C.P 38

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Benna

Depois de tanto tempo assistindo, uma idéia surgiu em sua cabeça. Sua felicidade era tanta, que resolveu fazer uma das coisas que mais amava.

Caminhou até a cozinha com o pacote de salgadinhos vazio nas mãos. Jogou-o no lixo e lavou as mãos. Prendeu os cabelos longos e abriu o armário.

Pegou um pote de chocolate em pó e dois leites condensados. Abriu a geladeira e pegou um pote de manteiga e uma caixa de leite.

Abriu o armário debaixo da pia e não deixou o fato de que não tinha o que queria à abalar. Faria aquilo no prato mesmo. Comer com colher era sempre mais saboroso.

Então pegou apenas uma chaleira média e acendeu o fogo do fogão. Colocou seis colheres de chocolate em pó e duas de manteiga. Além de a metade de um copo de leite.

Suas mãos apertavam o cabo da colher com força e o calor por estar tão perto do fogão fez escorrer uma gota de suor de sua testa. Essa era a parte que menos gostava quando fazia aquilo. O calor era insuportável.

Longos minutos depois, sem parar de mecher um segundo sequer, Benna havia terminado seu tão adorado doce.

Derramou-o ainda quente em um prato fundo e o colocou na geladeira. Ansiosa para que estivesse bom para comer logo.

Se dirigiu até o quarto onde estava dormindo e tomou um banho longo e morno. Usou a mesma toalha do dia anterior e vestiu um pequeno shorts preto e uma regata branca. Não sabia de onde haviam saído aquelas roupas, mas não questionária. Não mesmo.

Benna saiu do banheiro e um pequeno sorriso se ergueu no canto de sua boca quando sentiu o cheiro doce no ar.

O cheiro havia inundado a casa toda.

Ela foi até a cozinha depois que terminou de pentear seus cabelos escuros e pegou o doce da geladeira.

Pegou uma colher da pia e encheu a boca com vontade. Seus olhos se fecharam automaticamente e ela apreciou o gosto tão saboroso.

Ele à observava. Franziu as sobrancelhas quando viu o prato com uma coisa marrom em sua frente, mas não se importou em saber o que era, apenas a observou comer tão deliciosamente.

Quando ela abriu os olhos, o susto foi incontrolável assim que o viu encostado no vão da porta da cozinha. Os braços cobertos por uma blusa cumprida preta e cruzados em frente ao peito músculoso.

- Está aí a muito tempo? - perguntou, chocada com a aparição tão silênciosa e repentina. Não o via desde o dia anterior.

Ele maneou a cabeça e caminhou até ela.

- Que porra é essa? - ele perguntou, olhando para o prato em cima da mesa.

Benna revirou os olhos por causa do seu vocabulário feio e respirou fundo antes de falar.

- Brigadeiro.

Ele analisou o doce com atenção e franziu o cenho.

- E que merda é essa? - ele perguntou,  se referindo à palavra desconhecia.

- Um doce típico do Brasil. - ela respondeu,  enchendo a colher novamente e a estendendo para ele. Ele fez cara feia e negou com a cabeça.

- Eu não vou comer esse negocio estranho! - falou, exasperado.

Benna deu de ombros e comeu o doce da colher. 

- Tudo bem. Sobra mais para mim. - ela falou com a boca cheia. 

Ele ficou a encarando se deliciar com o doce completamente desconhecido e surgiu uma saliva em sua boca. O cheiro pelo menos era agradável. Então,  sem mais conseguir se conter, ele puxou a colher da mão dela e enfiou o doce na boca.

Ela sorriu, vitoriosa.

- Isso é bom pra porra. - ele falou com a boca cheia,  assim como ela havia feito.

- Que nojo! - ela disse,  fazendo careta.

Ele arqueou as sobrancelhas e olhou para ela. Confuso, pois ela havia feito exatamente a mesma coisa.

Mas ignorou tal constatação e encheu a colher novamente.

- Hey! Assim não sobra pra mim. - ela falou exasperada. A surpresa no rosto dele foi imediata quando ela puxou-lhe a colher e encheu a boca.

Ele ficou irritado. Mas não ia perder a oportunidade de comer aquele negocio. Então foi até a pia, pegou outra colher e comeu mais uma vez.

Longos minutos depois, com os dois apenas comendo o doce e apreciando o gosto, ele se pronunciou:

- Você está diferente. - sua voz saiu baixa, e ele parou de comer.

Ela o encarou com confusão estampada no rosto e só falou quando engoliu o brigadeiro.

- Como assim?

Ele ficou longos segundos em silêncio. Ponderando se deveria falar ou não. Mas não demorou mais que três minutos para falar.

- Ontem você simplismente me ignorou enquanto preparava o jantar e hoje está com o semblante diferente...

Ele a observou com intensidade,  como se quisesse ler seus pensamentos e enxergar sua alma. Benna se sentiu invadida. Mas não protestou.

- Alegre, talvez... - ele sussurrou, ainda a encarando daquele modo, que a fazia ficar com as pernas moles e se sentir praticamente despida em sua frente.

Benna pigarreou e se remexeu desconfortável na cadeira.

- Estão me procurando. - ela deixou escapar. E para sua infelicidade, a empolgação em sua voz foi evidente.

Ela não conseguiu ver a mandíbula dele travada, mas soube sua mudança de humor por conta dos nós dos dedos que ficaram embranquecidos, apertando com força o cabo da colher.

Longos minutos depois, com o silêncio perturbador na cozinha e os dois apenas se olhando, ele suavizou sua face e colocou a colher em cima da mesa.

- Não vão achar você. - ele disse com convicção. O que fez Benna quase acreditar em suas palavras. Quase.

- Por que diz isso com tanta certeza? - ela perguntou, claramente irritada.

- Por que onde estamos nem mesmo a Cia me achou, quem dera a polícia federal achar você... - ele falou com ainda mais convicção, a ironia claramente em sua voz.

- A Cia? - ela perguntou, curiosa, ignorando o resto das coisas que ele havia falado.

Ele se amaldiçoou mentalmente por ter citado o que tanto desprezava em voz alta. Não deveria ter citado a Cia, não deveria!

Então levantou com brutalidade da cadeira e saiu apressadamente da cozinha.

Deixando Benna completamente intrigada com tal citação e confusa com a reação dele à sua pergunta. Muito confusa.

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Obrigada por ler.

Um Piscicopata Apaixonado 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora