um ótimo gogoboy. Todas o aplaudimos e ele saiu após fazer um agradecimento debochadamente elegante e recolher suas roupas.
      Antes que elas pudessem vir com outra brincadeira constrangedora pedi uma pausa para comer. Estava devorando um prato de macarrão a bolonhesa vendo Theodora tentando ensinar Rosalie e Violet a sambar.
Rose conseguia pegar os movimentos rapidamente, enquanto Theodora estava completamente fora do ritmo. Seria a primeira vampira desastrada da história?
Theodora dançava lindamente e acabei parando para olhá-la pela primeira vez, ja  que na ultima oportunidade eu estava muito concentrada em treinar para mayat Aro. Ela era deslumbrante. Morena como se estivesse sempre com o bronzeado em dia - mesmo sendo um pouco pálida devido ser uma vampira - e os cabelos castanhos escuros caiam em ondas até a cintura e balançavam lindamente quando ela mexia os quadris dançando.
     Enquanto admirava a beleza das mulheres da sala senti meu estômago se revirar, mas não era enjôo, era cólica. Deixei o prato na mesa de centro e levantei em direção ao banheiro pensando se tratar de uma dor de barriga. Sentei no vaso e para minha surpresa percebi minha calcinha manchada de sangue fresco, espesso e escuro.
    - Ness? - Mamãe chamou batendo na porta provavelmente sentindo o cheiro forte do sangue.
     - Acho que fiquei menstruada. - Falei enquanto me limpava e destranquei a porta para ela entrar.
     - Tem certeza? O cheiro é estranho. - Questionou com a voz diferente. Levantei o olhar para ver seu reflexo no espelho. Entendi na hora o que a  expressão dela sugeria e congelei com a possibilidade quando ela deu uma breve olhadela para minha barriga. Poderia estar grávida e estar perdendo o bebê? Eu realmente tinha tomado a injeção atrasada esse mês por conta da minha ida a Europa e meu sequestro. Eu e Jacob continuamos a ter relações sem proteção. Não era impossível, apenas difícil.
     - Chame Carlisle, mãe, por favor. Eu preciso dele agora. - Minha voz beirava o desespero e estava começando a ficar falha.
     Esperei sentada no vaso tentando não surtar. Estava um turbilhão de emoções dentro de mim e eu não sabia se isso era bom ou ruim.
     Não sei quanto tempo fiquei ali sentada sozinha, mas em algum momento Carlisle chegou e me tirou do banheiro segurando minha mão com toda a delicadeza característica dele. Na sala estavam apenas mamãe, Alice, Rose e Esme, que estavam retirando a decoração.
     Fui com vovô ao seu escritório, atravessando até o laboratório, onde ele me sentou na maca para falar comigo.
      - Vamos fazer uma ultrassonografia, ok? Sem nervosismo, é só um teste. - Informou me dando um roupão para que eu colocasse. Enquanto ele buscava e ajeitava os equipamentos eu me troquei atrás do biombo no canto da sala. Voltei e deitei na maca deixando meu ventre exposto para o exame.
    O gel gelado só me deixou mais nervosa. Eu me sentia fria como um cubo de gelo ao ponto dos meus dedos estarem dormentes. Quando o aparelho pressionou minha barriga eu olhei para o monitor tentando encontrar algo. E realmente encontrei.
     - Querida, nós temos algo aqui. - Apontou com o dedo uma manchinha do tamanho de um feijão.
     - Não está... vivo. - Constatei com um sussurro.
     - Não, não está. - Tirou o aparelho da minha barriga e virou para me olhar - Querida eu já imaginava que essa pudesse ser uma possível consequência de você ter tido nosso veneno em suas veias. Só não imaginava que pudéssemos comprovar isso tão cedo.
     Pisquei algumas vezes olhando para o teto tentando entender.
    - Eu não posso mais ter filhos, é isso? - Perguntei já sabendo a resposta. Incrivelmente a tristeza profunda que eu pensei que fosse me tomar não veio, eu estava dormente. A sensação era de conformismo. De qualquer forma eu nunca havia pensado na possibilidade de ter filhos e nem me imaginado como mãe, mas não poder é completamente diferente de não querer. Também estava triste por perder um filho meu com Jacob, era inevitável pensar como seria se essa criança tivesse nascido.
    - Não, querida. Apesar do veneno ter ficado pouco tempo tem seu organismo ele te afetou mais do que imaginávamos. Esse feto é completamente humano, seu útero é muito hostil para um embrião tão frágil, Nessie, ele não é capaz de se desenvolver.
   - Mas... Se fosse uma criança como eu. Metade vampira. Conseguiria? - Questionei. Estava preocupada com a reação de Jacob, não sabia se ele tinha vontade de ser pai. Não queria cortar todas as possibilidades assim.
     - Talvez. Não temos certeza se qualquer embrião poderia conseguir. Talvez sim, talvez pudesse ser metade lobo apenas, ou metade vampiro... Depende da combinação que ele terá querida, e isso nem Alice pode prever. - Carlisle respondeu. Assenti calmamente assimilando tudo.
     - E o embrião que está aqui dentro?
     - Acredito que seu corpo vai expelir ele em pouco tempo, não será necessário nenhum procedimento. O sangramento deve parar logo logo. - Me informou. - Precisa que eu chame alguém?
     - Jacob. Preciso falar com o Jacob.
     Carlisle assentiu e sumiu em um segundo. Aproveitei para me trocar e subir para o meu quarto, onde mamãe me esperava, é claro que ela tinha escutado tudo.
      - Como você está? - Perguntou quando eu deitei em seu colo.
      - Conformada. Fico triste por essa não ser uma opção para o nosso futuro mas ao mesmo tempo nunca sonhei em ter filhos. - Contei.
      - Querida, Carlisle não descartou por completo, só disse que seria difícil. Talvez com fertilização in vitro...
      - Não quero criar esperanças, mãe. Nem dar falsas ideias para Jacob. Seria muito difícil.

Ela suspirou e fez carinho em meus cabelos. Não demorou muito para Jacob chegar com cara de desespero.
      - Nessie! Está tudo bem? - Ajoelhou na cama ao meu lado - Carlisle ligou e estava com sua voz de médico que tem más notícias.
      - Vou deixar vocês a sós. - Mamãe tentou sair de fininho quando me sentei na cama.
      Vi Jacob gelar a ponto de perder a cor dos lábios.
      - Você desistiu do casamento. - Afirmou com a voz engasgada.
      - Não! Não é isso! Por favor não pense que é  isso. - Segurei suas mãos entre as minhas e me concentrei nelas para falar a próxima frase. - Mas acho que talvez você queira repensar se realmente quer casar comigo.
       Ele estava absurdamente confuso.
       - O quê? Ficou doida, Nessie? É claro que eu quero me casar com você, por que está falando isso? - Questionou com a voz quase indignada.
       Respirei fundo.
       - Eu sofri um aborto. - Larguei antes que perdesse a coragem.
       Ele gaguejou, olhou para minha barriga e depois para os meus olhos novamente.
       - Quando?
       - Hoje. - Fitei seu olhar que mesclava surpresa, tristeza, pena, perda e completei. - Carlisle disse que nossas partes compatíveis geraram uma criança humana. Só que meu útero é muito hostil agora que tive contato com o veneno do pai de Nahuel. O embrião não aguentou. Ele não sabe se algum dia algum poderá aguentar.
      Dava pra ver as engrenagens da sua cabeça funcionando, se forçando a assimilar cada palavra.
      - Desculpa. - Sussurrei abaixando a cabeça.
      - Meu amor isso não é culpa sua. Talvez não tenha a ver com o veneno e sim pelo fato de sermos espécies incompatíveis. - Segurou meu rosto em suas mãos. - Sabíamos que nada seria fácil para nós, e mesmo assim estamos juntos.
       - Você não está chateado? - Perguntei.
       - Sim, estou. Perdemos um bebê que nem sabiamos que existia, claro que estou chateado. Mas não é com você, é com a situação. Não imagino o que você deve estar sentindo e sei que não deve ser fácil, e eu sinto muito por isso. Mas Ness, eu vou estar aqui pra você. Sempre. Nós vamos ao altar juntos amanhã para prometer isso um para o outro, que nos amamos independente das circunstâncias.
     Deixei as lágrimas presas finalmente caírem e me agarrei a ele com todas as minhas forças. Chorei abraçada ao seu pescoço deixando a confusão dentro de mim fluir para fora por meio das lágrimas.
      - Eu te amo. - Disse em meio às lágrimas.
      - Eu te amo, Ness. - Se afastou para dar um beijinho na ponta do meu nariz e enxugar meu rosto. - Está mais calma?
      Assenti.
      - Eu só precisava colocar para fora. - Disse.
      - Já que nossas despedidas de solteiro não deram muito certo - ele fez uma careta provavelmente com uma lembrança e me deixou extremamente curiosa, mas me contive - acho melhor irmos descansar para amanhã.
     Concordei com ele.
     - Vou indo antes que Alice venha pessoalmente me expulsar, ok? Te encontro no altar. - Me deu um beijo.
     - Até o altar. - Me despedi enquanto ele passava pela porta indo embora.
     Respirei fundo e subi na cama me enroscando em meus travesseiros. Senti uma calma me atingir e tive certeza que Alice chamou Jasper de volta. Enviei um "obrigada" assim que senti sua mente por perto e deixei a leveza e cansaço emocional me direcionarem para um sono pesado e sem sonhos, tentando restaurar todas as moléculas dentro de mim.
            
      

RenesmeeWhere stories live. Discover now